Já matei por menos

20.3.13 Joarez 2 Comentarios




Com o inseparável cigarro no bico, Tenório contava as histórias mais fantasiosas de que já se teve notícia, ao menos pelas bandas da Zona Oeste. Clássica era aquela em que ele narrava o convite que recebeu para descer do coletivo e adentrar a Mercedes de uma balzaquiana, linda:

- Ei, psiu, você: - desça do ônibus e venha para o meu carro. Agora.
- Quem, eu?
- Sim, você. Desça, e venha agora.


Apesar de resvalar na cômico algumas vezes, Tenório, também, não era o que se pode chamar de um doce de pessoa. A lista das coisas que lhe chateavam era imensa: não gostava de tomar de banho, nem de que perguntassem a respeito; não gostava de quem conversava cutucando, nem de quem falava perto demais, nem de quem exagerava no tom da voz; não gostava de cigarro de filtro vermelho; não gostava de gente afoita; não gostava de ser interrompido quando narrava suas epopeias; não gostava de alma sebosa; não gostava de mulher metida; não gostava disso, daquilo, etc., etc., etc.

Para impor algum respeito, intercalava entre duas e três histórias, alguma muito sinistra, que falava de como um fulano foi "derrubado" por causa de alguma "fuleiragem" grande. No final, emendava:

- Também, pudera: depois de uma comédia dessa, o caba só podia tá pedindo pra morrer.

Donde "comédia" vinha a ser a ausência de R$ 5,00 para fechar a conta do bar, uma cobiçada fora de hora na mulher do próximo, uma entrada mais firme na pelada do fim de semana, e coisas do mesmo gênero. Certas vezes, o exagero passava despercebido. Noutras, entretanto, encucava alguém, que perguntava a Tenório se não era demais "derrubar" uma pessoa por coisa tão amena, pequena, boba, sem importância. Aí  era que ele deitava e rolava. Era tudo o que queria, era um passe na cara do gol, a faca e o queijo, o grande momento. Ao ouvir algum contraponto deste naipe de algum espectador, Tenório interrompia o gestual, fazia uma pausa teatral na conversa, pigarreava e tascava:

- Eu já matei por menos, visse?




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O novo Papa é latino-americano

14.3.13 Pássaro Bege 3 Comentarios


          Enquanto isso... no clássico dos clássicos, Brasil e Argentina, deu, Ar-rên-tina! Dito assim, meio anasalado... Habemus Miséria, Habemus Fome, Habemus guerra!!! Só num habemus paciência, num habemus tempo pra ficar esperando uma fumacinha branca, ora!!!

          É a combustão o que importa e não a cor da fumaça...

          Somos de uma geração que já presenciou dois conclaves, algumas copas do mundo... Vamos lá! Quem é que num lembra de 1990!? Daquela tarde “cinzenta” em que o Brasil perdia para a Argentina ... naquela copa do mundo, daquele ano....

          Por isso... Em homenagem a São Francisco de Assis e não a São Francisco Xavier, eu vos digo: o novo Papa é um Francisco, mas não um franciscano!? Que merda! GOOOOOL da Arêntinaaaaaaaaaa! ... Vixe! e ainda foi contra o casamento gay na Argentina. É um brincante de primeira linha essa Senhora retrógrada.

ps. Como dizia um amigo: “todo brasileiro acha que sabe falar espanhol” e eu emendo a sacada dele: “todo brasileiro acha que sabe falar Latim, Inglês, Alemão, chinês, et cetera, et coetera!!! Então, num me encha os pacovás!

Pacovás é Latim, né?

por: Pássaro bege

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Aforismos, disparates, flechas e outros ditos jocosos II.

