Fernando naquela noite de carnaval

29.3.14 Castanha 1 Comentarios



Fernando tem hoje quase 67 anos, mas no carnaval de 1965 ele tinha 17 anos e uns tantos meses de idade. Para que sua irmã pudesse sair com o namorado, teve que levar Fernando. Este ficaria de tocaia para que seus pais dormissem sossegados com a certeza de que a moça não sairia da linha e de que seguiria os dogmas que a moral e os bons costumes ditavam como comportamento ideal para uma mulher jovem na época; nem mesmo no carnaval o moralismo tira folga. Mas parece que Fernando estava mais atento àquela noite de carnaval do que a sua irmã e brincou empolgado até suar a camisa e para refrescar, abriu uma garrafa de cerveja e tomou o precioso e gelado líquido com tanto prazer que isto ficou marcado na memória de seu paladar e marcou de tal forma que cinco décadas depois ele narra a experiência como se ela estivesse se repetindo ali na sua frente, tão concreta quanto à magia daquela noite. Saciada a sede, caminhou pelo salão de festas do Clube Náutico Capibaribe e se deparou com um sujeito forte que batia nas pessoas usando para isso a mão enrolada pela camisa. Em meio ao movimento, o sujeito levantou o rosto e deu de cara, à distância, com o rosto de nosso folião e gritou para este apontando “você!” e a figura ignorante começou a andar em direção a Fernando. O público abria espaço e o brutamonte ia avançando. Fernando nem pensou em correr, pois viu entre os observadores um colega de escola que vivia pegando no seu pé e imaginou, sem precisar pensar muito, que fugir lhe condenaria a ser chamado de covarde na escola. Por outro lado, ele não tinha coragem, tampouco força, para brigar com o troglodita. O nosso jovem já era alto, aproximadamente um metro e noventa centímetros, mas era só um menino, um garoto comprido. Não conseguindo pensar no que fazer, ele nada fez. Não seria chamado de covarde pelo colega de escola, mas como sairia ileso daquele momento? Quando o grandalhão estava a um passo de desferir um soco em nosso rapaz, este, muito mais por instinto do que por qualquer ação que possamos chamar de racional,  esquivou-se e o sujeito, que já estava bem bêbado, rodopiou, desequilibrou e caiu. Assim que caiu, a polícia chegou e recolheu o encrenqueiro. Nesse momento o cunhado de Fernando apareceu, sem saber que ele quase fora surrado, e o puxou daquela agitação falando algo mais ou menos assim: “rapaz sai dessa confusão!”.  Fernando o acompanhou feliz e aliviado. Estava salvo nosso anti-herói de carnaval, nem tão corajoso tampouco covarde.    
Castanha 07 de março de 2014

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Dentro da estrela azulada

27.3.14 Cabotino 1 Comentarios


                                                  "pó da estrada brilha nos meus olhos
Como a distância matando as palavras".

Toda despedida dói, isso é um pleonasmo. Excetuando a morte, inevitável para todos nós, a despedida que mais nos dilacera é a marítima. Quem não se lembra das fotografias em preto e branco das companheiras se despedindo dos seus companheiros com aquela ênfase que só a ida à guerra proporciona – à plataforma de embarque repleta de acenos, os lenços brancos tremulando, os beijos com o gosto de “estarei te esperando”.

Das três despedidas – pedestre (rodoviária); celeste (aeroporto) e mareste (neologismo para se referir a despedida pelo mar, em um cais) irei me referir mais detidamente à despedida terrestre, deixando de lado a celeste (avião) por ser ainda algo novo para o grosso da população brasileira e também pela falta de ênfase tanto dos aeroportos (todos assepticamente parecidos) quanto das despedidas (em sua maioria comedida e seguindo os ritos da disciplina emocional da classe média) e, por fim, a mareste ficará de lado, pois já há uma vasta literatura artística sobre esta forma de despedida, por exemplo: o livro Mensagem de Fernando Pessoa, a música Vapor barato de W. Salomão e J. Macalé entre outras narrativas.

