Um Ilustre Desconhecido

31.7.11 Joarez 0 Comentarios


Você sempre foi uma mulher de emoções à flor da pele. Se estava alegre, explodia em extâse. Se estava triste, não tinha receio em se entregar à dor, chorava e enxugava as lágrimas, repetidas vezes, sem fazer cerimônia. Vivia muito intensamente. Qualquer sentimento que tocasse seu coração, no instante seguinte, já virava epidérmico.

Hoje estás completamente mudada. Não vivo mais contigo, mas tuas atitudes, teu jeito, teu olhar, está tudo mudado. Não se vêem mais lágrimas escorrerem pelo teu rosto; tampouco sorrisos radiantes estampados nele. És discreta e polida em teus trejeitos. És extremamente discreta e recatada nos teus medos, nas tuas angústias, nas tuas surpresas, nas tuas alegrias. És moderada demais em teus afetos e desafetos.

***

É que só agora, perdoe a demora, descobri que apenas no amor consegues te encantar, e te entregar com coragem aos teus sentimentos. Fora dele, és sutil e reservada para tudo. E eu, hoje, ao enxergar esse teu novo lado, me sinto apenas como um ilustre desconhecido.

Prazer em conhecer!

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Na Cama

29.7.11 Joarez 3 Comentarios


amalgamados gostos e sabores
tumultuam meu olfato
confundo cheiros e odores

- ô Dores, vem aqui e acaba com minhas dores!

quero uma petit mort, uma morte rápida,
quero morrer de amores.




(O FoiHj adverte: esta poesia invade descaradamente um blog de crônicas).

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O Mais Novo Fiteiro

27.7.11 Joarez 2 Comentarios


A quem interessar possa, venho aqui, tomado por desdém, informar sobre a inauguração do mais novo fiteiro da cidade do Recife. O evento, realizado há quatro dias, não contou a com presença de ninguém importante. Nem desimportante. Estiveram presentes o dono do estabelecimento, um cachorro e um policial militar; este último, no momento da fundação, urinava numa árvore próxima. Nem por causa disso pode-se dizer que a solenidade foi um fracasso. Digamos, apenas, que não foi um sucesso. De um extremo a outro, sabe bem o(a) leitor(a), vai um hiato gigantesco. De convecional, o estabelecimento informal, vai ter os cigarros. Ainda estes, não vendidos, mas dados. O grandioso fiteiro vai comercializar algumas verdades. Isso mesmo, algumas verdades. Não todas, pois o conglomerado que o financia não considerou prudente colocar todas elas à venda. Os motivos, desconheço. Não bajularemos os clientes, não aceitaremos devoluções, não daremos explicações, não oferecemos promoções, nem facilidades de pagamento. Tampouco garantia. Se a verdade adquirida não for duradoura, problema de quem a comprou. Cada verdade terá seu efeito, a depender da forma de lidar com ela. Umas trarão alegria. Outras passarão despercebidas. Outras tantas, contudo, deitarão por terra o juízo dos cabras mais moles, que ficaram por aí a ter arroubos de cólera, sem motivo aparente.

E se isso acontecer, avisamos: nós não nos resposabilizamos pelo mau uso das mercadorias.

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O VAZIO DA IMPOTÊNCIA.

25.7.11 Foi Hoje! 2 Comentarios


Dedicado à Téo Luiz

Escreveria se quisesse grandes tratados metafísicos, equações lógicas de minhas observações objetivas sobre o mundo, enfadonhos e prolixos ensaios. Mas no amago, o que me interessa são as grandes coisas pequenas. Descobri esse forte desejo na noite que passou, entre as mesmas coisas que faço e venho fazendo, no esforço diário de distrair essa pesada existência e trazer leveza para um certa parte cinza de meu espirito.

Me apresento assim, claramente dizendo que meus futuros escritos serão uma mescla entre confusão, delírios e paixões, paixões pelas grandes coisas pequenas, aquelas que passam desapercebidas, os olhares, os cheiros, os suspiros de cansaço, a música dos ventos, o silêncio,o vazio. Desafiaria alguém a me dizer qual o tamanho do vazio! Pois ele é enorme, ao mesmo tempo em que cabe numa caixinha de fósforos.