11.3.13 Cabotino 3 Comentarios



Tudo o que é sólido se desmancha no bar.
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A memória é uma ilha de ficção.
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Quando um cônjuge diz ao outro: “você está no seu direito”. A partir deste instante, os seus corpos deixam de ser legítimos para se tornarem legais, tão qual o poder judiciário, moroso e complacente a interesses externos.
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No dia em que sonhei com a História acordei sobressaltado e todo suado, joguei no “Bicho” e errei o milhar. É impossível ganhar alguma coisa apostando em um pesadelo.
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Minha mãe sempre me dizia: "diga sempre obrigado... Peça licença... Lave as mãos... Seja gentil... Não fale com estranhos... Comporte-se... Seja educado... Saiba entrar e sair dos cantos...". Talvez por isso, eu tenha a sensação de que tudo de miserável que acontece neste mundo tenha a minha cumplicidade.
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Estou walking and shitting para Wall Street.
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Acredito que Adão e Eva só foram expulsos do Paraíso depois que a Serpente foi circuncidada.
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A administração do Palácio da Alvorada contabilizou um consumo estratosférico de uísque e camarão no período Collor, já na época de FHC este consumo foi mais modesto, ficou por conta dos Imosecs e dos soro caseiro.
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Se eu tivesse o carisma que a presidente Dilma tem, creio que iria trabalhar como carpideira.
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O Neoliberalismo nos ensinou que o Estado dever ser mínimo, assim como os nossos sonhos e salários.
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Rick diz para Ilsa no final de Casablanca: “nós ainda teremos Paris”. E eu disse a uma ex-minha: “nós ainda teremos Recife”. Que triste...
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Vivemos em um tempo que ninguém pode comer uma batata frita sem ter que ir depois confessar-se com um padre.
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Depois dos dois governos Lula eu entendi porque a sua residência oficial, que ele morou nos dois períodos, se chama – Granja do Torto.
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Os homens são seres de ideias curtas e cabelos idem.



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Daniel na moderna cova dos leões

8.3.13 Pássaro Bege 2 Comentarios



Faço nosso o meu segredo mais sincero

E desafio o instinto dissonante.

A insegurança não me ataca quando erro

E o teu momento passa a ser o meu instante

(legião urbana: Daniel na cova dos leões) 

 

            De intérprete de sonhos a grande profeta! Daniel, personagem bíblico do antigo testamento, dispensa maiores apresentações sobre sua coragem, fé e ousadia política. Contudo, da vida de Daniel da Silva, sabe-se pouca coisa. Filhos de pastor evangélico, sua vida foi um eterna luta, e como o profeta, enfrentou a fúria dos leões, dia após dia, por conta de sua orientação sexual diante de nossa fascista e preconceituosa sociedade.

            Começou a travar sua luta já no interior de seu seio familiar; luta que estendeu à escola, ao mundo do trabalho e à vida pública de uma maneira geral. Hoje, Daniel mora com seu grande amor Dario, ironicamente, o nome do rei que indo à cova em que Daniel o profeta havia sido jogado, surpreendeu-se ao ver que este não havia sido devorado pelos leões; reconhecendo assim sua fé e coragem, atribuindo-lhe o respeito devido.

            O Dario de nossa crônica se apaixonou por Daniel da Silva também por sua coragem e fé, atribuindo-lhe não só respeito e admiração, como seu corpo e seus desejos mais profanos. À união dos dois somaram-se duas crianças, Madalena e Lucas; quem escolheu os nomes foi Daniel pela sua influencia cristã. Dario, mesmo sendo um ateu convicto, abençoou, em seus termos, os nomes escolhidos: “Então (...) Dario escreveu a todos os povos, nações e línguas que moram em toda a terra: Paz vos seja multiplicada. (Daniel 6:25)

            Desde então, a luta intensificou-se. Primeiro vieram as dificuldades de registrar as crianças, depois de pô-las na escola, de vaciná-las, de colocá-las como dependentes em seus planos de saúde no trabalho... Enfim, todo um mar empecilhos a uma vida cidadã. Daniel e Dario compensaram a ausência do estado com muita devoção, amor, respeito e educação para com seus filhos. Ainda hoje, Madalena e Lucas não têm os nomes de seus pais em seus registros de nascimentos, mas são adultos vacinados contra todo tipo de preconceito e intolerância.

Madalena escolheu lecionar física como profissão, e nesse momento, trava um luta aguerrida para o que os livros didáticos não reproduzam mazelas que minam as conquistas que grupos como a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) galgaram no debate público diante de questões sobre a orientação sexual.  (ver aqui: http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/03/05/associacao-lgbt-denuncia-escola-por-material-didatico-homofobico.htm).

                Lucas escolheu o caminho da política institucional, chegando à presidência da comissão de diretos humanos da câmara dos deputados onde trilhava o compromisso de luta em relação aos direitos dos grupos violentados pelo Estado e a sociedade.

Foi hoje, que Lucas renunciou ao cargo da presidência diante da exclusão dos segmentos organizados da sociedade civil durante a votação que elegeria o novo presidente da comissão de direitos humanos na câmara. (ver aqui: http://www.youtube.com/watch?v=A13SPIgCoBA). Foi então eleito um religioso para posto que Lucas renunciou, um pastor evangélico, assim como seu avó.

