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homens que vendem
coisas no centro da cidade, homens que vendem meias, homens que vendem
sandálias, homens que vendem anéis, pulseiras, cordões de prata, homens que
vendem de tudo, homens que vendem almoço, janta, café da manhã, de tudo, doces,
de tudo, café, caldos, que não param de vender, precisam, não tem carteira
assinada, não podem, ganhariam até menos, homens que ganham menos, cobradores
de ônibus, homens que pagam o preço, até tarde da noite, homens que vendem
macaxeira, batata doce e frutas e legumes e facas e calculadoras agulhas
abridores de garrafa abridores de latas de sardinha antenas para tv panelas de
pressão o dia inteiro no pé da ponte da boa vista. mas esses homens não
descansam. vendem. precisam vender. controles, joias, roupas para bebês, homens
dentro dos coletivos que vendem toda agonia precisa com a paz do senhor jesus
cristo o caralho. e eu compro. porque homens. homens não. mas e mais homens que
se vendem nunca vi, que se vendam sexo assim, nos coletivos. homens de pau
grosso, de rosto sofrido e que precisam, em casa suas crias e suas mulheres que
também são crias suas, essas suas mulheres, quero um dia falar das mulheres
desses homens que vendem, e que passam o dia inteiro a vender e não há sol que
os estagne. preste bem atenção, não há. preste bem atenção, se nunca olhastes
bem os olhos dos vendedores de pipoca que correm e CORREM E CORREM E CORREM e
pedem ao motorista do coletivo peraí motô!, janelas, trocos, pochetes, depois
punhetas, gentes, toda a guarda real do capibaribe. o que seria de nós sem os
homens que vendem? o que seriam de nossa almas sem eles? sem esses homens que
vendem e sofrem não, são até alegres, eles já foram ao hospital do câncer em
santo amaro e já frequentaram casas de recuperação e sabem e dizem uns aos outros
que isso de vender e gritar e pedir e de ter olhos cansados e muitas vezes
cheios de revolta não é sofrimento não. é a vida mesmo. boa. que deus dizem um
dia proverá um caralho. quero dizer, que deus um dia proverá, caralho! um
caralho dos grandes, esperamos. que de pomba fina os homens que vendem já estão
cheios. até o talo.
por Temerário Lua
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