[…]


Era noite e estávamos meu amigo e eu no bar. Ao trazer a conta, o garçom que nos antedera, tão gentil e amavelmente, despediu-se de nós com um sorriso meio amarelado. Não sabíamos, mas tinha sido demitido segundos atrás, por se recusar a lavar o banheiro do bar depois de seu expediente. Já iam duas e tantas da madrugada, quando seu colega desabafou o ocorrido: “Mas rapazes, vejam vocês! Um menino tão bom, acabou de ser demitido por se recusar a lavar o banheiro, que absurdo...”

Desviando meu olhar durante a indignada narrativa do colega do garçom, pude observar o dono do bar, sozinho, sentado em uma mesa oposta a minha, com dezenas de papeizinhos, uma calculadora e uma caneta.

Veio o vento e levou um daqueles papeizinhos pelos ares, num bailar suave e preciso, caindo por fim sobre uma poça d'água, iluminada pelo poste da rua General Coisas Pequenas. Caminhei até a poça e lá recolhi àquele papel em minhas mãos, e em seguida o devolvi ao Dono do Bar, que com um sorriso verde musgo recebeu minha gentileza sarcástica, sem perceber o que eu realmente pensava “daquilo” sob um nojento bigode.

Antes de ir pra casa fui ao banheiro do bar e e por uma espécie de vingança pelo ocorrido, urinei em todas as paredes e joguei quase um rolo inteiro de papel higiênico na latrina. Derrubei o sabão liquido pelo ralo e pra finalizar colei alguns papeis higiênicos usados, na parte de traz da porta.

Depois de tudo isso, ao chegar em casa, me tomou de assalto uma enorme sensação de vazio e impotência. Peguei um romance tentei ler e nada, liguei a TV e nada, não saiam acordes de minha imaginação, tomei um banho, me masturbei e nada … Meu telefone tocou! Era uma ex-namorada, bêbada, dizendo que ainda me amava. Nem aquela declaração preenchia o vazio que eu sentia, na verdade o que me preenchia, era o vazio. Fui ao banheiro oinduzi o vômito na esperança de expelir o vazio de dentro de mim. Vomitei durante dois minutos, vomitei todo o tira-gosto que havia consumido minutos atrás no bar, vomitei meu almoço, vomitei meu desejum... e o vazio continuava lá. Coloquei minhas mão por dentro de minha garganta e me virei pelo avesso... O que os meus olhos pudiam enxergar!?! Nada, só escuridão e silêncio. O silêncio das coisa grandiosamente pequenas!

Por isso decidi... Daqui por diante, só escreverei poesias.


Por parecerem hostis à classificações me atraem de uma maneira orgasmática, o puro desejo da liberdade.

Sei, que essa minha ideia bate de frente as estantes e arquivos que organizam ora por temas, ora por vaidades, as poesias. A poesia pra mim está no fluxo, fluxo é água, é vento, mas é também suor deslisando sobre o corpo.

Só não me tomem por filósofo, isso me entristeceria enormemente! Mas por poeta, tomem-me sim, sempre.

Mas saibam e eu também sei, que o desejo por si só, não é garantia de ser. Eu vivo a poesia, portanto, escutem de uma vez por todas: “eu não faço poesia, a poesia é que me foi feita”. Não quero dizer com isso, que a mesma me venha como que dos céus, que caia em meu colo!

O que recuso! É o permanecer inerte das estantes, não faço poesias, não devo estar nelas, a poesia não deve estar lá! Deve estar ao alcance das mãos, da língua, dos olhos, dos ouvidos.


Ninguém faz poesia, repito, ela é fluxo, ela é o “não ser”.


Escrever poesia é tornar-se poesia.

Por: Pássaro Bege

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A RAZÃO E O DESEJO

22.7.11 Foi Hoje! 1 Comentarios


- Razão, Razão!!

- Olá, súdito Desejo!

- Não a obedecerei mais...

- Como ? Por quê?

- Sou maior que você! Tenho poder com tu, também posso dominar, assim como tu.

- Te digo que te enganas e que és um verme.

- Prove-me se for capaz!!!!!

- Se você se sobrepusesse a mim, quebraria-se a lógica desse mundo. Te provarei com uma história:

“Formiga passeava pela floresta à caminho do palácio. Minutos depois de tomar um líquido esverdeado passou horas a fio conversando com um galho, perto do grande lago. As outras formigas a alertaram do perigo de conversar com aquele sujeito, esquálido e cheio de arestas.