 (Briton Rivière, Daniel's Answer to the King)
 


            Daniel da Silva antes de sua estúpida morte (atacado por um grupo de homens após sair de uma boate em Recife de mãos dadas com Dario) e apesar de tudo que sofreu com seu pai pastor quando era ainda criança diante de sua orientação sexual, educou Madalena e Lucas esclarecendo que a condição violenta e intolerante de seu pai e de muitos sacerdotes e pessoas de fé, não pode ser relacionada de uma maneira geral a todos os religiosos. Ensinou assim aos filhos, o respeito às várias formas de comunhão com o sagrado.       

              Madalena e Lucas, combatentes e herdeiros do legado de Daniel da Silva, foram hoje visitar e reabastecer as energias para o prosseguimento do combate com os leões, na casa de seu pai, Dario. Passaram a tarde lendo o testamento do profeta Daniel e lembrando da música da legião urbana que Daniel da Silva os fazia escutar insistentemente. Quando crianças achavam por demais enigmáticas uma das estrofes daquela canção, só hoje puderam perceber o que na verdade ela queria exprimir:

 

(...) Mas, tão certo quanto o erro de ser barco

a motor e insistir em usar os remos,

É o mal que a água faz quando se afoga

E o salva-vidas não está lá porque não vemos.

(legião urbana: Daniel na cova dos leões)

 
Por: Pássaro bege.
   

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Memórias

6.3.13 Castanha 2 Comentarios



Lembro de coisas, infinitas coisas. Lembro antes de tudo de quando tinha pouco menos de dois anos e fui morar com minha mãe na casa de minha avó. Lembro de ter crescido numa casa cheia de mulheres: Mãe, avó, tias, prima, e apenas um homem, além de mim, que era o padrasto de minha mãe. Às vezes penso que é por isso que gosto tanto das mulheres. Lembro das escolas em que estudei e das professoras e professores que tive. Gostei de uns e odiei a maioria. Lembro das poucas boas notas que tive nas avaliações escolares e, também, das muitas e tantas muitas notas ruins. Não sei como consegui aprender a ler ou como aprendi qualquer outra coisa. Lembro das alegrias, tristezas e penúrias que acompanharam meu crescer. Lembro do primeiro beijo de boca que ganhei numa festa de ano novo. Lembro dos empregos que tive e das gargalhadas que dei com meus colegas e das agonias que tive com meus patrões. Lembro de quando conclui a escola de quando entrei na universidade e de quando conclui um curso nesta. Lembro de tanta coisa que aprendi e de tantas que me deixaram perplexo por serem muito interessantes ou muito malvadas. Lembro de como os anos correram rápido e de como vivi cada um, hora entediado, hora efervescente, e lembro tão bem que é comum perceber que os anos que passaram rápidos não passaram tão rápidos assim, pois, foram cheios de viver.  Lembro das pessoas que amei das que amo e das que fiz questão de não amar. Lembro que até pouco tempo raramente usava a palavra “amar”. Lembro que há anos queria saber como seria agora que sou e acredito que no futuro lembrarei-me de como continuo me contestando agora. Lembro com tanta força que sinto nas entranhas do peito e nos confins da cabeça sensações iguais (se minha memória não me engana) com as sensações que tive em tais e tais situações toda vez que lembro essas tais e tais situações. Lembro de turbilhões de coisas ruins, agonia-me às vezes lembrar, mas também de coisas tão boas que fazem sorrir muito. Não tenho saudades de nada. Lembro de mais ou menos quando parei de sentir saudades. A vida existe girando assim: ontem, hoje e amanhã; cada segundo deixando de ser agora para ser passado e abrindo espaço para o futuro virar presente olhando para o que está por vir. E assim vou seguindo, vivendo, vivendo, vivendo... 
 
Castanha 17/01/2013

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Atmas e Mahatmas

6.3.13 Mademoiselle Fifi 0 Comentarios



Tenho uma cadelinha chamada: Atma (alma), companheira de toda hora, faça chuva ou sol a sua cauda sempre balança quando chego em casa, sinal de alegria, cumplicidade, carinho. Semana passada, resolvi aumentar o número da família, encontrei um gatinho na rua e trouxe-o aqui para casa e batizei-o de Mahatma – Grande Alma. Agora além de Atma tenho em casa o Mahatma, o Grande Alma “Sebosa”, isso sim é o que ele é - indiferente a tudo, exceto ao seu estômago. Quando está com fome vem logo em meu encalço, miando e roçando a sua pelugem preta em minha perna.

