Volta não, Joarez
Estive fora, ausente, eu diria mesmo, esquecido, neste blogue, devido à falta de postagens regulares ou irregulares na sequência (escrever sequência sem trema é foda!) do ano-novo. Adianto para as almas sebosas de plantão que não estive parado. Envolvi-me na fundação de um novo partido, mais um nesse balcão de negócios que é o sistema político brasileiro. Trata-se do PCSC. Calma, sem susto, não se trata de outro grupo neopentecostal. É apenas o Partido dos Cronistas Sem Conteúdo, visando reles escritores que, assim como eu, são acometidos, periodicamente, por uma crise temática. Digo, tema (não trema) até vem, mas volta rapidinho, pois como diria o mestre Nenê Garcia: - Depois de Grotovsky, o meu Bom Dia BrasilDias cristalinos, Parte 2/3: A moça.
25.1.13
Pássaro Bege
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25.1.13 Pássaro Bege 0 Comentarios
“Eu
levantei essa manhã, você não estava aqui
Eu levantei
essa manhã, você não estava aqui
Eu nunca
soube o que eu tinha
Agora sei o
que perdi
Por favor,
me dê uma chance, não me deixe aqui sozinho
Por favor,
me dê uma chance, não me deixe aqui sozinho
Já acabei
com todo o whisky e
Não
encontro o meu caminho
Já rezei
pedi a Deus, pra ver se ele me acalma
Já rezei
pedi a Deus, pra ver se ele me acalma
Pois você
deixou o meu corpo
Mas levou a
minha alma"
(“Me dá uma
chance”, por: Camisa de Venus)
O falador, o
escrevinhador assume toda a responsabilidade pela incoerência que venha a ser percebida
nesse trabalho árduo de leitura do ilegível que é escrever sobre os fatos que
se dão, assim, no meio do cotidiano, se é que flui claro. Como o mais sincero
dos demônios seguirei nessa crônica falaciosa. Foi assim que pensei, mas não
foi isso exatamente o que fiz, desculpem!
Quando me vi jogado
na parede, encurralado pela cabeça, tronco e membros nervosos daquela moça
poupei as explicações (como as chatas explicações que um autor faz de seu texto
ficcional), e, como me ensinou Lula Côrtes: “eu fiz pior, sujei de sangue minha
melhor camisa!”. Era necessário escrever sobre a beleza e a iniquidade daquela
moça.
Sua boca
realmente não parava de tremer. Intoxicou-se de raiva, sumiu, mas me acertou com
uma última punhalada antes de partir, deixou-me de saco cheio, literalmente. Falou
absurdos aos meus ouvidos; coisas de um teor extremamente sensual, mas corou a
noite com as mesmas atitudes ignóbeis de outrora, resumindo, me deixou outra vez
na mão.
Antes de me
fazer o que fez, teve a pecha de dizer e hierarquizar as artes, as
manifestações artísticas, e disse quase em um tom sagrado que o verso era
melhor que a música. Maldita coitada, não sabe conviver com belezas.
Perguntei se ela
era especialista em versos e quando ela respondeu que sim, sorri e pedi um café
bem quente. Minha intenção era queimá-la, deixá-la marcada para sempre. Queria
mesmo era abrir sua boca com força e jogar o café fervendo dentro. Quem sabe
assim eu queimaria sua língua, e ela, sem a capacidade da oralidade, prestaria
mais atenção então na música; nos sons das respirações de excitação, e enfim...
sem meias palavras.
Fui avisado
por amigos que ela pegaria um voo para sua cidade de origem nas próximas horas.
Ela é muito doce, eu pensei. Foda-se! Mas havia outras moças, outras e
outras... É isso! Tive logo a certeza de tudo um pouco depois: - “acho que ela
nunca escutou a “maça” do Raul Seixas”.
O dia estava
quente em Áridas Terras. O pensamento borbulhava no juízo. O ódio que sentia
daquela mulher crescia; como os acordes que cresciam no abrir e no fechar do fole da
sanfona da velha dona da pensão, a irmã Zuleica.
Antes da ida daquela
moça, suspirei fundo, e venci aquele ódio inicial, cumprimentando-a antes da triste
partida: - “Meu Deus, meu Deus”! Fiquei ali parado, sentado no sofá em frente
ao show de sanfona da dona da pensão; não pensava em mais nada. “Meu Deus, meu
Deus”!
O segundo dia
é sempre mais pesado que o primeiro, e os sonhos insistem em imitar a realidade
no quarto número 01.
(Continua...)
ver a primeira parte: http://foihoje.blogspot.com.br/2012/10/dias-cristalinos-parte-13-velha.html#comment-form
Por: Pássaro bege
(Des)sufocamento
15.1.13
Calil Madrazzo
2 Comentarios
15.1.13 Calil Madrazzo 2 Comentarios
Bem, acometeu de nesses dias, por
motivo(s) fortuito(s), vir a pensar na minha nova experiência: Ser Pai.
