Uma aula em Frankfurt
O
que me chama atenção para o “lugar de fala” de L. Ruffato é a recente
profissionalização do escritor brasileiro especialmente na trajetória literária
dele e C. Tezza, como exemplos de uma seleta “casta” de escritores
profissionais que, talvez sejam a primeira geração (autônoma) de escritores que
vivem unicamente de seu ofício. Ambos escritores, respectivamente, abandonaram
o jornalismo e à docência superior para dedicarem-se exclusivamente à
literatura. Ruffato vive de literatura há mais de dez anos e, Tezza desde O filho eterno - romance que abocanhou
todos os grandes prêmios literários do país em 2008, dando-lhe as condições
materiais para a dedicação exclusiva para as letras.
No
discurso, o escritor mineiro desfila de forma concisa quinhentos anos da história
brasileira de maneira direta e contundente onde o ufanismo é atacado
violentamente, porém sem o cinismo e o pessimismo que estão na ordem do dia e na
boca de vários intelectuais brasileiros.
Por
fim, a fala de Ruffato criou várias celeumas dentro da oficialidade - Michel
Temer[1]
que estava presente na cerimônia quebrou o rígido protocolo alemão e fez uma
fala anódina e idiota após a do escritor -, dentro do círculo intelectualizado,
Ziraldo[2] dizendo
após o discurso do romancista e a subsequente ovação: “Não tem que aplaudir!
Que se mude do Brasil, então”. E entre outras “chamadas de atenção”, Ruffato
foi criticado por falar das nossas mazelas em “local indevido”, ora eu lhes
pergunto, se uma Feira Internacional de Livros cujo homenageado é o Brasil não
é o local ideal, não imagino outro. E também por “lavar roupa suja fora de
casa” etc., em uma “admoestação” que sintetizou a sua fala em Frankfurt – o machismo
presente até nas entranhas do nosso inconsciente e nos adágios populares. Até
nas “admoestações” ou “ressalvas” o discurso de Ruffato suplantou o atraso da
nossa condição subalterna em relação ao centro do mundo e, mostrou e demostrou
que a condição de escritor só deve satisfação ao seu ofício.
Renato
K. Silva é mestrando em ciências sociais pela UFRN.
[1] http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?id=1416914&tit=Frankfurt
(acessado no dia 17/08/2014)
[2] http://www.dw.de/pol%C3%AAmico-discurso-de-luiz-ruffato-divide-feira-do-livro/a-17148356
(acessado no dia 17/08/2014)
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