Comecei a delinear algumas comparações entre os homens e estas duas criaturas quadrúpedes que moram comigo, existem os homens Atmas, os cachorros. E os homens Mahatmas, os gatos.

Os Atmas são obedientes, atenciosos, carinhosos, só comem quando damos, nunca pedem, e sempre no mesmo prato, jamais se arriscam em empreitadas externas, só comem em casa.

Já os Mahatmas são misteriosos, chegam na calada da noite, não fazem barulho, enroscam-se na gente, pede comida, abrigo e depois sem agradecer vão embora assim como vieram, na surdina, em silêncio e em busca de outras refeições.

Os Atmas são casa própria, segurança, estabilidade, emprego público, latido para os forasteiros, ciumentos, coleira, controle, planejamento, pau pra toda obra – Tom Hanks de riso fácil, olhar terno e acolhedor.

Já os Mahatmas são aluguel, insegurança, instabilidade, independentes e indiferente aos forasteiros, fujões, senhores do próprio nariz, mas sensíveis, amantes felinos – Johnny Depp de riso faceiro e olhar superior.

Os Mahatmas são bons meninos, nota dez, Q.I de 158, esforçados, sujam tudo, às vezes arredios, mas se assustam com fogos de artifício e com os trovões, sem saberem que estes se vão junto com a tempestade – Raskolnikov apavorado em sua triste e fria São Petersburgo, seres extraordinários.

Já os Atmas são meninos levados, arruaceiros, avessos à disciplina e a diligência, porém asseados, higiênicos, nunca deixam vestígios, limpam tudo. São irredutíveis a caprichos alheios, a gritos e admoestações intempestivas de superioridade – Julien Sorel em busca de um Brumário qualquer, seres ordinários.

Estou aprendendo a conviver com estas duas criaturas aqui em casa, é um pega pra capar danado quando ambas se encontram, mas eu intervenho e tudo fica em paz, alimento as duas, só assim mantenho-as por perto. Sou o sol das duas, uma é a terra, a outra a lua e ambas orbitam ao meu redor, translação e rotação. No fim são duas almas “sebosas” mesmo.

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Os sete pecados das capitais [Apatia] IV

5.3.13 Cabotino 0 Comentarios



                                                            APATIA
O Sol nas bancas de revista/ Me enche de alegria e preguiça /
Quem lê tanta notícia/ Eu vou...
            Minha cidade natal que me trouxe a luz sob o signo de Leão, fogo, agosto, cachorro louco, mês oito, deitado, infinito... A contemplar estes espaços não menos infinitos de dor, cor, luz e sombra. Aqui o sol nunca se põe, nas noites o astro rei brilha de uma forma diferente, trans-me-ta-fo-sean-do seus raios ultravioleta em raios ultraviolentos das luzes de mercúrio sob os viadutos e rios cor de cobre.
Minha cidade “tecida de claridade... sonha ao luar, Lendária e heroica cidade, plantada à beira-mar” – besta, brejeira, no mundo da lua, paroquial, provinciana. Cidade madrasta cuja sina nenhum homem arrancado de seu ventre cesarianemente escapa, sem o liquido amniótico, você será tragado pela infecção hospitalar que cresce a cada dia na velocidade de suas altas habitações de concreto, vidro, aço e indiferença protegida por muros ceramizados e cercas eletrificadas. Nela a distinção ganha corpo e forma com a sua ideologia chauvinista, bairrismo tacanho, canhestro e anódino. Cidade vácuo, com seus tristes coqueiros, sobrados de eira, beira e tribeira e no asfalto os banguelas sem eira nem beira a limpar vidros de carros blindados até os dentes.
Kicking around on a piece of ground in your home town/
Waiting for someone or something to show you the way/
Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain
Caminho por ela banhado de sol na moleira, nada me comove, meu coração já foi grande, mas reduziu-se ao tamanho do meu bolso por isso nunca dou esmola, primeiro porque não tenho dinheiro para dar a todos que me estendem as mãos e segundo pela inconveniência de pegar a minha carteira... Vivo cruzando corpos de moradores de rua pela cidade durante o dia, dormem de dia em meio à canícula, pois à noite o sono pode despertar-se em chamas, refugo humano a inalar diariamente o Tolueno – “da cola de sapateiro” – a cola que gruda a parede do estômago e faz dar um role no Mundo Mágico de Oz, sem o sapatinho de cristal e sem a Estrada de Tijolos Amarelos, é claro, estas são as calçadas esburacadas, quente, fedendo a urina e fritura.
Dizem que o homem a tudo se acostuma, se adapta para usar o jargão técnico do barbudo inglês que tinha dois pesadelos: o ornitorrinco e esta cidade, que segundo ele fedia demais, pondera, erguida na lama seus moradores ainda hoje chafurdam em busca de algo para aliviassem, mesmo sendo uma esmola, uma água de coco, uma tapioca, um utilitário blindado, um apartamento a beira mar ou um texto bilioso, sub-reptício.


