Capítulos da história da arte contemporânea

17.2.16 Unknown 0 Comentarios


O estilo de intervenção artística inaugurado pela espanhola Cecilia Giménez, em 2012, mais conhecido como Ecce Hommo Reloaded Style, influencia a confecção de um retrato falado que gera imensas polêmicas na cidade de Salvador-BA, envolvendo a polícia do bairro Itapuã e o Sindicato dos Peritos Técnicos da Bahia (Sindpep).

Tamanho está sendo o impacto desta notícia nas redes sociais que não seria descabido projetar, para breve, a exposição de outros trabalhos do(a) referido artista percorrendo o Brasil e as maiores galerias de arte do mundo. Artista este que, para nossa imensa tristeza, ainda não sabemos quem é!

Podemos observar claramente o choque entre o desenho livre e os feitos com auxílio da computação gráfica, como mote central das discussões que envolvem o caso. É a razão técnico-instrumental sofrendo um golpe duro no campo de produção dos retratos falados, fator esse que não podemos negligenciar ao custo de não compreendermos em sua totalidade a beleza (sic) do jesto gesto.     


Nos resta ainda torcer para que o desenho seja tratado como um desenho e não como um crime. De minha parte, ao fruir a obra, senti uma imensa identificação com o bigode do referido suspeito, o que me fez de pronto ir até a farmácia mais próxima comprar um Prestobarba. 



Fontes

Polícia investiga retrato falado feito à mão por agente 'não perito' na Bahia" (G1-BA) http://migre.me/t0HiQ
Imagem 1 - (Reprodução/ Facebook)
Imagem 2 - Fábian Simon (http://migre.me/t0HkR)



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Um ponto antes do fim

16.2.16 Unknown 0 Comentarios



Queria ter a capacidade de viver sem fazer projetos, planos, sem criar expectativas, sem me incidir sobre o futuro. Queria sinceramente viver ao sabor das circunstâncias sem ser profundamente afetado por elas. Isso, porque, a impossibilidade de controlar minimante a vida em alguns momentos frusta, fatiga, cansa. É claro que essa é a pré-condição para que a vida, vez ou outra, surpreenda - tanto para o mal ou quanto para bem. Mas eu sou uma pessoa de feitio pacato, sereno, tranquilo e corrente a maior parte do tempo, no encardido do cotidiano. Naquelas horas em que viver é um contínuo inglório, fosco, de roupa de dormir, mãos molhadas e barriga na borda da pia, barba mal feita e dinheiro contado para o pão do dia. Nessas horas o necessário é estar onde se quer estar, o máximo de silêncio possível e uma carteira de cigarro ao alcance. Sobressaltos existenciais, em excesso, desmapeiam qualquer sujeito. Sempre há aqueles mais permeáveis ao imprevisto e ao precipitado - talvez aqueles que, de tão distantes da vulnerabilidade, já estejam entediados. Mas eu é que não gosto de caminhar desse jeito, com a vida sempre pondo um ponto antes do fim.

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#FazMinhaFeira

14.2.16 Pássaro Bege 0 Comentarios


Pare o que eu estiver fazendo agora, todos(as) do tombamento[1], de "Yves Saint Laurent à Índigo Blue", passando pela casual e minimalista camiseta da Hering até a tese doutoramento em moda. Estou vendo você aí, esticando, enrolando, você tá ligado, você também tomba. “Há de ser tudo da lei!” Uns acham que só podemos tombar pro cinza ou pra pedra de mármore, dizem sempre. Mas a gente tomba pro colorido, pra Gucci, pra Universidade, e por isso, nos chamam a atenção! #FazMinhaFeira
E essa Ranger Rover? Quero! E quero mais.... Sei que a meritocracia é bromazepam para o depressivo american way of life, tamo junto![2] Agora, daí, quando sei que vão dizer pra minha pirraia, doce, “você é até bonitinha”, ou que vão dizer “saí da cabelo ruim” pra ela, cresce um imenso bicho dentro de mim, que, vixe! fico incorporado só de pensar! “- Ora iê iê ô!” E quando cruzar comigo na rua vê se não muda de lado, porque eu vou tombar! “É um corpo suspeito”, disse o filósofo. “Com a minha filha, não!” disse a Beyoncé.     
“Mulas”, em tudo que você via, eram coadjuvantes, pobres, sem um pau pra dar num gato. Nas lições, nos gibis, na rua, você aprendeu benevolente que era branco(a) ou pardo(a) a depender da textura do seu cabelo e de sua consciência étnico-racial. Mas quem manda na minha textura e manda o texto sou eu, viu! Que fique bem claro, eu tombo. Mas nem só de likes vivo! Não é só isso, isso deve ser só sobre likes. Fechação por fechação, não![3] Tá dado o recado, “se não gostou, problema... paciência... vida que segue! [4]”