Já repararam como às rodoviárias são locais por excelência do drama humano? Pergunto-vos, quantos mendigos vocês encontram em um aeroporto ou em um cais? Não temos asas tampouco guelras, mas temos pés e estômago e os pés levam-nos onde a vida foge, onde a vida retorna, onde a vida é nervosa e onde dá para correr vida afora e país adentro.

Toda rodoviária é uma saudade movida a óleo diesel.

A estrada tem a concretude da mobilidade humana, nela sempre iremos morrer apesar dos cintos de segurança e dos air-bags duplos, porque lançar-se sobre ela é um mergulho em busca de novos ares e, ar é vida e a vida é tão inevitável quanto à morte.

Se o brasileiro é um desterrado em sua própria terra, o nordestino é um Odisseu sobre rodas e sua Ítaca é a errância por este país de 8 milhões de km², de vidas e corações partidos – o baião é uma invenção das paisagens que ficaram para trás.

A viagem aérea reflete um Brasil engenhoso de Santos Dumont e Tom Jobim (não é à toa que ambos viraram nomes de aeroportos) como as batidas de um relógio de pulso ou dos acordes dissonantes da Bossa Nova. Já a viagem pelo mar ou por rio traduzem o ritmo lânguido e triste das águas como a voz em banzo de um Dorival Caymmi. Porém a estrada guarda o mistério de nossos interiores como um ensandecido Villa-Lobos sempre indo ao Ocidente do Ocidente – uma viagem ao fim de nosso sertão.

Os ônibus dobram a esquina e acabou. Os barcos vão devagar até serem engolidos, demoradamente, pela barra do horizonte. Os aviões somem assustadoramente entre as nuvens. Mas, só nos ônibus é que podemos parar no meio da estrada para comer e quem sabe encontrar o amor de nossas vidas ou então simplesmente perder o ônibus.

A estrada à noite revela mais estrelas do que o céu de um avião ou o firmamento distante de um navio em alto mar. A lua da estrada é mais confidente porque a encaramos em 180° como o traveling de um road movie.


Da Companhia de Jesus ao GPS o Brasil foi inventado pelas estradas e, só quem volta para casa após uma noite de estrada, sabe que não há mais lugar fixo no mundo, pois a vida tornou-se uma frase de para-choque de caminhão – uma mensagem em movimento.







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A odisseia do mangue e alguns plásticos bolhas... [1]

24.3.14 Calil Madrazzo 3 Comentarios


Sinceramente, não gosto de frases que começam com "a vida é...". "A vida é assim, a vida é assado". Me desculpe José, você está sendo influenciado por esses caras da igreja. Para te dizer a verdade, não existe esse tal de "a vida é..."

Mas tá bom, Raimundo. Me perdoe, mas odeio gentinha que fala que vai ser sincero, que é uma pessoa sincera, se você é ou não é, pouco me importa. E não me venha com esse papo de que não existe isso ou aquilo, ou aquilo outro lá. Existe sim. Existe isso, aquilo e aquilo outro lá também. Assim como dois mais dois é quatro. Vamo pedir mais outra cerveja que não desce esse seu papo de filósofo da Mustardinha que foi morar em Afogados.

Tu que é filósofo de meia tigela e não entende das paradas. Antes fosse uma tigela cheia. Né não? E agora José?...

José e Raimundo, gostavam de passar horas e mais horas discutindo besteiras, trocando farpas e acusações, algumas vezes até ingratas. Besteiras que nunca levavam seus egos a qualquer lugar, as vezes apenas a Baco.

Também não levavam a resposta alguma, apenas à certeza de que nenhum iria ceder. Até porque sabiam que a amizade entre os dois era boa.

Ambos foram para casa satisfeitos por haver discutido coisas ridículas e sem sentido, assim como se fazem nas faculdades. Foram embora como dois grandes filósofos vão após um belo banquete, foram-se satisfeitos por ter aumentando o laço de amizade e também o nó da ignorância.

José foi para casa, pegou o beco Horizontina, Mangueira, e chegou. Sua mãe, dona Dilma, estava acordada esperando o danado do filho. Não estando em casa podia estar morto.

Já foi beber! DEMÔNIO! Tu nem liga pra avisar, rapaz!