      

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Considerações sobre um dia de chuva

4.3.13 Joarez 2 Comentarios




A janela dormiu aberta, é claro. Com o calor que anda fazendo, não se pode incorrer no risco fatal de fechar a única entrada de ar de um cômodo pequeno. Lá pelas tantas da madrugada, acordo com um toró amedrontador, e com o barulho dos trovões, que me fez ter medo de morrer e fechar, subitamente, a janela. 

Ao contrário do que possa parecer, voltei a dormir tranquilo, suave. A chuva que caía me dava um alento, um conforto. Amanhã, não vou acordar com a sensação de que estou numa panela de pressão, ufa. E, com sorte, mais alguns dias de chuva virão, e esse racionamento d'água vai para o espaço. Não se as coisas funcionam assim, mas o pensamento me ajudou a relaxar.

Quando despertei pela manhã, dei um pulo da cama e olhei pela janela: está chovendo, maravilha! O quarto está menos quente e mais escuro; em suma, mais agradável. Talvez com a chuva dessa madrugada, o Djavan tenha achado um bom lugar para ler um livro. 

O dia, agora, não está chuvoso; está nublado, meio cinzento. Ótimo para fotografar em preto e branco, diz a menina aqui do lado. Acho bacana, um dia de chuva, um dia diferente. Pena que, numa cidade sem saneamento, chuva vire sinônimo de caos: engarrafamento, poças, risco de desabamento de morros, etc.

Para o recifense dia de chuva é desafio. Mas chuva não é só destruição, corrosão: é também fertilidade. Significa renascimento, recomeço. Para nós, não para os ingleses, que fique claro. Estes sonham com o sol; nós, com a chuva - por gosto, como no meu caso, ou por necessidade. 

É por isso que temos que aprender a conviver com ela. E esse aprendizado passa, sobretudo, por uma cidade mais bem estruturada. Enquanto isso não acontece, apontemos os guarda-chuvas, não para o alto, mas para os lados, com objetivo de nos defender dos jatos de água que nos endereçam os carros e ônibus que desfilam na pista.

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2.3.13 Foi Hoje! 2 Comentarios


           "Dirigir”, essa coisa que recentemente entrou na minha, para "facilitá-la", a princípio, foi o que achei. O fato é que ao dirigir, muito me relatam o quanto gostam, o quanto refrescam a cabeça, e eu realmente fiquei imaginando que isso era possível. Aos poucos e nesse pouco tempo que também sou uma "motorista", uma das coisa que realmente sinto é que o trânsito é um lugar horrível, nós no trânsito somos horríveis, e as pessoas mostram o pior de si mesmas.
           Para mim é bom não ficar na parada esperando um ônibus que pode passar ou não, mas as outras situações que você se expõe ou é exposto nesse tal trânsito não me fazem crer que um dia internalizarei esse papel, sim, papel sim, pois há toda uma forma, ou formas de se comportar em trânsito que não entenderei e da qual não quero fazer parte.

Não sinto prazer, relaxamento, nada disso ao dirigir. Pode parecer estranho, mas sempre me pego pensando como gostaria que a cidade tivesse um transporte realmente que atendesse ao público e fosse eficiente para que não precisasse de me submeter a esse universo mesquinho, confuso, grosseiro e irritante que é o trânsito (seus carros, estacionamentos, flanelinhas, multas, batidas, motoboys, pressa, os donos do trânsito, o barulho, a poluição); entrar num ônibus ou metrô e poder ir lendo seu livro tranquilamente e chegar ao local desejado sem que para isso tivéssemos nos estressado e desgastado apenas para encontrar um locar para deixar seu veículo. A lógica perversa das pessoas no trânsito não me faz querer nem um pouco ser parte disso, estou como motorista, mas não serei motorista.


Por: Thais Brayner
 
 

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