[1] A expressão "tombamento" é usada aqui no sentido "de uma nova roupagem do reconhecimento e fortalecimento da negritude através da estética" (Imprensa feminista, LACERDA. 2016) O texto "Parem de Criticar a geração tombamento" pode ser acessado no seguinte link: http://migre.me/sZohL
[2] Aqui uma crítica em relação a ideia de meritocracia presente na canção Formation de Beyoncé que circulou na rede social facebook: http://migre.me/sZoLD Postagem pública no perfil de Érico Bomfim
[3] Aqui uma visão crítica sobre o conteúdo ético da "geração tombamento" e sua atuação nas redes sociais: http://migre.me/sZoxO. Luciellen Assis, canal no youtube: http://migre.me/sZDms
[4] Expressão usada pelo amigo Rosano Freire do Foi Hoje
ps. A expressão "de Yves Saint Laurent à Índigo Blue" é uma referência a musica "Quanto vale o show?" dos Racionais Mc's: http://migre.me/sZEOe

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"Me segura senão eu caio": por que o frevo não toca o ano inteiro?

12.2.16 Cabotino 0 Comentarios


"Se a única coisa que de o homem terá certeza é a morte;
a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano". (Graciliano Ramos)

por Renato K. Silva
 
Não é de hoje que uma dúzia de frevos sustenta o carnaval de Olinda e Recife. Na última terça-feira de carnaval, do ano corrente, na apresentação de Elba Ramalho, no Marco Zero, houve um ponto de inflexão no maior palco da folia recifense: Elba tocou dois axés de Ivete Sangalo e a plateia foi ao delírio. 

A cantora paraibana misturou axé com frevo e isso não passou despercebido para muita gente que, inclusive, afirmou que o Marco Zero estava parecendo o Circuito Barra-Ondina. Exagero.
  

A recepção calorosa do público ao axé demonstra que não é de agora que há fissuras no gênero, por excelência, do carnaval pernambucano, o frevo, e que este está cada vez mais permeável, ou melhor, perdendo espaço para ritmos musicais alienígenas – axé, samba, eletrônico, funk, sertanejo universitário, etc.

Não vejo problema nenhum na mistura dos elementos sonoros, até por que a propaganda do “Carnaval Multicultural”, empreendida nas administrações petistas, formatou um certo jeito de entendermos a nossa maior festa popular assim como a nossa tradição sincrética no tocante às experimentações e hibridizações com culturas congraçadas em nossa terra. O que seria dos nossos ritmos musicais sem a livre permissividade que, historicamente, encampou suas lutas no pluralismo cultural? Certamente não teríamos a complexidade e a sofisticação que temos hoje.

Pois bem, o argumento central deste texto é o seguinte, o frevo vive há anos em um paradoxo: é um ritmo musical, orgulho do povo pernambucano, mas ao mesmo tempo tem sua longevidade amplamente tributada à subvenção governamental seja ela no mecenato público ou na regulamentação de executarem-no exclusivamente nas Ladeiras de Olinda, por exemplo, na época do carnaval. Isto é, não fossem os recursos governamentais, as regulamentações e as execuções sazonais sobretudo no período momesco, provavelmente o frevo já teria virado um epifenômeno.

É estranho observar como um ritmo musical centenário, como é o caso do frevo, precise de regulamentações e subvenções governamentais para continuar a existir quando há, de fato, uma solícita recepção, não apenas por parte dos turistas, como também do próprio povo pernambucano. Público há, faltam as condições matérias e simbólicas, para além dos incentivos governamentais, mas a partir destes, para que o frevo possa sim se perpetuar de maneira vigorosa, e não ser uma expressão musical moribunda tendo apenas sobrevida na época do carnaval.

Vejamos o exemplo do samba que este ano está chegando ao seu centenário. O samba está vivíssimo se comparado ao frevo, e por quê? Não entrarei nem no tema da estratégia que as administrações sobretudo varguistas imprimiram para alçar o samba como ritmo musical, por excelência, da identidade brasileira, o que fez o samba sair do cadinho regional para o nacional. 

A certa altura, o samba e o frevo, até meados da década de 1970-80, tinham o mesmo modus operandi no que se refere à distribuição dos seus lançamentos: os sambas e os frevos novos eram prensados – discos – por volta de novembro e dezembro, quando chegava fevereiro eles já estavam na boca do povo. 

O samba ainda mantém relativamente a mesma estratégia sobretudo nos sambas-enredo das Escolas do Grupo Especial que têm seus temas gravados em discos e distribuídos meses antes do carnaval, estes são executados nas rádios cariocas e fluminenses. Já o frevo perdeu-se nas formas tradicionais de distribuição – discos –, especialmente com o fechamento da lendária e única grande fábrica de discos fora do Eixo Rio-São Paulo, a Rozenblit, localizada na Estrada dos Remédios, Afogados, e que fora fechada em 1984, devido a ampla concorrência das multinacionais do setor e das sucessivas enchentes que destruíram os equipamentos da fábrica inúmeras vezes.