Já mãe, já fui bebê, já fui criança, hoje eu sou adulto, disse José citando o grande poeta do Ceará, Espanta.

É o que rapaz?! Tá tirando onda da minha cara é?! Respeite sua mãe, seu merda! Amanhã você vai pro culto comigo, quero filho meu andando com o Satanás não! Chega, já basta teu pai!

Oxe, vou nada, mainha. Vou é pro terreiro de vovó.

Ai meu DEUS DO CÉU!

Dona Dilma era mulher muito fervorosa no protestantismo pentecostal. Era uma missionária do fogo do Espírito Santo. Para sua igreja, já estava salva. Mas isso não lhe deixava feliz, o pastor lhe maltratava todos os dias porque seu filho e sua mãe estavam no mundo, na perdição. 

Dona Dilma, que Deus abençoe sua família... Vamos fazer uma oração pra família de Dona Dilma, para que eles... Dizia o pastor sempre que podia.

Ah, meu filho continua bebendo, minha mãe ainda ta na macumba, eu queria que vocês orassem por eles, para que eles encontrassem Jesus... Dizia Dona Dilma para fazer a média.

Dizem que Deus escreve certo por linhas tortas, dizem que o homem tem livre-arbítrio, dizem-se tantas coisas, fazem-se tantas outras. 

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Pela janela

18.3.14 Cabotino 0 Comentarios


             A televisão matou a janela (N. Rodrigues)

Não sei o que tem janela de ônibus para nos fazer pensar e repensar os rumos de nossas vidas ao sabor da cidade que ora se aproxima ou se distancia como o som das sirenes.

Qual não é a nossa satisfação quando subimos em um coletivo e damos de cara com uma cadeira vazia e ainda por cima na janela. Ou quando está lotado e alguém vai descer justamente no par de cadeiras que você esta ao lado esperando qualquer desenrolar: corredor ou janela? E para sua surpresa é a janela e o melhor, quem ficou no corredor não a quer – a sorte se levantou para você.

Já reparam a quantidade de guimbas de cigarros que encontramos em torno das paradas de ônibus? Dizem até que se você acender um cigarro o seu ônibus aparece em um passe de mágica. É mentira, sou fumante e isso só às vezes acontece.

Enfim, acredito que o desamparo ao relento e a demora façam com que as pessoas anseiem o seu ônibus, mas à reflexão com um cigarro é comprometida pela expectativa do coletivo. Uma vez no ônibus e, repito, só na janela o nosso pensamento alça voou com o nossos corpos em movimento e encapsulados por toneladas de ferro, aço e vidro e com a cidade dilatando e contraindo no intervalo de cada semáforo vermelho – é a respiração sofrível da cidade que cadencia o ritmo de nossos pensamentos.

Qual não é a nossa satisfação em pegar um ônibus tarde da noite e na janela sentir o vento batendo no focinho como um poodle na janela de um carro, eles também apreciam... A reflexão vai ao ritmo do motor e a cada viaduto e avenida às luzes de mercúrio ditam o tempo e o espaço de nossos pensamentos refletidos através das pichações, galerias, praças etc., a respiração da cidade flui a essa hora e em suas artérias nossos pensamentos são como hemoglobinas.

No trânsito tentamos nos proteger em nossa janela da polifonia e polissemia da metrópole. Ao som de nosso playlist do celular ou em uma FM qualquer acumulamos informações compartilhadas com a sensação de exclusividade. Pensamos na pessoa amada e vemos mais um motociclista sendo atendido por uma ambulância. Pensamos em nosso trabalho e alguém oferece mais uma mercadoria, neste mundo já tão cifrado, dentro do ônibus. Pensamos em nossa família e amigos e aquela menina linda no ponto do ônibus, com olhos cansados que pensa também em alguma coisa, e que responde fugazmente ao nosso olhar e até com certa sensualidade, mas logo nos esquecemos dela no instante do próximo outdoor.

Quem nunca perdeu ou quase deixou de perder o ponto que iria descer por conta das reflexões em uma janela de ônibus? O movimento é o pai da vida moderna e nossos pensamentos, por mais que queiram, ainda guarda raízes pré-modernas, principalmente quando há muito estímulo – paradoxalmente estímulo é inércia e a janela de ônibus é a prova disso.

