Uma aula em Frankfurt

17.8.07 Foi Hoje! 0 Comentarios


Não sei se vocês viram este vídeo do escritor mineiro Luiz Ruffato na Feira Internacional do Livro de Frankfurt - a maior do mundo -, no ano passado, cujo país homenageado foi o Brasil. Ruffato talvez seja hoje o escritor brasileiro mais traduzido no mundo e, em especial, na Alemanha. Sua série, Inferno provisório (mais de mil páginas sobre a formação do proletariado brasileiro dividido em cinco volumes ficcionais que vão desde, o início do êxodo rural nos anos 1950 até a última noite do ano de 2002, na corrida de São Silvestre e véspera da posse de lula em Brasília, sintetizando a chegada ao poder do proletariado) será lançado, talvez, no ano que vem pela Companhia das Letras em um único volume.
O que me chama atenção para o “lugar de fala” de L. Ruffato é a recente profissionalização do escritor brasileiro especialmente na trajetória literária dele e C. Tezza, como exemplos de uma seleta “casta” de escritores profissionais que, talvez sejam a primeira geração (autônoma) de escritores que vivem unicamente de seu ofício. Ambos escritores, respectivamente, abandonaram o jornalismo e à docência superior para dedicarem-se exclusivamente à literatura. Ruffato vive de literatura há mais de dez anos e, Tezza desde O filho eterno - romance que abocanhou todos os grandes prêmios literários do país em 2008, dando-lhe as condições materiais para a dedicação exclusiva para as letras.
No discurso, o escritor mineiro desfila de forma concisa quinhentos anos da história brasileira de maneira direta e contundente onde o ufanismo é atacado violentamente, porém sem o cinismo e o pessimismo que estão na ordem do dia e na boca de vários intelectuais brasileiros.
Por fim, a fala de Ruffato criou várias celeumas dentro da oficialidade - Michel Temer[1] que estava presente na cerimônia quebrou o rígido protocolo alemão e fez uma fala anódina e idiota após a do escritor -, dentro do círculo intelectualizado, Ziraldo[2] dizendo após o discurso do romancista e a subsequente ovação: “Não tem que aplaudir! Que se mude do Brasil, então”. E entre outras “chamadas de atenção”, Ruffato foi criticado por falar das nossas mazelas em “local indevido”, ora eu lhes pergunto, se uma Feira Internacional de Livros cujo homenageado é o Brasil não é o local ideal, não imagino outro. E também por “lavar roupa suja fora de casa” etc., em uma “admoestação” que sintetizou a sua fala em Frankfurt – o machismo presente até nas entranhas do nosso inconsciente e nos adágios populares. Até nas “admoestações” ou “ressalvas” o discurso de Ruffato suplantou o atraso da nossa condição subalterna em relação ao centro do mundo e, mostrou e demostrou que a condição de escritor só deve satisfação ao seu ofício.


Renato K. Silva é mestrando em ciências sociais pela UFRN.

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11.8.07 Foi Hoje! 0 Comentarios


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10.8.07 Foi Hoje! 0 Comentarios


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