Para todo o resto da humanidade isso pode ser um assunto crucial. Está na hora de construirmos nossos valores, pensar que uma nova vida está chegando. Discutamos então a educação dos nossos filhos, e até mesmo o papel de nossa geração. Mais vale isso ou aquilo, ou será que aquilo outro é o melhor a se fazer. Não estou nem aí para educação. Que se dane a educação, que morra quem pariu essa desgraçada. Bla, bla, bla... minha vida virará de cabeça para baixo. Mi, mi, mi... nunca mais terei descanso. Bla, bla, bla... estou fodido.
Não, não se trata disso. Não pude conter-me de maneira alguma em pensar que será mais uma pessoa no mundo. Apenas mais uma pessoa. Apenas não, caráleo, será MAIS UMA PESSOA na estratosfera.
Para todo o resto da humanidade isso pode ser um assunto crucial. Está na hora de construirmos nossos valores, pensar que uma nova vida está chegando. Discutamos então a educação dos nossos filhos, e até mesmo o papel de nossa geração. Mais vale isso ou aquilo, ou será que aquilo outro é o melhor a se fazer. Não estou nem aí para educação. Que se dane a educação, que morra quem pariu essa desgraçada. Bla, bla, bla... minha vida virará de cabeça para baixo. Mi, mi, mi... nunca mais terei descanso. Bla, bla, bla... estou fodido.
Não, não se trata disso. Não pude conter-me de maneira alguma em pensar que será mais uma pessoa no mundo. Apenas mais uma pessoa. Apenas não, caráleo, será MAIS UMA PESSOA na estratosfera.
Quando será que os seres humanos
pararão para entender isso?
Ainda bem que a estrutura familiar atual não é mais composta ou tão valorizada como antigamente, aquela estrutura um pai, uma mãe, o máximo de filhos possível para indicar prosperidade, força de trabalho, e outros valores nefastos.
Quando será que as pessoas
entenderão que não cabem mais pessoas nesse planeta, quando entenderão que já
somos o suficiente, será que ninguém se vê como parasita? Somos parasitas
incorrigíveis; e fazendo uma prospecção vejo a única alternativa para nossa parasitose
a parasitação de outros planetas.
Entretanto, estando isso ainda
distante, até que eu gostaria de parar de pensar sobre o quanto somos
parasitários, queria deixar de me ver como uma doença para esse planeta (será
que sou realmente?). A ideia do progresso a qualquer custo não me ludibria, nem
mesmo a ideia de ser filho de Deus, nascido pela graça do próprio. “Uma porra
que eu sou filho de Deus! Eu sou filho de um erro de cálculo da minha e mãe
mais o erro de cálculo do meu pai”. E do mesmo modo será o meu filho.
“DEUS! Faça alguma coisa!
Pare-nos! Eu imploro!”
É sufocante saber que daqui a um
tempo os cidadãos desse planeta sentir-se-ão sufocados por outros cidadãos do
mesmo planeta, que por um motivo muito óbvio não poderão se dessufocar. Não
haverá mais espaço para isso. Não há de haver um cano de escape para o
dessufocamento do planeta. Em verdade, em verdade vos digo, eu até tenho sentido isso
ultimamente, e o pior é que, agora, estou contribuído mais e mais para isso. Cumprindo
meu papel de parasita mais e mais sufocado.
O Inconsciente do Olhar III
14.1.13
Cabotino
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14.1.13 Cabotino 0 Comentarios
O futebol é a
carta de Caminha de nossa geografia.
A ponte Joaquim
Cardozo, arquitetura poética que leva em sua margem o elo entre o ferro e o
roedor, o Coque e os Coelhos, arqueia sobre o Rio Capibaribe embotado de
hospitais e palafitas. As margens deste e na cabeceira daquela no sentido subúrbio/centro
se encontra um campo de futebol improvisado em meio ao mangue, ou seria um
mangue improvisado em meio a um campo de futebol? Em suma, neste dia a segunda
opção foi a que prevaleceu.
No ônibus, pangeia de ilhas a
deriva em busca de uma janela, no sentido subúrbio/centro, ou seria da lama ao
caos? Enfim, neste dia todo o itinerário, a lama, o caos, o subúrbio, o centro,
o caranguejo, o gabiru resolveram fazer uma pequena pausa em deferência a
plasticidade do lance.
O motor a combustão queimando óleo
diesel na segunda marcha acelerava o coletivo e eu que estava em uma janela na
ala direita do ônibus, em uma posição mais privilegiada do que a de um outro
cara que se encontrava duas poltronas na minha frente, e que a esta altura já
estava com o pescoço todo retorcido para não perder o desfecho do lance: o
moleque matou a bola no peito, defronte a mim, e tal qual o Diamante Negro
armou o seu corpo como se fosse um chié andando devagar e o goleiro como um
aratu pra lá e pra cá prevendo a bicicletada que iria receber.