Por fim, sempre queremos chegar logo ao nosso destino, mas em uma janela de ônibus este desejo é retrato tirado na paisagem emoldurada pelas lentes da janela.






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Renascendo

12.3.14 Unknown 0 Comentarios


Estávamos eu e meu amigo C., deitados no mesmo ambiente e separados por alguns metros. Tentando vencer a ressaca, e reunindo forças para o que a noite próxima reservava, embalávamos uma conversa, aquela do melhor tipo, sem muita regularidade e sem forte compromisso, onde você joga as palavras mais para o vento que para o interlocutor, que só responde se achar pertinente ou se vencer a fadiga, de maneira que a prosa tem mais lacunas, pausas, roncos, tosses e muxoxos do que falatório propriamente dito.

Num dado momento ele me pergunta pelo meu sobrinho, ao passo que eu respondo que está muito bem e cada vez mais inteligente. Ele já fala me perguntou, se esforça eu respondi, quando ele falar teu nome, teu nome, assim, o nome pelo qual ele te chama, sabe, tu vai ver como é..., ficou reticente meu amigo, no que eu emendei uma pergunta para evitar que o sono lhe fisgasse, é como o quê?, diz aí!, ah, velho, a primeira vez que meu sobrinho me chamou foi como se eu nascesse de novo, fiquei emocionado, meu sobrinho já me chama eu disse, ah, então tu sabe como é, já viu como é bacana.

Mas isso foi há muito tempo, na época em que qualquer palavra ensaiada pelo menino era um acontecimento, rendia assunto para um semana, a mãe ligava para a avó, que repassava em detalhes para a bisavó, que contava para os outros filhos, que no jantar comentavam com seus respectivos filhos, que são os netos, isto é, meus primos, de modo que o saldo geral era uma família abobalhada com o mais trivial passo do crescimento. Hoje em dia o menino já fala com mais constância e clareza, pede água, pede a carne do almoço, pede para ouvir as músicas do "patá" - malditos palhaços-, avisa quando vai fazer um xixi, e reclama - "nãããão" - se alguém mexe nos seus brinquedos. E eu, despertado não muito cedo por fortes batidas na porta de sua ainda pequena mão e por gritos estridentes de "titio!", venho, não sem alguma perplexidade, renascendo todos os dias.


Da esquecida porém não finalzada série Te mostro quando souber ler.

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Cascos, multicoloridos, cérebros

11.3.14 Unknown 1 Comentarios


"A química é o demo
e quer, então, nos destruir"
(Sabotage)


o que é isso, hem?, o que é isso? eu não estou me sentindo bem, tem algo de errado de aqui, aquelas pessoas, o que tanto fazem ali?, por que riem tanto?, riem de mim? vamos sair daqui, agora!, aqui não é seguro. não confio neles porque... espera, tenho náuseas, acho que vou cair... preciso de um banho, tenho calor, muito calor, meu coração tá acelarado, já passa, meu deus, tenho frio, não consigo... vai pegar água, não, não, não sai daqui. será que eu consigo dormir? e se eu dormir, vai ser tudo normal, acordar, tranquilo, como num dia qualquer em que só fumamos um baseado? cadê o botão de desligar? não tem? meu deus, tenho que pagar a conta. quantas horas mais de agonia? não posso sequer ficar estático, os músculos se mexem sem minha ordem, como se não bastassem meu batimento acelerado e meu suor escorrendo, que me dão a péssima sensação de que corri parado e que a qualquer momento desvaneço no chão de cansaço... preciso dormir, tenho os ombros pesados, e ao mesmo tempo tenho medo de dormir, dormir e não acordar mais, passar para um  nível onde o sono é eterno e os pensamentos não cessam jamais, um fluxo de imagens e sensações que não posso dar conta, uma sucursal do inferno. mas e essa música?, maldita música repetitiva que martela minha cabeça! tuduntchipá eternamente, ad infinitum, não muda, me vence - ela entra em espiral através dos meus ouvidos e como um objeto pontiagudo fere minha consciência. enquanto as cores ferem meus olhos, apaguem as luzes, porra!, pra quê tanta luz piscando? pega água, preciso, mas deixa a porta fechada! não vamos dar motivo pro falatório daquelas pessoas, elas não são terreno seguro, tá claro que só você passa confiança...

já são 14h e finalmente consigo comer algo: me lambuzo com uma manga, e admiro os raios do sol por entre as folhas da árvore, nunca foram tão bonitos. sinto alívio, o pior já foi, está longe, logo poderei deitar.

