Crônica da cidade de Montevidéu

30.8.17 Castanha 0 Comentarios


Um motorista estacionou em lugar proibido na Rua Mercedes. Os guardas de trânsito apareceram e o multaram. O homem tentou argumentar, mas os guardas foram inflexíveis. Dia e noite as pessoas caminhavam tranquilas furando o frio que envolvia tudo. Comerciantes e clientes ofereciam e se interessavam, girando em torno de coisas de vender e de comprar. Pessoas fumam maconha em público, sem medo de represálias, contrariando a fracassada política de guerra às drogas que atormenta e devasta nossa querida América Latina desde a década de 1980. Detalhes e mais detalhes apresentavam-nos Montevidéu. Nossos sentidos buscavam a cidade como uma criança tentando montar um quebra-cabeça sem fim; cidades são fluxos.
Caminhamos pelas ruas de Montevidéu, eu e Lu. Ruas dos séculos 20 e 19, montadas sobre as ruínas do século 18. Uma arquitetura imponente. Talvez aquela arquitetura represente a identidade dos Uruguaios. Talvez ela sirva para deixar claro que apesar de pequenos eles são grandes, e não se deixam esmagar por seus vizinhos gigantes sul-americanos, Brasil e Argentina. Uma viagem de uma semana pela capital de um país não dá plena autoridade para falar das minúcias deste e das almas de seus habitantes. Mas a impressão que as mulheres e homens dali deixaram em nós foi de terem um espírito firme.
Por lá, anda-se sossegado pelas ruas, senta-se tranquilamente em um lugar qualquer para comer, conversar ou descansar. Vai-se de um lugar a outro tateando suas calçadas, praças e prédios. Esse movimento cria uma via de mão dupla: pessoas e locais vão se apresentando.
 Ficamos pequenos e envolvidos, frente ao monumento a Artigas, ou ao palácio legislativo, frente ao palácio Salvo, ou ao teatro Solís, e também do topo do Mirador da Intendência, de onde muito se vê. Tudo suturado por pedras, paredes, telhados, palavras, histórias, fotografias, museus.
Após a caminhada de cada dia, íamos num bar de esquina com a 18 de Julio para pensar, conversar, sorrir e embriagar. Tentamos o possível para nos diluir naquele caldo de gente e movimentos. Montevidéu fazia o mesmo por nós, e se diluía porta adentro de nossas percepções.  


Castanha 29 de agosto de 2017.

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