Aquele Quadro

27.5.08 Foi Hoje! 4 Comentarios








Dedicado à tia Mônica!



Uma espécie de quadro com bordas douradas pendurado na parede do quarto, intrigava extremamente D. Jane Alzheimer de 77 anos. No quadro havia uma mulher belíssima de olhos negros e uma cútis esbranquiçada. Jane evitava ao máximo fitar aquele objeto, pois aquela imagem inserida nele causava-lhe angústia, medo e certa repugnância.

Determinado dia pensou ter visto aquela figura mexer-se, vencendo o susto inicial, aproximou-se da obra e tentou dialogar com aquela mulher.

No inicio as conversas eram recheadas de ódio, acusações e desconfianças, mas com passar do tempo, abrandaram-se na peleja e uma tornou-se leal confidente da outra e começaram a encontrar diversos pontos em comum.

No dia 13 de janeiro de 1930, Dona Jane Alzheimer faleceu e sua Filha Mônica, preparou todo o rito de cremação, um desejo de Jane outrora manifestado. Voltando a casa foi até o quarto de sua mãe e resgatou um objeto que guardaria para sempre como uma especial recordação de sua mãezinha, um velho espelho com bordas douradas no qual D. Jane passava horas a fio em sua frente.



Pássaro Bege.
26 de maio de 2008.

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A Tese do Coelho

27.5.08 Foi Hoje! 0 Comentarios




Era um dia lindo e ensolarado, o coelho saiu de toca com o notebook e pôs-se a trabalhar, bem concentrado. Pouco depois passou por ali a raposa, e, viu aquele suculento coelhinho tão distraído, que chegou a salivar.

No entanto, ficou intrigada com a atividade do coelho e aproximou-se, curiosa:
- Coelhinho, o que você está fazendo aí, tão concentrado?
- Estou redigindo a minha tese de doutorado – disse o coelho, sem tirar os olhos do trabalho.
- Hummmm... E qual é o tema da tese?
- Ah, é uma teoria provando que os coelhos são os verdadeiros predadores naturais das raposas.
A raposa ficou indignada:
- Ora! Isso é ridículo! Nós é que somos os predadores dos coelhos!
- Absolutamente! Venha comigo à minha toca que eu mostro a minha prova experimental.
O coelho e a raposa entraram na toca. Poucos instantes depois ouve-se alguns ruídos indecifráveis, alguns poucos grunhidos e depois silêncio.

Em seguida, o coelho volta, sozinho, e mais uma vez retoma os trabalhos de sua tese, como se nada tivesse acontecido.

Meia hora depois passa um lobo. Ao ver o apetitoso coelhinho, tão distraído, agradece mentalmente à cadeia alimentar por estar com o seu jantar garantido.
No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho trabalhando naquela concentração toda. O lobo resolve então saber do que se trata aquilo tudo, antes de devorar o coelhinho:
- Olá, jovem coelhinho! O que o faz trabalhar tão arduamente?
- Minha tese de doutorado, seu lobo. É uma teoria que venho desenvolvendo há algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os grandes predadores naturais de vários carnívoros, inclusive dos lobos.

O lobo não se conteve e farfalha de risos com a petulância do coelho.
- Ah, ah, ah, ha!! Coelhinho! Apetitoso coelhinho! Isto é um despropósito. Nós, os lobos, é que somos os genuínos predadores naturais dos coelhos. Aliás, chega de conversa...
- Desculpe-me, mas se você quiser, eu posso apresentar a minha prova experimental. Você gostaria de acompanhar-me à minha toca?
O lobo não consegue acreditar na sua boa sorte.

Ambos desaparecem toca adentro. Alguns instantes depois ouve-se uivos desesperados, ruídos de mastigação e...silêncio. Mais uma vez o coelho retorna sozinho, impassível, e volta ao trabalho de redação de sua tese, como se nada tivesse acontecido.

Dentro da toca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos ensangüentados e pelancas de diversas ex-raposas, e ao lado desta, outra pilha ainda maior dos ossos e restos mortais daquilo que um dia foram lobos.

Ao centro das duas pilhas de ossos, um enorme leão, satisfeito, bem alimentado, a palitar os dentes.

Moral da história:
1- Não importa quão absurdo é o tema da sua tese;
2- Não importa se você não tem o mínimo fundamento científico;
3- Não importa se as suas experiências nunca cheguem a provar sua teoria;
4- Não importa nem mesmo se suas idéias vão contra o mais óbvio dos conceitos lógicos...
5- O que importa é quem é o seu padrinho...


Autor desconhecido.
Por V.R.

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O BRAÇO ESQUERDO.

23.5.08 Foi Hoje! 0 Comentarios


  • Mas uma vez insistira em praguejar perante os acontecimentos.

    Eram apenas (167) cento e sessenta e sete minutos de atraso, mas tal descaso com sua prosopopéia cotidiana causou-lhe um estranho formigamento em seu braço esquerdo. Mas foi hoje e somente hoje, que sentira de verdade aquela agonia.