A Rozenblit era responsável não só pelas gravões dos novos frevos, como também de boa parte dos demais ritmos musicais pernambucanos: coco, maracatu, baião, ciranda... Com o fim da fábrica, o frevo não tinha mais como escoar seus novos sucessos às vésperas dos carnavais. Não é estranho observamos que parte significativa dos frevos que ainda ouvimos venham do período da Rozenblit.

Talvez o maior inimigo do frevo seja o fato de não estar em cena, isto é, o frevo não é executado nas rádios tampouco aparece na televisão fora dos festejos de momo. O principal ritmo musical pernambucano é alienado de sua população por conta de uma prática a qual todos fazem vista grossa: o “jabá”. 

O “jabá” significa o mecenato privado (pagamento) que um empresário faz para uma Rádio X, para que esta rádio execute as músicas de seu artista. Por isso que, quando você navega com o dial de seu rádio sente-se um “ar” de familiaridade nas estações, ou um déjà vu, pois todas executam o mesmo grupo de artistas e os mesmos ritmos musicais. Faça um teste: ligue agora o rádio numa FM qualquer e, certamente, estarão executando um axé ou um sertanejo universitário. 

A prática do “jabá” não é solitária, junto com ela a Indústria Cultural que, não se enganem é uma instância altamente econômica e política, trabalha em sistema, rede e de uma maneira racionalizada. Como exemplo, vejamos o caso do samba, falamos que antes do carnaval o público na Marques de Sapucaí já está com os sambas-enredos na ponta da língua, pois bem, além disso, os sambas são tocados nas novelas ou nas vinhetas da Globo; distribuídos por meio do selo Som Livre; nos sistemas de rádio; nas propagandas tanto da iniciativa privada quanto pública e, tudo isso, numa lógica racionalizada: maximizando os lucros e minimizando as percas na razão – os fins comerciais justificam-se por si próprios.

Voltando para o tema do paradoxo, o frevo encontra-se encalacrado num dilema cujas autoridades não conseguem achar termo: deve continuar subvencionando com iniciativas como o Paço do Frevo, por exemplo, enquanto o mesmo não é veiculado nas rádios; na programação das tevês locais; num circuito de atrações para além do carnaval etc., Qual a alternativa para fazer do frevo um ritmo musical perene o ano todo?

Bem, pesa contra o frevo o seu alto custo de execução, não dá pra fazer um “frevo fundo de quintal”, uma reles fanfarra exige mais músicos do que qualquer grupo de brega, por exemplo. Além disso, o frevo é um ritmo que exige um grau razoável de virtuosismo e preparo físico sobretudo respiratório. 

Outra coisa, não é por que não haja renovação no ritmo, há, sim, o problema é que os novos frevos não são executados nos meios de comunicação de massa nacionais tampouco pernambucanos. Não há espaços que os veiculem dentro do circuito comercial. Restando apenas as rádios universitárias ou públicas, mais uma vez os espaços subvencionados. Sem contar a nossa conveniência de não irmos atrás das novidades. Todos os anos ficamos descendo e subindo as Ladeiras, ou no Centro do Recife, cantando a mesma dúzia de frevos. Compositores de frevo como Getúlio Cavalcanti afirma que todos os anos compõe novos frevos, porém eles não são veiculados tampouco há apelo para que ele toque os trabalhos recentes. Fica todo mundo pedindo: "canta O último regresso!".

Talvez uma saída para o frevo seja apresenta-lo as novas gerações. E esse exercício deve ser feito a partir das escolas municipais que possuem estruturas físicas razoáveis, por exemplo. Para tanto, dar aulas de percepção musical com ênfase no frevo e também de dança com especial interesse no ritmo que é uma dança popular fisicamente plástica, o que ajudaria também na educação física.

Dando continuidade, seria interessante criar um circuito para o frevo além do subvencionado pelo mecenato público. Ou seja, vide o brega e seus correlatos (tecno-brega, brega-funk...) que começaram galvanizando os programas de auditório local no início dos anos 2000, estes recebiam caravanas de escolas públicas, por conseguinte, os programas construíram um público de início nas periferias e hoje alastrado por toda a cidade, basta observar o brega chique-andrógino classe média de um Johnny Hooker, ou o brega-fuleiragem, também de classe média, de um Faringes da Paixão.

Como espaços para escoar a produção do brega local, vejamos o exemplo do bairro de Jardim São Paulo, há nele, hoje, três casas noturnas que tocam, quase exclusivamente, brega e seus desdobramentos. 

