Volta não, Joarez

28.1.13 Joarez 0 Comentarios


Estive fora, ausente, eu diria mesmo, esquecido, neste blogue, devido à falta de postagens regulares ou irregulares na sequência (escrever sequência sem trema é foda!) do ano-novo. Adianto para as almas sebosas de plantão que não estive parado. Envolvi-me na fundação de um novo partido, mais um nesse balcão de negócios que é o sistema político brasileiro. Trata-se do PCSC. Calma, sem susto, não se trata de outro grupo neopentecostal. É apenas o Partido dos Cronistas Sem Conteúdo, visando reles escritores que, assim como eu, são acometidos, periodicamente, por uma crise temática. Digo, tema (não trema) até vem, mas volta rapidinho, pois como diria o mestre Nenê Garcia: - Depois de Grotovsky, o meu Bom Dia Brasil. Que é sagrado, casto, puro e - pigarreio para falar - inviolável. Sem contar o meu trabalho, que não é sagrado, mas é necessário. Daí essa ausência colossal; porém, jamais notada. O carnaval já está aí, não leia, brinque. Pois eu, agora não, mas assim que puder, vou brincar. E desde já, reforço a campanha: - Volta não, Joarez!

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Dias cristalinos, Parte 2/3: A moça.

25.1.13 Pássaro Bege 0 Comentarios



Eu levantei essa manhã, você não estava aqui

Eu levantei essa manhã, você não estava aqui

Eu nunca soube o que eu tinha

Agora sei o que perdi

 

Por favor, me dê uma chance, não me deixe aqui sozinho

Por favor, me dê uma chance, não me deixe aqui sozinho

Já acabei com todo o whisky e

Não encontro o meu caminho

 

Já rezei pedi a Deus, pra ver se ele me acalma

Já rezei pedi a Deus, pra ver se ele me acalma

Pois você deixou o meu corpo

Mas levou a minha alma"

 

(“Me dá uma chance”, por: Camisa de Venus)

 

O falador, o escrevinhador assume toda a responsabilidade pela incoerência que venha a ser percebida nesse trabalho árduo de leitura do ilegível que é escrever sobre os fatos que se dão, assim, no meio do cotidiano, se é que flui claro. Como o mais sincero dos demônios seguirei nessa crônica falaciosa. Foi assim que pensei, mas não foi isso exatamente o que fiz, desculpem!  
Quando me vi jogado na parede, encurralado pela cabeça, tronco e membros nervosos daquela moça poupei as explicações (como as chatas explicações que um autor faz de seu texto ficcional), e, como me ensinou Lula Côrtes: “eu fiz pior, sujei de sangue minha melhor camisa!”. Era necessário escrever sobre a beleza e a iniquidade daquela moça.
          Sua boca realmente não parava de tremer. Intoxicou-se de raiva, sumiu, mas me acertou com uma última punhalada antes de partir, deixou-me de saco cheio, literalmente. Falou absurdos aos meus ouvidos; coisas de um teor extremamente sensual, mas corou a noite com as mesmas atitudes ignóbeis de outrora, resumindo, me deixou outra vez na mão.   

Antes de me fazer o que fez, teve a pecha de dizer e hierarquizar as artes, as manifestações artísticas, e disse quase em um tom sagrado que o verso era melhor que a música. Maldita coitada, não sabe conviver com belezas.
           Perguntei se ela era especialista em versos e quando ela respondeu que sim, sorri e pedi um café bem quente. Minha intenção era queimá-la, deixá-la marcada para sempre. Queria mesmo era abrir sua boca com força e jogar o café fervendo dentro. Quem sabe assim eu queimaria sua língua, e ela, sem a capacidade da oralidade, prestaria mais atenção então na música; nos sons das respirações de excitação, e enfim... sem meias palavras.   

Fui avisado por amigos que ela pegaria um voo para sua cidade de origem nas próximas horas. Ela é muito doce, eu pensei. Foda-se! Mas havia outras moças, outras e outras... É isso! Tive logo a certeza de tudo um pouco depois: - “acho que ela nunca escutou a “maça” do Raul Seixas”.
           O dia estava quente em Áridas Terras. O pensamento borbulhava no juízo. O ódio que sentia daquela mulher crescia; como os acordes que cresciam no abrir e no fechar do fole da sanfona da velha dona da pensão, a irmã Zuleica.

Antes da ida daquela moça, suspirei fundo, e venci aquele ódio inicial, cumprimentando-a antes da triste partida: - “Meu Deus, meu Deus”! Fiquei ali parado, sentado no sofá em frente ao show de sanfona da dona da pensão; não pensava em mais nada. “Meu Deus, meu Deus”!
           O segundo dia é sempre mais pesado que o primeiro, e os sonhos insistem em imitar a realidade no quarto número 01.

