Românticos de Máscara

31.3.11 Calango Albino 2 Comentarios


São seres que por um acaso

São dominados por uma vontade vã

Mas acham, insanamente, dominar o caso

Ao ser surpreendido por uma decisão sã


Deixam-se levar para sarjeta

Onde se encontram voltados para o mar

E mergulham no universo da ponta de uma caneta

Entre outras, se remetem ao lar


Lá tudo era do seu jeito

Inclusive os sujeitos que lá o iam visitar

- Ah, que saudade no meu peito!

- Ah, que saudade do meu lar!


Coloco-me no lugar dela

Como Amélia, achava engraçado até fome passar

Como senhor, tinha que decidir até o acender de uma vela

Desse jeito não tinha outro feito a não ser se libertar


Decidida e sisuda falou: - Estou indo...

Cortando meu calcanhar, deixando meu ego no chão.

- Indo, como assim?

- Não me vejo mais como serva do que não me serve...


Hoje escrever poemas de amor

É como reviver o meu lar

Largos momentos, pudor!

Quando o bom mesmo é viver para amar


Por: Dinho Negaba

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DOMINGO É O FINO DA BOSSA

28.3.11 Foi Hoje! 2 Comentarios


Estava sentado no respaldo de um dos bancos de granizo da Praça Santa Luzia que aquela altura da noite encontrava-se vazia, era por volta das 20h e as casas que circunscrevem o logradouro irradiavam através de suas janelas os raios catódicos¹ dos aparelhos de tiravisão... Ou melhor... Televisão. As pessoas em seus sofás e poltronas, como naquela canção: “mas as pessoas nas salas de jantar estão interessadas em nasceeeer e morreeer” tinham nessa caixa a sua padroeira, enquanto o nosso solitário personagem que dividia com um vira-latas o espaço da Praça preferia os olhares enternecedores da Santa Luzia, a padroeira dos cegos.

Esperando uma amiga que pelas circunstâncias da vida só a vê nos fins de semana, uma amizade boemia, sem sal de frutas tampouco tira-gostos, estava atrasada – o atraso fazia parte da compleição física dela que, paradoxalmente, delineava-se como uma presença ausência em suas aparições, como se fora um vaga-lume de desejo que poderia ser agarrada se não fosse os momentos de escuridão.

Encontrava-se impaciente devido ao atraso, porém, com ela ele sempre teve uma paciência bovina. A existência dela falava por si só e representava um elo perdido que outrora deveria ter-lhe pertencido, mas as contingências de uma vida afetada por uma timidez hedionda lhe escapava pelos vãos das mãos como alguém que tenta segurar uma porção de água. Ela era como aquela ferida no céu da boca que certamente sararia se não insistissemos em passar a língua o tempo inteiro.

O atraso dela era tema batido nas conversas. Costuma dizer que o seu relógio (ela ainda usa isso) é atrasado em relação ao do celular dele, e ambos não fazem nada para emparelhar a hora da cerveja ou do vinho, ele diz que Godot² é mais pontual do que ela, e é.

O cigarro que acendeu para esperá-la como quem acende uma vela para um santo padroeiro estava no fim, a bunda lhe doía em virtude da espera e da posição incômoda no banco de granizo, mas, antes as nádegas do que os cotovelos que levam a marca cinza da dor de esperar os que vão comprar cigarro.

Quando o expresso Hollywood já ia desembocar no Pacífico, uma mulher aparentando uns trinta e poucos anos (uma década após a da canção: “Nem por você / Nem por ninguém / Eu me desfaço / Dos meus planos / Quero saber bem mais / Que os meus 20 e poucos anos”) morena e de cabelo encaracolado curto, fez que iria passar direto em uma das esquinas da Praça,e vendo-o, decidiu dar meia volta do seu percurso e foi ao encontro do nosso solitário tabagista.

Chegando próximo ao nosso herdeiro de Jó (paciente) que, a esta altura, encontrava-se ouvindo um som, tirou o fone quando a misteriosa mulher chegou, ela lhe perguntou de chofre:

- Tudo bem?

E ele respondeu lacônico:

- Tudo. Como quem não quer mais conversa. A desconhecida aparentemente embriagada insistiu:

- O que estás ouvindo?

Ele dessa vez mais polido, talvez justamente por perceber o estado da sua interlocutora porque sabe que o amor assim como a gasolina, é volátil, consome-se rápido e para mantermos o carro funcionando trocamos pelo álcool, lhe respondeu:

- Kafka, uma banda dos anos 80 e a música se chama Plenitude.

Ao ouvir a resposta ela resolve arrumar as duas mechas de cabelo que lhe caiam sobre os olhos e as colocou por trás das orelhas, como alças de óculos, e lhe faz um convite:

- Vamos tomar uma cerveja no bar de Domingos?

