Olhos nos olhos quero ver o que você faz...
Com
seus olhinhos infantis / Como os olhos de um bandido
(C.
Veloso_ Esse cara).
Há
uma Capitu dentro de nós e Machado também a tinha dentro de si. Ele é o autor
que pisca para nós, nos chama e fala: cara leitora.
Pensei
no bruxo do Cosme Velho hoje por ocasião deste texto em que, irei narrar o
que ocorreu comigo há pouco.
Pois bem, indo ao Centro do Recife com destino ao ao médico, cometi um deslize que toda mulher herdeira da esposa de Bentinho jamais poderia cometer.
Pois bem, indo ao Centro do Recife com destino ao ao médico, cometi um deslize que toda mulher herdeira da esposa de Bentinho jamais poderia cometer.
Estava
sentada de pernas cruzadas olhando a minha nova sapatilha e perguntando-me,
quando irei encontrar uma sapatilha que cubra todos os meus longos dedos, nunca
encontro uma em que esconda totalmente os vincos dos meus dedos. Daí comecei a
perceber também que a minha depilação das pernas estão vencidas... “Qual parada
devo descer no Derby?... Acho que vou comprar alguns destes amendoins etc...”.
Acho
que foi em Werneck que ele subiu. Um cara com uma camisa xadrez, calça blue
jeans, fones nos ouvidos, tênis casual, rosto lívido envolto em uma barba
espessa, olhos grandes, porém apagados, sobrancelhas naturalmente perfeitas,
nariz levemente proeminente, cabelo parecido com os de, Jean-Pierre Léaud em
Les quatre cents coups (Truffaut, 1959). Não fazia muito meu estilo – prefiro homens com olhares
de lince e que tenham sangue em suas presas –, mas era hediondamente bonito.
Sentou, cruzou as pernas e pouso um vago olhar na paisagem da janela como se tivesse recitando uma michá.
Sentou, cruzou as pernas e pouso um vago olhar na paisagem da janela como se tivesse recitando uma michá.
Incrivelmente
aquele olhar me envolveu. Fiquei tentando imaginar o que estava passando pela
cabeça dele e no que ele estava ouvindo, evidentemente, o observava com todo
cuidado para não ser indiscreta. Acho que ele é daqueles homens em que, quando
marcamos algum compromisso, ele nos pergunta, que dia é hoje? É de acabar com
qualquer uma.
Suas
mãos deitadas delicadamente em seu regaço, provavelmente pensando em alguém que
valia à pena pensar, ao som, acho, de E. Satie, T. Vaselines ou N. Cavaquinho.
Nossa,
como aquele olhar lembrava um filme de K. Mizoguchi, todo envolto de névoa e
noite. Tão diferente do meu olhar de cigana oblíqua e dissimulada.
Acredito
que toda mulher goste de homens resolutos, mas se eles vierem com cara de
loser, seria perfeito.
Estava
com um semblante tão plácido que, se uma mosca pousasse em seu nariz ele nem
sentiria. Uma calma de água parada que desarma qualquer vigilância.
Ele
desceu em uma estação antes da minha, acho que em Afogados, e, neste instante,
em que caminhava sucintamente como um tigre em direção à rampa de entrada e
saída da plataforma, ele olhou de soslaio para mim e captou o meu olhar em sua
direção. Ele venceu a luta contra a cara leitora, flagrou o meu olhar no seu.
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