 (Continua...)   

Por: Pássaro bege

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(Des)sufocamento

15.1.13 Calil Madrazzo 2 Comentarios



Bem, acometeu de nesses dias, por motivo(s) fortuito(s), vir a pensar na minha nova experiência: Ser Pai.

Para todo o resto da humanidade isso pode ser um assunto crucial. Está na hora de construirmos nossos valores, pensar que uma nova vida está chegando. Discutamos então a educação dos nossos filhos, e até mesmo o papel de nossa geração. Mais vale isso ou aquilo, ou será que aquilo outro é o melhor a se fazer. Não estou nem aí para educação. Que se dane a educação, que morra quem pariu essa desgraçada. Bla, bla, bla... minha vida virará de cabeça para baixo. Mi, mi, mi... nunca mais terei descanso. Bla, bla, bla... estou fodido.

Não, não se trata disso. Não pude conter-me de maneira alguma em pensar que será mais uma pessoa no mundo. Apenas mais uma pessoa. Apenas não, caráleo, será MAIS UMA PESSOA na estratosfera.

Quando será que os seres humanos pararão para entender isso?

 Ainda bem que a estrutura familiar atual não é mais composta ou tão valorizada como antigamente, aquela estrutura um pai, uma mãe, o máximo de filhos possível para indicar prosperidade, força de trabalho, e outros valores nefastos.

Quando será que as pessoas entenderão que não cabem mais pessoas nesse planeta, quando entenderão que já somos o suficiente, será que ninguém se vê como parasita? Somos parasitas incorrigíveis; e fazendo uma prospecção vejo a única alternativa para nossa parasitose a parasitação de outros planetas.

Entretanto, estando isso ainda distante, até que eu gostaria de parar de pensar sobre o quanto somos parasitários, queria deixar de me ver como uma doença para esse planeta (será que sou realmente?). A ideia do progresso a qualquer custo não me ludibria, nem mesmo a ideia de ser filho de Deus, nascido pela graça do próprio. “Uma porra que eu sou filho de Deus! Eu sou filho de um erro de cálculo da minha e mãe mais o erro de cálculo do meu pai”. E do mesmo modo será o meu filho.

“DEUS! Faça alguma coisa! Pare-nos! Eu imploro!”

É sufocante saber que daqui a um tempo os cidadãos desse planeta sentir-se-ão sufocados por outros cidadãos do mesmo planeta, que por um motivo muito óbvio não poderão se dessufocar. Não haverá mais espaço para isso. Não há de haver um cano de escape para o dessufocamento do planeta. Em verdade, em verdade vos digo, eu até tenho sentido isso ultimamente, e o pior é que, agora, estou contribuído mais e mais para isso. Cumprindo meu papel de parasita mais e mais sufocado.

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O Inconsciente do Olhar III

14.1.13 Cabotino 0 Comentarios



O futebol é a carta de Caminha de nossa geografia.

            A ponte Joaquim Cardozo, arquitetura poética que leva em sua margem o elo entre o ferro e o roedor, o Coque e os Coelhos, arqueia sobre o Rio Capibaribe embotado de hospitais e palafitas. As margens deste e na cabeceira daquela no sentido subúrbio/centro se encontra um campo de futebol improvisado em meio ao mangue, ou seria um mangue improvisado em meio a um campo de futebol? Em suma, neste dia a segunda opção foi a que prevaleceu.
            No ônibus, pangeia de ilhas a deriva em busca de uma janela, no sentido subúrbio/centro, ou seria da lama ao caos? Enfim, neste dia todo o itinerário, a lama, o caos, o subúrbio, o centro, o caranguejo, o gabiru resolveram fazer uma pequena pausa em deferência a plasticidade do lance.
            O motor a combustão queimando óleo diesel na segunda marcha acelerava o coletivo e eu que estava em uma janela na ala direita do ônibus, em uma posição mais privilegiada do que a de um outro cara que se encontrava duas poltronas na minha frente, e que a esta altura já estava com o pescoço todo retorcido para não perder o desfecho do lance: o moleque matou a bola no peito, defronte a mim, e tal qual o Diamante Negro armou o seu corpo como se fosse um chié andando devagar e o goleiro como um aratu pra lá e pra cá prevendo a bicicletada que iria receber.
            Aquele pescoço antes retorcido se converteu em uma cabeça do lado de fora do coletivo com os olhos crispados a gritar: que gol do carai!



