Rita Lee contra o Reino da Caretice

30.1.12 Joarez 0 Comentarios


Na madrugada deste domingo, 29/01, em Aracaju, Sergipe, a cantora Rita Lee se surpreendeu com a presença da Polícia Militar em seu show.

Foi a última apresentação de sua carreira - a roqueira, dias antes, anunciou que está pendurando as guitarras.

A ação hostil da polícia em frente ao palco foi o motivo que levou Rita a lascar o verbo na honrada instituição militar - chamou os fardados de "filhos da puta", "cachorros" e et coetera.

A situação ficou pior quando ela soube o porquê de a polícia estar ali: um baseado.

- Por causa de um baseadinho, é isso? Cadê o baseado pra eu fumar aqui e agora? - disse a cantora, para delírio do público.

Rita Lee deu um sermão de quase cinco minutos na PM. Ao descer do palco, foi presa, levada para a delegacia mais próxima e acusada de desacato à autoridade e - sim, isso mesmo - apologia ao uso das drogas.

Passou duas horas detida na delegacia e foi liberada.

O Governador Marcelo Déda - que estava no show e saiu de fininho assim que a ex-mutante iniciou seu falatório - divulgou nota oficial em apoio à polícia.

O episódio mostra o quão forte ainda é o tabu que paira sobre a maconha. A peleja de Rita Lee contra o reino da caretice deixou um clima amargo no seu show de despedida, e, no final das contas, sobrou para o twitter: a assessoria da cantora informou que ela estava afastada do microblog até segunda ordem.

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Memórias

18.1.12 Jonas Anasc 0 Comentarios


Meu peito bombardeia como um jato

Todas as manchas que restaram


Enquanto eu aguardo o fim

Nada é mais que tudo um pouco

Um pouco de tudo...


Viver faz parte do ofício

Mas disso poucos sabem


Enquanto o sangue corre nos meus vasos

A vida tropeça no asfalto...

No acaso.


Nas veias só ecoam lembranças

Do que não sobrou...

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Advertência ao amigo

16.1.12 Joarez 1 Comentarios


Dizes a mim o que brevemente acontecerá. Tens tom profético - apocalíptico, por assim dizer. Tua voz onipresente não raramente é um balde de água fria - perdoem a metáfora previsível - nos sonhos alheios. Por vezes chateia. Herança familiar, argumentas, vovó tinha esse dom, que passou para mamãe, que foi adquirido por mim, e que agora tento ensinar a minha filha. Não faz outra coisa a não ser ensinar a Cecília a tocar o terror com as palavras. Na escola, orgulha-se, os coleguinhas já percebem a característica marcante. Até a simples história dos Três Porquinhos vira filme de terror na boca da garota. Cecília, coisa linda, cabelos castanhos, olhos expressivos. Tem oito anos. Se ela mesma é consultada sobre sua idade, responde: - tenho oito, esse ano completo nove, depois faço dez - almeja a idade da prima mais próxima. Seja um pai mais prestativo - adivirto meu amigo, enquanto ele me olha espantando. Prossigo: ensine coisas pertinentes a essa menina. Imagine se ela chega em casa aos quinze anos e diz: papai, daqui a nove meses terei um filho. E dizendo ainda em tom profético - apocalíptico, por assim dizer.

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No passo a passo o que passa aos olhos

