Nelson em outdoors

1.12.12 Joarez 1 Comentarios


De mais a mais, veja bem, peso o todo. Voltando: eu gostei do "oba-oba" feito em homenagem a Nelson Rodrigues nesse ano de 2012, ano de seu centenário. Eu gostei, grande coisa, ora bolas, como se meu juízo de valor fosse lá grande coisa. O que Nelson, por exemplo, pensaria disso? Sim, Nelson, ele próprio, o que diria disso? Nelson, acredite, era um chato completo. Existem os chatos banais, que são aqueles que, por sua própria chatice fosca, passam despercebidos. Nelson era chato e sabia expressar sua chatice. Por isso cutucava todo mundo. Por isso desagradava a todos. Daí que, num momento como esse, onde ele é venerado, ovacionado, colocado por alguns até no mesmo patamar que o dramaturgo-mór do Ocidente, William Shakespeare, ele, com sua lentidão bovina, diria: "A unanimidade é burra." Vixe! Que cabra cabuloso. Como diria vovó: - um tapa sem mão. Mas aí é que reside a maravilha desse 2012. Eu acordava e tropeçava numa frase de Nelson Rodrigues: era uma atualização no facebook aqui, uma matéria de jornal impresso ali, uma ocupação alhures, uma homenagem de um cronista acolá. Pra quem, como eu, cresceu ser  ter um Nelson batendo à porta todos os dias num jornal, isso sim é grande coisa. Quando vejo mais uma denúncia de corrupção em Brasília, sou tomado de assalto por uma frase de Nelson: "Lá todos são inocentes e todos são cúmplices".Quando, por outra, vejo um piadista na esquina dizendo que, por ocasião da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas em 2016, a presidente Dilma vai "imprensar" 2015, lembro dele de novo:"O brasileiro é um feriado". Se na televisão se perdem discutindo, com direito a tira-teima digital, se foi ou não impedimento, é ainda a ele que recorro: "Qualquer clássico ou qualquer pelada tem uma aura." Será que eles não percebem? A vontade que tenho é de levantar e gritar para a televisão:" Ei, porra, futebol é mais do que insignificâncias que vocês estão discutindo" É ótimo esbarrar sempre com Nelson por que ele é profeta, e o é justamente porque enxerga o óbvio: aquilo que por ser latente, ninguém percebe, ninguém nota, ninguém dá a mínima. Sabes a quem, caro leitor, se credita essa constatação? Danou-se, Nelson de novo. Desculpe, amigo, como eu sou previsível! Juro que não faço isso deliberadamente. Não sou eu que sou obcecado por Nelson, antes o inverso: é ele que me persegue. Não posso fugir. E sendo assim, fiquemos por aqui, leitor, por que eu já tomei demais seu tempo, e a vida não permite espaço para redundâncias. Até mais.

Um comentário:

  1. Calango Albino05/12/2012, 14:13

    Grande Nelson! Esse, realmente, meu caro Prosador, bem que poderia estar mais presente no nosso cotidiano, para além do seu centenário.
    Seria, como se diz, porreta, danado de bom! Principalmente em tempos de Coelhos com delírios de Joyce e de ruas e pessoas de apenas 50 tons.
    Abraço.

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