O BRAÇO ESQUERDO.

23.5.08 Foi Hoje! 0 Comentarios


  • Mas uma vez insistira em praguejar perante os acontecimentos.

    Eram apenas (167) cento e sessenta e sete minutos de atraso, mas tal descaso com sua prosopopéia cotidiana causou-lhe um estranho formigamento em seu braço esquerdo. Mas foi hoje e somente hoje, que sentira de verdade aquela agonia.

    Enfim chegou o ônibus, como sempre superlotado. Deu boa tarde ao cobrador, que o olhou com imenso descaso, porém, pode observar o nome no crachá do funcionário: Astrogildo Maximo da Silva – homônimo de nosso personagem principal – cruzando a catraca não tardou a refletir: “poderia ser eu sentado ali”, e, por alguns instantes, sentiu vontade de perguntar ao moço se ele também era alviverde e se gostava de cheiro de gasolina.

    De repente foi interrompido por um cutucado de uma moça que se oferecia para segurar seus livros e cadernos. Não pode deixar aquele decote a viagem inteira, que pareciam duas maduras mangas rosa. Com o coletivo menos cheio, e já devidamente acomodado no assento, tirou do bolso um drops e não jogou a embalagem pela janela. No entanto seu amigo Sugismundo, membro do Partido Socialista, que sentara a seu lado durante esse conto, acabara de arremessar uma lata de coca-cola pela janela. Interrogado por Astrogildo sobre sua educação e bons modos, e ainda sobre sua consciência ambiental, Sugismundo justificou seu ato com o seguinte argumento: “Senão houver lixo nas ruas, não haveria a necessidade da existência de garis, contratados pelo Estado. Na verdade meu ato está apenas ajudando que esses pobres diabos alienados, saiam desse imenso tédio cotidiano, já que nossa cidade, vem cada vez mais, se mostrando um grande exemplo de civilização, onde seus habitantes dificilmente jogam lixo no chão”.

    Astrogildo já acostumado com as piadas orgânicas de seu amigo se riu por alguns instantes e a esta altura tinha perdido o ponto onde iria saltar, e sabendo que teria que andar pelo menos mais três quarteirões antes de chegar no seu destino, sentiu seu braço esquerdo formigar novamente.

    (Pássaro bege) 23/05/2008.

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