Formiga estava desiludida com o projeto racional de seu mundo, e as outras formigas como ela, não lhe davam mais ouvidos, só lhe diziam: -“Caminha até o outro lado da margem do lago, Formiga, descansa, lá você encontrará sossego para sua cabeça, vais acabar ficando louca!”

O galho então percebendo a angústia de Formiga – que até então não havia proferido uma só palavra - sorriu um malicioso sorriso. Conversavam por telepatia, coisa que Formiga já havia experimentado com os da sua espécie, mas nunca com um galho. De súbito sentiu uma voz em sua cabeça, uma vontade enorme de deitar no chão, e em seguida fez sexo com a terra. Ficou nua, começou a sentir o cheiro da terra, rolou pelo chão com um tesão impressionante, maior que seus pudores. Sentiu o prazer do gozo cinco minutos depois, sentiu também vergonha e se escondeu embaixo de uma folha seca caída de uma árvore da floresta.

Fatigada pelo prazer, olhou de lado e lá estava ele, o galho. Se recompôs e perguntou ao galho porque ele havia colocado aquele vontade em sua mente, e o galho por telepatia, o provocou: “Queres abandonar a razão? Mas nem consegues largar fora o pudor! Vai até a beira do lago tola Formiga, e vê o que te oferece o espelho d'água, observa-te, encara de frente tua imagem.

Se arrastando em movimentos lentos pela terra, Formiga chegou até a beira do lago - as outras formigas, não puderam detê-la”.

- Você nem imagina o que ela viu refletido no espelha d'água..

- O que ? Qual era imagem que ali estava?

- Terminamos por aqui a história.

- Como? Não conseguistes me provar nada!

- Falta um pouco de sabedoria a você, Desejo, não imaginas qual era a imagem que estava refletida no lago?

-Não.

- Então eu te falo, lá estava, naquela imagem, a mais bela, atraente e perigosa de todas as deusas, a Insanidade...


[…] Depois de muito tempo, os Humanos conheceram essa formiga. Em suas casas, correm em direções desconexas pelas pias e pelos armários sedentas de açúcar, não demorou muito e os Humanos a batizaram, formiga-doida.


Por: Pássaro bege


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Estou voltando...

18.7.11 Victor Rodrigues 2 Comentarios



Meus queridos escribas e leitores, li um comunicado no diário oficial da união que falava sobre a minha exoneração deste blogue. E o motivo era a baixa produtividade, quer dizer, a inatividade, o abandono do emprego. Consultei meu advogado e fui instruído a adotar uma linha defesa que requer minha reincorporarão imediata e, ainda, solicita que me seja dada a liberdade de tratar de novos temas, condizentes com o meu estado de espírito.
Para começo de conversa, compartilho com vocês uma pequena reflexão que fiz recentemente. Caso considerem o tema cafona, entro na justiça e solicito indenização.
Grande abraço!
Segue o texto:

Uma das definições de amigo, segundo o dicionário Michaelis, diz que se trata de “indivíduo unido a outro por amizade; pessoa que quer bem a outra” e, ainda “colega, companheiro, amador”. Obviamente, existem outras formas de definir essa relação social específica, que é a amizade. Recentemente, li um pequeno texto de um novo amigo, porém muito especial, Marcelo Barros, que diz que a amizade é "a manifestação do rosto divino na terra.” Quando leio essas palavras, visualizo a amizade sincera, espontânea, gratuita, que não cobra nada e não é movida por outros interesses além do afeto gerado, construído. Às vezes estamos passando alguma dificuldade, tristes ou sem ânimo para tomar algumas decisões importantes e, de repente, encontramos um amigo, conversamos e ficamos revigorados, confortados, prontos para enfrentar os desafios e seguir nossas missões. Não tenho dúvida, portanto, que existe uma lógica transcendental que rege as amizades reais.
Nossos amigos não precisam ter os mesmos gostos que nós ou ser da mesma faixa etária, nem pertencer à mesma classe social. Em alguns casos, são pessoas tão diferentes de nós que um raciocínio lógico tem dificuldade em explicar como é possível que estejamos ligados um ao outro. A amizade, meus caros, se me permitem arriscar uma definição, se estabelece quando o coração vibra na mesmo sintonia.
Os caminhos que trilhamos na vida, por opção ou por motivos que fogem ao nosso controle, nos aproximam mais de alguns amigos e, muitas vezes, nos afastam de outros. Tenho amigos que não vejo mais com tanta freqüência, outros que encontro mais constantemente, mas cada um deles se revela de uma forma própria, especial, que não permite mensuração e comparação. Apenas sentimos e, não temos dúvidas, podemos contar com eles sempre.
Dedico essa pequena reflexão aos amigos que fiz na infância, no colégio, na faculdade, na militância e, mais recentemente, no grupo de oração e teologia. Ah! E aos amigos que a vida ainda há de prover (mais).
(A imagem da fenix foi retirada do site http://anancara.blogspot.com/)