[...]

mesmo lugar. mesmas pessoas. mesmo movimento - levar algo até a boca. alguém fala... e... sinto os músculos da perna se contraírem. vamos para o quarto? não estou bem aqui. o que foi? de novo, aquele negócio, tô sentindo as mesmas coisas. mas como pode? num sei, mas eu estou sentindo, porra!, acredita em mim! vou tomar banho, tenho calor. pega água, vai. não, pega leite, tua amiga falou que leite ajuda. fecha a porta, aquelas pessoas estão aí. eu estou afundando... será que vou ter percorrer tudo aquilo de novo? não, é demais. por favor, não. uma vez basta. calma, tenha calma. você não ingeriu nada, percebe? jura? juro. foi só um pensamento que veio à tona e despertou coisas ruins. mas estou sentindo! fisicamente, entende?! entendo, perfeitamente. você não mente. mas não é nada. as coisas estão normais. você pode vir aqui, tocar, sentir, andar e falar. foi um mal entendido. aquelas coisas não vão ocorrer de novo. me garante? garanto. então me dá a tua mão, me ajuda a melhorar.












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A moça na foto

7.3.14 Castanha 2 Comentarios









Quantas vezes somos fotografados sem perceber? E quantas vezes fazemos o mesmo com estranhos, sem que percebamos também? Cheley chamou minha atenção pra isso ao perceber que tinha, acidentalmente, cedido sua imagem para a foto que uma mulher batera de outra num espaço ao lado do nosso. Revirando as fotos da infância me pergunto por onde andam as meninas com quem dancei nas quadrilhas de São João nos primeiros anos de escola. Estão todas nas fotos, mas não sei onde estão e percebo que nunca soube quem eram de verdade, porque não eram próximas de mim na escola; estávamos ali, dançando, por um arranjo das professoras. O mesmo vale para as tantas crianças que aparecem em fotos coletivas em tantos eventos que preencheram minha infância; muitos destes eventos eu detestava. Mas, vá lá, estas não são as piores, pois, todos estavam cientes, é o que se espera, de que estavam sendo fotografados. E nos outros casos, quando não sabem? Quem é aquele garotinho que aparece ao meu lado na foto de formatura da alfabetização e que estava de costas para a câmera. Eu tinha ainda cinco anos e ele era muito mais jovem. Quem são as tantas pessoas que ficam nos bastidores das imagens quando fotografamos em lugares movimentados? E quem são ainda as que passam entre quem fotografa e quem está fotografando no momento que o botão de fotografar é acionado? Antes de pedir Jéssica em casamento, Gerson cantou uma canção para ela ao som e ao lado de um teclado dentro em um restaurante lotado; o tecladista não estava olhando quando ele e Gerson foram fotografados durante essa ação inusitada. Quem é aquele casal abraçado dentro da água naquela fotografia em Jacumã? Os caras jogando futebol no campo da chácara perceberam que foram fotografados? Dificilmente. Quando eu estava Conversando com Kleiber, Camila nos fotografou, e eu só soube disso dias depois. E ninguém reparou quando eu fotografei todos em baixo do pé de umbu. E aquela moça sentada na janela do casarão? Ela estava olhando na direção da câmera quando sua imagem foi congelada, mas será que ela percebeu? Duvido muito! Sabe por quê? Havia uma grande distancia entre ela e a lente da máquina. A distância espacial, com tantos incontáveis metros, quebrada apenas pelo zoom da câmera, talvez tenha permitido que ela não visse o que estava, apesar de muito longe, bem na sua frente: um fotógrafo.

Castanha 07 de março de 2014 


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