    Enfim chegou o ônibus, como sempre superlotado. Deu boa tarde ao cobrador, que o olhou com imenso descaso, porém, pode observar o nome no crachá do funcionário: Astrogildo Maximo da Silva – homônimo de nosso personagem principal – cruzando a catraca não tardou a refletir: “poderia ser eu sentado ali”, e, por alguns instantes, sentiu vontade de perguntar ao moço se ele também era alviverde e se gostava de cheiro de gasolina.

    De repente foi interrompido por um cutucado de uma moça que se oferecia para segurar seus livros e cadernos. Não pode deixar aquele decote a viagem inteira, que pareciam duas maduras mangas rosa. Com o coletivo menos cheio, e já devidamente acomodado no assento, tirou do bolso um drops e não jogou a embalagem pela janela. No entanto seu amigo Sugismundo, membro do Partido Socialista, que sentara a seu lado durante esse conto, acabara de arremessar uma lata de coca-cola pela janela. Interrogado por Astrogildo sobre sua educação e bons modos, e ainda sobre sua consciência ambiental, Sugismundo justificou seu ato com o seguinte argumento: “Senão houver lixo nas ruas, não haveria a necessidade da existência de garis, contratados pelo Estado. Na verdade meu ato está apenas ajudando que esses pobres diabos alienados, saiam desse imenso tédio cotidiano, já que nossa cidade, vem cada vez mais, se mostrando um grande exemplo de civilização, onde seus habitantes dificilmente jogam lixo no chão”.

    Astrogildo já acostumado com as piadas orgânicas de seu amigo se riu por alguns instantes e a esta altura tinha perdido o ponto onde iria saltar, e sabendo que teria que andar pelo menos mais três quarteirões antes de chegar no seu destino, sentiu seu braço esquerdo formigar novamente.

    (Pássaro bege) 23/05/2008.

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23.5.08 Foi Hoje! 0 Comentarios



No coletivo. 22 / 05/ 2008. 01:09 h (madrugada)



Poucas coisas no universo são maiores que o medo do recifense de ficar em pé no coletivo, seja ônibus ou metrô. Isto é facilmente percebido observando-se, nos terminais e estações, os passageiros, que, diga-se de passagem, parecem mais com pagadores de promessas tamanho é o esforço que empenham para cumprirem a “simples” tarefa da locomoção diária.
Se a fila pra entrar no coletivo é grande, eles furam dizendo:
- A fila é grande e todo mundo tá furando, eu é que não fico em pé!

Se a fila for pequena, eles dizem:
-A fila tá pequena e tem lugar pra todo mundo, então eu posso furar!

Se você é recifense, caro leitor, não se acanhe. Se você não for, não nos critique ou deboche. Lembre-se que a situação faz o ladrão. Imagine que todo santo dia, faça chuva ou Sol, com o apoio de deus ou do diabo, você tem que se apertar, por exemplo, com 160 pessoas num ônibus com lugar para apenas 40. Alguns dias você terá paciência, outros nem tanto. É neste momento que você vai empurrar, brigar e ter um chilique. Tudo pra conseguir um assento, que nesta hora é mais confortável que um trono real.
A recompensa, se você consegue o assento, é que, se o sujeito do seu lado estiver fedendo, o que é muito comum mesmo às 6h da manhã, você vai suportar isso sentado. Acreditem, pode não parecer, mas faz muita diferença. Outro aspecto positivo é que não vai ter ninguém se esfregando em você enquanto tenta se encaixar no aperto ao longo da viagem.
Nem tudo nos ônibus de Recife é o caos. Por exemplo, nos bairros nobres não há esse problema. Não que lá as pessoas sejam melhores, mas como todos têm carro então transferem suas grosserias para o transporte individual. Deste espaço eu não tratarei nesta crônica. Como não vivencio as experiências deste tipo de usuário, os de automóvel, então me calo. É claro que eu pretendo fazer parte deste grupo um dia, e escrever sobre suas grosserias também, mas por enquanto não tenho posses.
Outro dia, tentando entrar no metrô, fui empurrado por uma velha que tinha idade pra ser minha avó. Se alguém me conta eu ia dizer que era mentira, só acredito porque eu vi. Entre a porta do vagão e o assento bem em frente, uma distância de no máximo três metros, a vovó, além de me empurrar, bateu ainda uns dois sujeitos que também tinham idade de ser seus netos. Acomodando-se sorriu um sorriso maroto olhando ao redor com um ar de satisfação.
Infelizmente, por um lado, nenhum outro passageiro viu o desempenho atlético da vovó, estavam todos empenhados em conseguir um troninho. Felizmente, por outro lado, ninguém me viu levar empurrão. Fiquei com muita raiva da situação. Além de agredido, perdi um lugarzinho pra sentar.


Por Helton.

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Marco zero do Foi Hoje

15.5.08 Foi Hoje! 0 Comentarios


Prezados leitores (por enquanto apenas os editores da página)

Em breve esse espaço terá vida própria e regularidade.

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