16.1.12 Calango Albino 1 Comentarios


Quem passa apressado todo dia pelas ruas do centro da cidade, nem sempre se dá conta das mudanças na paisagem. A cidade é como o corpo humano, viva, mutante. O corpo vai dormir de um jeito e acorda de outro. Teu pâncreas acorda novinho todo dia! Células morrem e nascem o tempo todo nessa constante mudança. Você nem se dá conta, mas a mudança acontece permanentemente.
Assim também é uma cidade. Numa simples caminhada, um olho atento é capaz de notar essas sutis mudanças aqui e ali. Uma calçada quebrada ou consertada, novinha em folha; um casarão que não está mais lá, onde, agora, se ergue mais um arranha-céu; uma livraria nova que abre - tipo “sebo” - , coisa rara por aqui, aliás. Mudanças sutis, mas que um olho apressado pode deixar escapar. A pressa naturaliza as mudanças, sem que nos demos conta delas quando essas acontecem. Mudar. Mudar sem saber. Mudar sem perceber. O quão é importante ter ciência da mudança? Um turbilhão de frivolidades passando pela cabeça em forma de sinapses, num instante, enquanto caminho e observo que algo mudou na paisagem.
A caminhada a princípio era apressada, a passos largos, e assim continuou, mas algo em mim havia mudado. Passo a passo fui racionalizando a mudança de perspectiva duma velha caminhada, que nunca tinha tido ares contemplativos e, as mudanças sutis que fui percebendo naquele trajeto, se confundiram com a minha mudança de perspectiva. Ora, era possível, então, mesmo apressado, perceber nuances sutis de mudança em mim e na paisagem à minha volta? É. Talvez sim. Mas, agora, já cheguei ao meu destino. A reflexão, pertinente ou não, vai ter que ficar pra outra hora, a ocasião pede pressa.

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EXPERIMENTOS CRONÍSTICOS [PARTE 3]. O PERSONAGEM.

6.1.12 Foi Hoje! 1 Comentarios


As personagens têm algo de misterioso, um lugar só delas no enredo, onde nenhuma razão toma conta, são os personagens que têm toda a razão.
(PássaroBege)




“Bora menino! Ligeiro, ligeiro como quem rouba!”. Assim ordenou Seu Manoel, pessoa importante da cidade de Canindé, ao seu serviçal mirim, Douglas Silva, para uma tarefa misteriosa e espetacular.
Todos ao fim foram reunidos, o Padeiro, o Dono da Mercearia, Pirrita e seu cachorro Clóvis, Paulo Sérgio e o Escrivão. Mas o Padeiro e o Dono da Mercearia se foram rapadinho, porque demorava a começar a reunião, e não podia ficar Canindé sem bolacha e pão.

Como somos impacientes com as novidades que furam feito bala, a rotina da gente! Exigimos de imediato, explicações, razões para o que está ocorrendo naquele exato instante. Deve de ser a malvada da curiosidade. Prossigamos.

Pirrita, de gênio inquieto e astuto, na primeira oportunidade em que seu Manoel se ausentou do recinto - um tanto úmido e mal cheiroso - abriu a caixa que havia sido colocada em cima da mesa de mármore. Clóvis ao ver a atitude de sua dona murchou suas orelhas, e Pirrita pôs a tampa de volta na caixa. Paulo Sérgio sorriu.
Seu Manoel, então, voltou à tão esperada reunião. Reunião que havia há muito planejado, e que só agora conseguia ver desabrochar diante de seus olhos. Dirigiu-se ao centro daquela roda viva e bradou:
“Hoje, enfim, consegui o maior dos meus desejos, reuní nessa sala alguns daqueles que durante anos se fizeram por notar nessa cidade, a cidade dos artesãos. Um lugar, onde tudo acontece, mas nada e nem ninguém precisa explicar-se. Guardem seus medos e anseios, não acontecerá nada de novo, aqui, nesta noite. Não tentem entender a criação de um personagem, pelos olhos do criador, essa cena, por exemplo, senhores, não fui eu quem a montei, não fui eu quem a montei, não fui eu quem a montei!!!”.

[...] [trecho suprimido dooriginal]

“Douglassilva! Douglas silva! tire todos esses vermes da sala, todos eles! E ordene ao mais cruel de todos, o Senhor Escrivão, que desapareça, que suma! Proíba-o de divulgar qualquer linha deste rascunho que ele mesmo produziu, por minha ordem, e queime esta caixa junto com seu podre conteúdo”.

Douglas Silva ficou calado e obedeceu as ordens de Seu Manoel.
Douglas Silva proibiu que o Escrivão levasse as anotações que havia feito das conversas e de suas observações de todo aquele ritual inusitado, ocorrido em três de junho de 1996, na casa de Seu Manoel, na pequena cidade de Canindé.
Em seguida, ateou fogo na caixa.


Por: Pássaro Bege


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