Ele responde que não iria dar, pois, está esperando uma “estória”, e lhe passou pela cabeça paralelamente à sua resposta a paráfrase de um adágio popular: mais vale uma boemia na mão do que um bar sobrevoando.

Ela levemente contrariada lhe pediu um cigarro ao qual o “boêmio” solitário acendeu e lhe deu falando:

- Olha aí, ainda vai com o gosto da minha boca.

Ela saiu e deixou essas palavras:

- Plenitude é tudo que é bom, nunca pense em coisas ruins.

E saiu soltando fumaças como uma locomotiva de passos dissonantes tal qual uma promessa de felicidade de um futuro que descortina-se indeterminado, mas comunica aquela sensação palpitante de que algo auspicioso nos espera. Como um destino presente de reticências...

Ao repor o fone aos ouvidos como quem também põe as alças de um óculos, o trecho de Plenitude que ainda estava tocando era: “mesmo sendo assim / tão fácil perceber / a plenitude acena e se desfaz só de dizer / vai ser bom de saber / que não me domina o medo de te perder”.

Cansado de esperar, ele põe um drops na boca como um tira-gosto, acende mais um intervalo pelo filtro e vai embora à procura de um bar.

***
1 - Os raios catódicos são radiações onde os elétrons emergem do polo negativo de um eletrodo, chamado cátodo, e se propagam na forma de um feixe de partículas negativas ou feixe de elétrons acelerados.
Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Raio_cat%C3%B3dico > Acesso em: 28 de março de 2011.

2 - Esperando Godot (En attendant Godot / Waiting for Godot) é uma peça de teatro de Samuel Beckett (1906/1989), escrita originalmente em francês e publicada em 1952. Pela sua temática e redação é classificada como teatro do absurdo por alguns críticos teatrais. A expressão "Esperando Godot" era bastante utilizada em tempos passados para indicar algo impossível, ou uma espera infrutífera.
Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Esperando_Godot > Acesso em: 28 de março de 2011.




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Minha esposa: Um sono de anjo

26.3.11 Castanha 6 Comentarios


Amigo leitor, minha esposa é um amor, nos damos bem. Chamo-a por “bebê” e ela me chama por “bem”. Ela tem um sono lindo e tranquilo que também é um sono de pedra. Acho isso ótimo, para um bom cansado nada melhor que um sono difícil de perturbar, mas às vezes...
Era quase meia-noite, eu estava sossegado na janela da lavanderia fumando um cigarro, já era quase meia noite. Minha esposa veio me dar um beijo e informar que ia dormir. Continuei por ali dando umas pitadinhas na “chupeta do diabo”, que é o nome que minha tia deu para o cigarro. Findo o cigarro vou abrir a porta da cozinha e... Surpresa! Minha esposa fechou a porta para a fumaça do cigarro não entrar em casa e, por vício mecânico, girou a chave. Fiquei trancado na lavanderia. Eu estava trancado ali só de cueca e a janela da lavanderia dá direto para o pátio do condomínio que por sua vez concentra a frente de quase todos os apartamentos. Bati na porta de leve, pois, fiquei com medo que a vizinhança escutasse as batidas e pensasse que eu estava trancado ali de castigo depois de uma desavença domestica. Lembrei do porteiro, chamei relativamente baixo “Seu Antônio!” ele atendeu “Oi?” “Aqui.” “Aqui onde?” “Aqui no pátio, é o rapaz do 04” ele veio e eu expliquei a situação. Eu estava no primeiro andar, e lá de baixo ele jogou o celular pra eu ligar pra minha esposa. Foi em vão, o toque do celular é leve demais para o sono dela. Seu Antônio então, com a maior boa vontade do mundo, pegou uma grande escada, subiu nela e começou a bater na janela do quarto onde minha esposa dormia e que fica do outro lado do condomínio. No começo eram batidas leves seguidas de pequenos chamados. Bum, bum, bum: D. Chéley... Vinte minutos depois eram batidas pesadas e gritos em alto e bom som: BUM, BUM, BUM: D. CHÉLEY... E entre uma pausa e outra eu também dava umas batidas na porta da cozinha, sempre cauteloso pra não acordar os vizinhos. Então escutei um grito: “AMOR!”. Era ela acordando assustada com as batidas; saiu correndo do quarto pra me procurar, estava desorientada pelo sono e pelo BUM, BUM, BUM e quando me encontrou em minha “cela” trajando cueca perguntou: “Por que tu ta trancado aí?” e eu “Tu me trancou aqui sem querer!” e ela “Ai meu Deus, que horror! Desculpa!”. Botei uma bermuda e sai correndo pra agradecer a seu Antônio e devolver o celular. Ele estava empapado de suor e cansado por causa do esforço que tinha feito. Sua respiração estava tão pesada quanto os seus sessenta e tantos anos. Agradeci, me expliquei, disse que parecia, mas não era briga de casal, ele se riu e disse que não era nada e que se eu precisasse dele podia chamar.
Voltei pensando no bom coração de Seu Antônio e nas pálpebras pesadas da minha mulher. Gastamos quase uma hora pra acordar ela. “Será que ela vai se desculpar ou rir quando eu chegar ao quarto?” pensei comigo. Tive que acordá-la para descobrir, pois sem muito esforço ela deitou e dormiu de novo.

