Fernando naquela noite de carnaval
Fernando
tem hoje quase 67 anos, mas no carnaval de 1965 ele tinha 17 anos e uns tantos
meses de idade. Para que sua irmã pudesse sair com o namorado, teve que levar
Fernando. Este ficaria de tocaia para que seus pais dormissem sossegados com a
certeza de que a moça não sairia da linha e de que seguiria os dogmas que a
moral e os bons costumes ditavam como comportamento ideal para uma mulher jovem
na época; nem mesmo no carnaval o moralismo tira folga. Mas parece que Fernando
estava mais atento àquela noite de carnaval do que a sua irmã e brincou
empolgado até suar a camisa e para refrescar, abriu uma garrafa de cerveja e
tomou o precioso e gelado líquido com tanto prazer que isto ficou marcado na
memória de seu paladar e marcou de tal forma que cinco décadas depois ele narra
a experiência como se ela estivesse se repetindo ali na sua frente, tão
concreta quanto à magia daquela noite. Saciada a sede, caminhou pelo salão de
festas do Clube Náutico Capibaribe e se deparou com um sujeito forte que batia
nas pessoas usando para isso a mão enrolada pela camisa. Em meio ao movimento,
o sujeito levantou o rosto e deu de cara, à distância, com o rosto de nosso
folião e gritou para este apontando “você!” e a figura ignorante começou a
andar em direção a Fernando. O público abria espaço e o brutamonte ia
avançando. Fernando nem pensou em correr, pois viu entre os observadores um
colega de escola que vivia pegando no seu pé e imaginou, sem precisar pensar
muito, que fugir lhe condenaria a ser chamado de covarde na escola. Por outro
lado, ele não tinha coragem, tampouco força, para brigar com o troglodita. O
nosso jovem já era alto, aproximadamente um metro e noventa centímetros, mas era
só um menino, um garoto comprido. Não conseguindo pensar no que fazer, ele nada
fez. Não seria chamado de covarde pelo colega de escola, mas como sairia ileso
daquele momento? Quando o grandalhão estava a um passo de desferir um soco em
nosso rapaz, este, muito mais por instinto do que por qualquer ação que
possamos chamar de racional, esquivou-se
e o sujeito, que já estava bem bêbado, rodopiou, desequilibrou e caiu. Assim
que caiu, a polícia chegou e recolheu o encrenqueiro. Nesse momento o cunhado
de Fernando apareceu, sem saber que ele quase fora surrado, e o puxou daquela
agitação falando algo mais ou menos assim: “rapaz sai dessa confusão!”. Fernando o acompanhou feliz e aliviado.
Estava salvo nosso anti-herói de carnaval, nem tão corajoso tampouco covarde.
Castanha 07 de março de 2014
1 comentários: