Causos 1: A botija

22.6.10 Foi Hoje! 3 Comentarios


No meio do agreste, numa enorme pedra que fica ao lado da pedra do bode, estava a botija. Eu sou um cara racional e não acredito nestas crendices populares, mas o sujeito que era meu guia acreditava e já há algum tempo batia com um martelinho naquela parte específica e afirmava “aqui tem uma botija”. Naquele dia levou um martelo maior. Este sujeito era das redondezas, uma área rural. Enquanto eu batia as fotos de uma antiga pintura na parede da pedra, feita Deus sabe quando e por quem e que nunca me serviu de porra nenhuma para meu trabalho da faculdade, o sujeito batia com o martelão naquele ponto específico da pedra. O TUM, TUM das batidas me incomodava, mas acabei deixando pra lá. Até que parei e reparei no trabalho paciente do sujeito que além de guia era caçador de botijas tesourais. Pensei “que besteira” e mal me dando tempo de concluir o pensamento ele falou “já ouvi muita história de gente que achou e ficou rica”, pensei em seguida “seria bom”. As batidas aumentaram e o barulho também. Voltei a bater fotos. Conclui meu trabalho e continuei observando o meu guia. Estava transpirando entre uma martelada e outra, mas não desanimava: “aqui tem botija” disse, e eu pensei “tem nada” e ele disse “se eu ficar rico eu lhe dou uma parte” e eu pensei “seria bom”. Cansando-me da espera e do barulho das marteladas eu pensei “que barulho chato, que besteira, vou chamá-lo pra ir embora” antes que eu falasse ele disse “a gente vai ficar rico” e eu pensei “vou esperar mais um pouco, não tem tanta pressa”. Depois de um tempo, todo empapado de suor, falou todo tristonho “acho que não tem nada” e eu pensei “que pena” e em seguida coloquei: “vamos embora, já é tarde” e mais na frente “você acredita mesmo nessas coisas?” e ele “claro!” respondeu todo empolgado para em seguida me perguntar “você não?”. Nunca lhe respondi, só pensei “agora não sei mais”.

Castanha 18 / 03 / 2010

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Causos 2: Os pensamentos de Lalá

22.6.10 Foi Hoje! 1 Comentarios


Apesar de estar um pouco ressacado, Ricardo acordou bem cedo no sábado. Sentou-se no sofá e começou a brincar com uma bolinha; apertava a bolinha com uma mão e outra. Lalá, que tem três aninhos, chegou perto dele e disse:
- É o buchinho da mamãe.
- É, parece com o buchinho da mamãe quando está grávida, disse Ricardo, parece com a barriguinha da mulher grávida.
E Lalá disse:
- E quando a mãe toma água, o bebê na barriga dela toma banho...

Castanha 23 / 05 / 2010

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Causos 3: O mundo muda

22.6.10 Foi Hoje! 1 Comentarios


Tudo muda pra continuar da mesma forma. Mudam as roupas e esmaltes da moda, mas as mulheres continuam bonitas; mudam os programas de TV, mas os domingos continuam chatos; nós mudamos, mas usamos os mesmos nomes; as coisas e as criaturas crescem ou diminuem, mas são as mesmas ou tem as mesmas utilidades; o sol se põe, mas ainda é “esse” ou “aquele” dia até a meia noite; os políticos mudam, mais a política continua incompetente; mudam os narradores, mas a piada continua engraçada; muda a leitura, mas o livro é o mesmo. Tudo continua “assim” e “assim”.
Quando eu era criança, tão criança que nem lembro, a porta da sala de casa era enorme. Algum tempo depois, também não lembro quanto tempo, consegui me esticar e olhar para a rua pela janela da porta. Minha vó sorriu e disse:
- Você cresceu.

Castanha 16 / 06 / 2010

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Causos 4: O mar de Maria

22.6.10 Foi Hoje! 1 Comentarios


Em quase seis décadas de vida Maria teve poucas alegrias, quase nenhuma, e morou em poucas cidades, três ou quatro no máximo; fez poucas viagens. Recentemente apareceu uma oportunidade e ela viajou para um local distante, muito distante, para tirar dez dias de folga. Viu capivaras, corujas, araras, cachoeiras, lagos, casas grandes e bonitas, telhados, ruas, mercados e mil outras coisas que um olhar sedento de novidades olha atentamente, pois, quer gravar cada detalhe seja porque cada momento é único, seja porque, para gente como Maria, esse tipo de prazer é escasso. Mas o que lhe impressionou mais foi a viagem de avião.
- Lá de cima o céu parece o mar, disse, as montanhas, cidades e matas parecem miniaturas no fundo do mar e as nuvens parecem espumas em cima da água...
Maria nunca mais vai esquecer.

Castanha 16/06/2010

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19.6.10 Victor Rodrigues 3 Comentarios


Não se fala em outra coisa. Em ano de Copa do Mundo, é sempre assim no país do futebol. A Canarinha, com seu futebol burocrático, apolíneo, e broxante, não está empolgando esse que vos tecla. Continuo torcendo, como diria Maiakoviski, firme, forte e verdadeiramente. Agora, cá entre nós, e que eles não nos ouçam, mas dá gosto de ver a seleção dos hermanos, comandada por Maradona e seus pupilos. Um futebol bonito, com classe, com categoria. No time deles, o ataque se destaca, com Messi e Tevez; no nosso, o ataque é apático e os “craques” são zagueiros, quem diria!? Final dos tempos! Tomara que a era Dunga não deixe raízes, que seja conjuntural, efêmera e contingente...Amém!

Mas deixemos o futebol de lado, e nos concentremos na festa, nos amigos reunidos, no tira-gosto, na cervejinha gelada e em outros aditivos. Não tem perna-de-pau que a estrague. A festa vale à pena! O charme dessa Copa são as moças soprando a vuvuzela, a pátria de shortinho verde e amarelo, com detalhes azuis. Não tem jabulani que resista, meu amigo! Todos juntos vamos, pra frente, Brasil! O gol, a comemoração, o abraço apertado, a paixão nacional, a paixão de quatro em quatro anos. Que o amor esteja presente nessa Copa. Pode fazer gol; mas, se vacilar, se derrubar na área, é pênalti. Aí vai ter que batizar o menino, nomeando-o de João Messi ou Zé Maradona. Se for menina, aposto que vamos ter uma legião de moças chamadas, carinhosamente, de Jabulani Maria da Silva, ou ainda, Maria Vuvuzela Pinto.

O juiz apitou e, vamos parando por aqui, porque já me danei a falar besteira. E que venha o Hexa!

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