Castanha 26/03/2011

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A Rotina Surpreende

22.3.11 Calango Albino 9 Comentarios


E era mais um daqueles dias, onde você não espera por nada extraordinário. Acorda, segue sua rotina, um imprevisto aqui ou ali. Mas, no fim do dia, fechando a contabilidade das obrigações que se tinha pra fazer, até que o balanço não era negativo.

E assim, se repetia a rotina. Tanto que, às vezes, pouco importava que dia fosse hoje, amanhã, depois... com a exceção do fim de semana, os dias eram os mesmos, como se fossem a terça, quarta, quinta e um pedaço da sexta, a segunda-feira “recortada e colada”. Ctrl + “C”, Ctrl + “V” semanal. Não encontro minha “surpresa”! “Onde foi parar a minha capacidade de me surpreender”? Pergunto-me. Depois canso e a rotina não me deixa mais pensar sobre isso. No fim do dia estou cansado e só me resta dormir. Sair da rotina sonhando, quem sabe!

Pois, não é que encontrei, pelo menos temporariamente, numa conversa de dois gurís, aquela “surpresa” a que me referia. Minha capacidade de me surpreender, que estava com o life quase no fim. Estava caminhando pelas terras varzeanas nos arredores da UFPE, quando, na calçada, emparelhei com dois gurís saindo da escola. Enquanto caminhava, eles, ao meu lado, conversavam sem notar minha presença. Conversa de criança, sobre o que tinham feito no recreio, que um deles tinha baixado “Ben 10 – Força Alienígena” pra assistir no fim da tarde, quando acabasse de fazer a famigerada “tarefa de casa”, e por aí vai.

Até que um dos dois interrompe o assunto e diz:
- Ei, tu come catota?
E o outro, pego de surpresa pela pergunta, responde:
- Eu não! Por quê? Tu come é?
E o que tinha feito a primeira pergunta manda essa pérola de resposta:
– Eu também não, pô! Eu só chupo. Depois eu cuspo.

Calango Albino.

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Causos 33: Parede d’água

21.3.11 Castanha 4 Comentarios


Nós íamos e ela vinha. Ela era enorme, imponente, se fazia ver ocupando canto a canto do fundo da paisagem, preenchia o horizonte.
Pouco a pouco, seguindo a trilha, chegamos ao topo da serra. Ela estava bem ali, bem perto; incontáveis milhões de gotículas formavam aquela coisa tão bela quanto grande. Tinha um cheiro bom, cheiro de água, era uma muralha de água, mas não era água pesada, feito água de cachoeira, nem era água artificial, feito água de chuveiro, era água leve, dessas que a gente tira do lugar encostando a ponta do dedo.
Ali, no topo da serra, ficamos a uns cinco ou seis metros de distancia dela e bastou esperar um pouco enquanto ela se movia para sermos envolvidos pela enorme neblina branca formada por gotas tão pequenas que demoravam muito pra molhar a gente.
Foi uma das coisas mais bonitas que já vi.

Castanha 01/03/2011

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Rascunhando

18.3.11 Castanha 5 Comentarios


Tudo normal até então, cheguei ao trabalho liguei o PC, verifiquei meus emails, respondi alguns. Estava tudo normal, até um inesperado recado surgir na minha página social! Suscitou-me algo! Por que não escreves? Era o que dizia o recado; “podes usar um pseudônimo, já que és tão tímida!” me disse. As ideias surgiram, turbilhões de ideias, transcendentais, movimentadas. “Expor” essa era a ideia. (Assustava). Dúvidas, dúvidas e dúvidas... Escrever sobre o quê? Qual seria a GRANDE ideia? (Sem pretensões, mas teria que ser algo bom). Qual tema abordaria? E o pior de todos os questionamentos, que impressão causar? Pensei e repensei, desconsiderei o fato de ter uma grande/boa ideia e peguei meu caderno de anotações. Debrucei-me sobre uma mesa escolar, desliguei-me por um instante... Aqui está, o relato de toda uma eufórica estréia.
D.C.

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Vais me dizer que isso é música!?

15.3.11 Foi Hoje! 4 Comentarios


É a bola quadrada!!! Ela existe

Está nas mãos do armador !!!