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O Inconsciente do Olhar II

13.1.13 Cabotino 0 Comentarios



És um senhor tão moderno
Quanto à cara do meu neto
Tempo, tempo, tempo, tempo

             Sim, era um aniversário com certeza, amigos, familiares, churrasco, galinha assada, cerveja gelada e a tríade do canto do cisne do império britânico – baixo, bateria e guitarra – valvulados na garagem. Dos cinco filhos, duas mulheres e três homens, estes inclinados ao rock n roll desde a terna idade e estavam ali com seus amigos, inclusive este que vos escreve, tirando um som no descanso de Deus, o domingo.
            Dos cinco netos, duas mulheres e três homens, o mais velho já era motivo de orgulho da família, desde cedo campeão de karaté, exímio nos estudos e imbatível no Wing Eleven, o que deixa os tios invocados, mas complacentes com a derrota, pois é a geração do joystick com o seu ímpeto catódico. Enfim, um bom menino, destes que outrora estampavam as capas da revista Pais e Filhos.
            De repete a música para, e os chamados vem do microfone: Cauã! Cauã! Ele chega meio desconfiado e o tio do meio diz: vamos tocar tempo perdido e tu vai cantar, seu rubor foi do tamanho dos seus 16 anos, mas se refez e começou a cantar: [...] não temos mais o tempo que passou/ mas tenho muito tempo. E o avô ouvindo a voz do neto se aproximou da garagem e com as mãos no portão ficou olhando o neto com os seus olhos marejados, não era um olhar de hereditariedade dos 7,666 cromossomos seus presentes naquele corpo em formação; não era ternura; nem tampouco carinho; era o amor casado com o tempo e quando este enlace se realiza tudo é pleno, inclusive em um domingo.

* Dedico esta crônica ao filme do M. Haneke: Amour.

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8.1.13 Foi Hoje! 0 Comentarios



(...)

- Aprendi hoje a soletrar meu nome!

- Foi mesmo, quero ver então, me mostre.

- Pera aí que volto já, já.

(...)

- Aprendi hoje a soletrar meu nome também, e ainda por cima, aprendi hoje como assinar.

- Assinar? O que é isso?

- Pera aí que volto já, já.

Moral da história: Subscreva tudo. Vá lá meu jovem, subscreva!  Quem sabe um dia tu terás na pça. “Onze de Novembro”, no município de Piracicaba, um Obelisco cheio de dizeres em direção ao sol. E Osíris o saldará em outro mundo e também em outros, outros, outros, outros... n’outros mundos. Só assim ecoará a voz de sua caretice e mesquinhez nos ouvidos dos doidões, e os doidões, por sua vez, encaretariam o processo!

Mas por fim eu vos digo meu nome... Meu nome é A-N-A-C-L-E-T-O. E meu CPF é 340.908.214-XX.  

 

 

Por: Coruja Felixberto Carvalho.

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"Cabelos de Coco"

5.1.13 Foi Hoje! 2 Comentarios


Para família e amigos

Era tido e conhecido na rua, entre os seus amigos, como um menino bom. Realmente, ele era gente fina. Conversa sóbria, uma simpatia natural de dá nos olhos. Dava na vista da gente de longe que além de um rapaz bonito e elegante, "Cabelos de Coco", era também muito engraçado.  

Era meio malandro, também meio atrapalhado. Não muito afeito a seriedade de seu ofício acadêmico. Nos espaços reservados aos assuntos futebolísticos, era vaidoso, não gostava de perder peleja pra seu ninguém nas resenhas informais entre os amigos. Era um torcedor doente por futebol bem jogado. Como eu, talvez, até como você, ele costumava sorrir bastante. Hoje ele morreu.

Morreu para os meus olhos às 12h30 da tarde de hoje. Deu no noticiário da TV, circulou depois nas redes sociais e o que era um possível desaparecimento, quem sabe coisa de cabra que gosta de curtir a vida e que estava mesmo era por aí, lombrando! Fazendo algo de bom em um final de semana chuvoso, como esse que se passou, mas não. Ele foi encontrado morto, foi hoje.

Em um dos poucos papos que tivemos, uma informação me chamou muito a atenção para um traço sui generis de sua personalidade. O bicho! O tal "Cabelos de Coco", não comia nada.

Alguns amigos dele zombavam, melhor dizendo, “tiravam onda”, de sua condição de “abstêmio alimentar”.

Um dia, numa pelada, eu lembro até do papo que tive com ele:

- Ei velho, me diga aí, essa história de que você não come, isso é verdade?

- Eu como, pô! É claro que eu como. É porque às vezes, eu tenho preguiça de comer, tá ligado!?.     


por: Pássaro bege.   

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