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A Chuva

12.7.11 Joarez 2 Comentarios


Através da janela fechada, que divide dois mundos, o de lá e o de cá, a força da chuva balança as folhas das árvores. A árvore está molhada. Estão molhados o carro, a rua, a cidade, a vontade de viver. Com a água da chuva. Chuva que significa fertilidade. Mas que, em excesso, pode signifcar destruição. Pela janela a chuva leva a árvore, o carro, a rua, a cidade, a vontade de viver. Depois da chuva, não resta nada. Só os sinais de que a chuva passou.

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Só queria ver teus olhos!

8.7.11 Foi Hoje! 2 Comentarios





Pensar a lacuna na série de imagens, por mim aqui perfiladas.

Pensar o que irá preencher o lugar da interrogação, é pensar que as imagens, tendem a torna-se anacrônicas. Será?


Se lhe toca, tudo o que acima questionei!

Então peço-te humildemente que responda minha pergunta!

E nesse exercício mental, qual imagem substitui hoje pra você essa interrogação?

Tal atitude nos mostrará de maneira interessantíssima, como é produzido seu olhar!

E aí! Querem tentar!?




Pássaro bege!



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A Crise dos Leitores

6.7.11 Joarez 3 Comentarios


De mais a mais, cá com meus botões, e devaneios sem pé nem cabeça, eu já tinha chegado a essa conclusão. Com sinceridade, não se precisa de um grande esforço para alcançarmos ela. Mas, sabe como é?, dizer, assim na xinxa, para os meus companheiros de boteco e de blog, pode enfraquecer a amizade.

Não digo para eles, digo para vocês. Se ficarem chateados comigo, recorro à tal da licença poética.

Hoje em dia o mercado editorial vive uma crise. E onde começa essa crise? No leitor. Alíás, na escassez dele. O leitor de hoje, quando existe, lê livro de auto-ajuda. Em segundo lugar, livro de auto-ajuda. Em terceiro, idem. Quarto, idem. Ali pela décima-nona preferência aparecem os leitores de biografias, e pára por aí.

Os de ficção? Afora os de Harry Potter, não existem. Tá bom, existem. Mas são bem poucos e estão bem entocados.

E o pessoal aqui, este velho gordo que ora vos fala incluso entre eles, resolve fazer um blog sobre o quê? Literatura, ora essa. Ficção, ora veja. Você poderá argumentar que o blog é sobre crônicas, e que estas são um relato, com um olhar pessoal, sobre um fato acontecido. Não é mesmo? Nem sempre. Na realidade, não se tem como saber se o fato contado é verídico ou não.

E para chegar ao ponto central, isso, na verdade, é o que menos importa. Se a história lida tocou, comoveu, mexeu com o leitor, pouca interessa se ela é ou deixou de ser verdadeira. A literatura independe disso.

Mas isso, claro, quando se tem os leitores, e eu falava justamente sobre a ausência deles. Dia desses, navegando pela internet, vi um artigo falando que, no mundo da internet, existem mais de 10 milhões de blogs ativos. Pode gastar as exclamações, é um número gigantesco mesmo. Depois desse susto inicial, depois de nos sentirmos uma gotinha no Oceano Pacífico, já podemos partir para indagação crucial. A pergunta certa não é "Quem me lê?", mas, concerteza, "Quem lê tanta gente?". Será que há leitores fiéis para todos esses blogs?

E no meio de tanta variedade, blog de culinária, blog de moda, blog de gente famosa, blog sobre gente famosa, etc., tem um blog formado por um grupo boêmios recifenses que fala sobre literatura e ficção. Como se não bastasse escolher uma área saturada para escrever (blog), escolhemos a subárea onde menos tem menos gente que lê.

Mas será que não tem ninguém que lê a gente? Será?

Se você, meu caro amigo, minha paciente leitora, chegou até aqui, até essa última linha, poste um mísero comentário para não deixar o autor dessa crônica, inviável como das outras vezes, mascando o jiló da solidão.

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