Viva a bola !

Melhor de todas as formas geométricas, posto, que rolas !!!

Sendo assim irás assumir o cargo de foto antecipada

Luz já vista

Vejam só !!!

Glórias ao céu!

Amém...

Psiu... sono.. sono... sono

Amém


Por: Pássaro bege

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Ela anda cheia

15.3.11 Foi Hoje! 2 Comentarios


Imagina você criando um brinquedo que depois matasse as pessoas.

Como iria ser doloroso, jocoso no mínimo, jocoso!!!

Porque tanta raiva???

Porque tanta sede oh! homem das cavernas... escrevo agora sem sono!!!

No marasmo de uma noite de segunda-feira... Escrever todo dia é um exercício que cansa!

Boa noite noite !

Cheio de reticências... ... ... ... ... ... ... ;;;


Por: Pássaro bege

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Uma coisa simples

14.3.11 Foi Hoje! 3 Comentarios


Acordei um belo dia e olhei os seus olhos de perto, tentava ver um pedaço de alma ali dentro, no meio daquilo tudo. Estavam nebulosos.

Não sabia de fato se ela queria arrancar minha roupa, ou era apenas capricho, sedução... era uma linda mulher, isso era inegável a qualquer juiz grego de bom senso.

E eu, cobiçada por todos e todas, me via ali aos seus pés, delirando de desejo.

[...]

Eis que de supetão percebi um certo ar de superioridade em seus gestos.

Em seguida passei a me confundir com ela. Provava seus vestidos novos! Tomava seus caros vinhos da moda, me sentia feliz e inebriada, com ela!

Mas ela queria mandar em meus passos, seguir minhas pegadas de forma estranha... sufocava-me!

E isso, um dia viria a ruir toda admiração que sentia por ela, o fato já estava meio explicito de certa forma com o passar do tempo.

Seu batom era cada vez mais vermelho! Suas tiradas cada vez mais ácidas, impertinentes!

Passei a não respeitá-la mais.

[...]

Ignorei seu perfume, seu jeito malicioso, suas curvas, seu sorriso... seus sais de banho.

Calei-me em sua profusão de sentimento, isso assustou-me muito!!! Tive medo e calei!

Hoje falo com ela apenas sobre negócios, amenidades.

Mas o tesão não tem tino cristão, sinto pena e gostar! Pareciam-me sentimentos incongruentes.

Nas várias acepções da palavra incongruente.

Calei um desejo, calei um mundo, as possibilidades.

Calei por que quis calar! Calei quando nem devia ter falado nada.

Por quem cala um dia falou.

Ela não aguentou o desprezo. Sumiu na multidão das cabeças ruminando bastante ódio nos dentes.

Não deteve sua ira e frustração, debateu-se no asfalto das etiquetas!

Quebrou protocolos, chorou e teve uma crise de histeria.


Por: Pássaro bege

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Causos 32: A criativa vingança popular

11.3.11 Castanha 4 Comentarios


Amigo leitor, este mundo é curioso e engraçado! Sempre estamos expostos ao mal. Se você é poderoso, então muita coisa será facilitada, inclusive destruir ou se defender do próximo, caso contrário estás em desvantagem. Se você esta numa guerra e tem um cavalo de tróia, use-o, caso contrário arrume outra defesa. Se você é pobre e vive numa sociedade de justiça para os ricos, como é o caso da nossa, arrume uma defesa. E tu iras arrumar uma defesa, o ser - humano é criativo desde o berço e se assim não fosse não seria “humano”, não é verdade?
Chéley me falou de pessoas que arrumavam defesas; e que também eram ataques. Quando ela era criança fez um passeio com a família a Brasília. Por lá visitaram o espaço de uma dessas religiões descendentes dos cultos africanos. Lá ouviram dizer que pessoas, populares, as vezes procuravam aquele lugar para encomendar serviços de magia negra contra os políticos.

Castanha 20/02/2011

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Causos 31: Adrenalina

2.3.11 Castanha 3 Comentarios


Velocidade máxima. O perigo é constante. Curvas fechadas e violentas, a qualquer momento algo pode dar errado. As pessoas ali estão acostumadas a isso. O custo é alto, o conforto é zero. Todos estão expostos a todo tipo de agressão: palavrões, brigas, assaltos etc. O que vai acontecer no momento seguinte? Ninguém sabe. Por que as pessoas passam por aquilo? Necessidade. Quando as pessoas vão passar por isso de novo? Sempre no dia seguinte e seguinte e seguinte.
Finalmente acaba. O ônibus chega ao terminal e as pessoas podem sair daquela grande porcaria que se move sobre rodas. Transporte coletivo em Recife quase sempre é sinônimo de merda!

Castanha 14/02/2011

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