Aquele pescoço antes retorcido se
converteu em uma cabeça do lado de fora do coletivo com os olhos crispados a
gritar: que gol do carai!
O Inconsciente do Olhar II
13.1.13
Cabotino
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És um senhor tão
moderno
Quanto à cara do
meu neto
Tempo, tempo,
tempo, tempo
Sim, era um aniversário com certeza,
amigos, familiares, churrasco, galinha assada, cerveja gelada e a tríade do
canto do cisne do império britânico – baixo, bateria e guitarra – valvulados na
garagem. Dos cinco filhos, duas mulheres e três homens, estes inclinados ao rock n roll desde a terna idade e
estavam ali com seus amigos, inclusive este que vos escreve, tirando um som no
descanso de Deus, o domingo.
Dos cinco netos, duas mulheres e
três homens, o mais velho já era motivo de orgulho da família, desde cedo
campeão de karaté, exímio nos estudos e imbatível no Wing Eleven, o que deixa os tios invocados, mas complacentes com a
derrota, pois é a geração do joystick com o seu ímpeto catódico. Enfim, um bom
menino, destes que outrora estampavam as capas da revista Pais e Filhos.
De repete a música para, e os chamados
vem do microfone: Cauã! Cauã! Ele chega meio desconfiado e o tio do meio diz:
vamos tocar tempo perdido e tu vai
cantar, seu rubor foi do tamanho dos seus 16 anos, mas se refez e começou a
cantar: [...] não temos mais o tempo que
passou/ mas tenho muito tempo. E o avô ouvindo a voz do neto se aproximou
da garagem e com as mãos no portão ficou olhando o neto com os seus olhos
marejados, não era um olhar de hereditariedade dos 7,666 cromossomos seus presentes
naquele corpo em formação; não era ternura; nem tampouco carinho; era o amor
casado com o tempo e quando este enlace se realiza tudo é pleno, inclusive em
um domingo.
* Dedico esta crônica ao filme do
M. Haneke: Amour.
8.1.13
Foi Hoje!
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8.1.13 Foi Hoje! 0 Comentarios
(...)
- Aprendi hoje a soletrar meu nome!
- Foi mesmo, quero ver então, me mostre.
- Pera aí que volto já, já.
(...)
- Aprendi hoje a soletrar meu nome também, e ainda por cima,
aprendi hoje como assinar.
- Assinar? O que é isso?
- Pera aí que volto já, já.
Moral da história: Subscreva tudo. Vá lá meu jovem,
subscreva! Quem sabe um dia tu terás na
pça. “Onze de Novembro”, no município de Piracicaba, um Obelisco cheio de
dizeres em direção ao sol. E Osíris o saldará em outro mundo e também em outros,
outros, outros, outros... n’outros mundos. Só assim ecoará a voz de sua caretice
e mesquinhez nos ouvidos dos doidões, e os doidões, por sua vez, encaretariam o
processo!
Mas por fim eu vos digo meu nome... Meu nome é
A-N-A-C-L-E-T-O. E meu CPF é 340.908.214-XX.
Por: Coruja Felixberto Carvalho.
"Cabelos de Coco"
5.1.13
Foi Hoje!
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5.1.13 Foi Hoje! 2 Comentarios
Para família e amigos
Era tido e conhecido na rua, entre os seus amigos, como um
menino bom. Realmente, ele era gente fina. Conversa sóbria, uma simpatia
natural de dá nos olhos. Dava na vista da gente de longe que além de um rapaz
bonito e elegante, "Cabelos de Coco", era também muito engraçado.
Era meio malandro, também meio atrapalhado. Não muito afeito a
seriedade de seu ofício acadêmico. Nos espaços reservados aos assuntos
futebolísticos, era vaidoso, não gostava de perder peleja pra seu ninguém nas
resenhas informais entre os amigos. Era um torcedor doente por futebol bem
jogado. Como eu, talvez, até como você, ele costumava sorrir bastante. Hoje ele
morreu.
Morreu para os meus olhos às 12h30 da tarde de hoje. Deu no
noticiário da TV, circulou depois nas redes sociais e o que era um possível desaparecimento,
quem sabe coisa de cabra que gosta de curtir a vida e que estava mesmo era por
aí, lombrando! Fazendo algo de bom em um final de semana chuvoso, como esse que
se passou, mas não. Ele foi encontrado morto, foi hoje.
Em um dos poucos papos que tivemos, uma informação me chamou
muito a atenção para um traço sui generis de sua personalidade. O bicho! O tal "Cabelos
de Coco", não comia nada.
Alguns amigos dele zombavam, melhor dizendo, “tiravam onda”,
de sua condição de “abstêmio alimentar”.
Um dia, numa pelada, eu lembro até do papo que tive com ele:
- Ei velho, me diga aí, essa história de que você não come, isso
é verdade?
- Eu como, pô! É claro que eu como. É porque às vezes, eu
tenho preguiça de comer, tá ligado!?.
por: Pássaro bege.
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