O brega é um exemplo de uma música que conseguiu consolidar-se por si mesma firmando um circuito, aqui em Recife, com seus agentes destituídos dos aportes tradicionais da Indústria Cultural (sistema, rede, racionalização), esta que ajudou tanto o samba quanto mais recentemente o funk, no Rio, tampouco o brega tem subvenções governamentais como tem o frevo, tanto na capital quanto no interior.

Talvez o caminho que o frevo precise trilhar esteja no exemplo do brega que, começou se permitindo às influências de outros ritmos, depois partiu para a luta de conquistar seu público e seus meios de distribuição – casas noturnas, programas de tevê, rádios, camelôs comercializando CDs piratas, etc., Precisamos de mais Spoks, Maestros Forró e outros para oxigenar o frevo e, acima de tudo, precisamos cobrar mais políticas públicas que façam o frevo, futuramente, não precisar mais destas. Do contrário, o frevo continuará com sua existência tal o refrão de Pagode Russo, de Luiz Gonzaga e João Silva: “Parecia até um frevo naquele vai ou não vai”.


Doutorando em Ciências Sociais pela UFRN.
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Imagem I: Elba Ramalho na última noite do carnaval recifense, no palco do Marco Zero. 
Disponível em: <http://carnaval.uol.com.br/2013/album/2013/02/13/elba-ramalho-faz-show-no-ultimo-dia-de-festa-no-marco-zero.htm> Acesso em: 12 de fev. 2016

Imagem II: Banda Ovelha Negra.
Disponível em: <http://quemgostadebregasoueu.blogspot.com.br/>
Acesso em: 12 de fev. 2016.
 


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Os ratos roeram a roupa do "Rei de Roma"

4.2.16 Cabotino 0 Comentarios


A megalomania recifense serve apenas para alimentar nosso provincianismo. Nos arvoramos de símbolos, produções culturais, ritmos musicais, ídolos de ontem e de hoje, lideranças carismáticas, políticos orgânicos e inorgânicos que nasceram, ou foram adotados por nós, para insuflar um ego telúrico que é até bonitinho, mas que não quer dizer nada.

Moramos em uma paróquia e nada vai nos demover do contrário. Dividimos até a mesma arquidiocese com Olinda. Nossa elite cabe numa cozinha, ora fazendo Bolo de Rolo, ora fazendo um Souza Leão.

O último exemplo de nossas vidas paroquiais foi o frisson, sobretudo no rádio, na tevê e também nas redes sociais – essas menos por serem mais pulverizadas – causado pelos trajes do treinador do Sport Clube do Recife, Paulo Roberto Falcão.

Foram duas semanas em que se falou apenas nos trajes, digamos assim, pouco ortodoxos para um treinador de futebol na "Terra dos Altos Coqueiros". Falou-se da bermuda que Falcão utilizou à beira do gramado, numa tórrida tarde sertaneja, na derrota do Sport frente ao Salgueiro, por um a zero, no estádio Cornélio de Barros. Comentou-se do chapéu Panamá que o treinador usou no amistoso contra o Argentino Junior, na camisa de botão florida etc., 

Ninguém falou que Falcão nasceu em Santa Catarina, mas morou sempre no Rio Grande Sul, e com passagens em lugares com clima mais auspicioso do que o nosso. Nenhuma viva’ alma teve o bom senso de relativizar os trajes do treinador em função de sua vida pregressa. Ou um cristão qualquer, na bairrista crônica esportiva local, para chamar atenção dos companheiros de estúdio e de emissora pra dizer: minha gente, vamos falar de futebol!

Ano passado, quando Falcão chegou à Ilha do Retiro, a impressa local foi a primeira a minar o trabalho dele. Alegaram que ele não fazia o perfil do Sport. E qual é o perfil do Sport, então? Ao cabo do Brasileirão, os números do treinador à frente do Sport só ficaram atrás do campeão Corinthians. Daí alegaram que ele pegou o time pronto de Eduardo Baptista, tudo bem, está correto. Agora esqueceram de dizer que Eduardo Baptista teve apenas 8 vitórias em quase 30 rodadas, Falcão teve 7 vitórias em 11 jogos.

À medida que as vitórias vinham no Brasileirão, Falcão questionado antes até de começar seu trabalho, começou a ser chamado de gentleman, fidalgo e outros adjetivos que vinham à tona, sobretudo após as coletivas de impressa. 

Agora, após a segunda rodada do Hexagonal do Título, do Campeonato Pernambucano, depois da segunda derrota consecutiva do Sport, dessa vez frente ao América-PE, a mesma impressa começou a questionar o trabalho de Falcão. Começaram a falar que ele não chega à Páscoa, quem dirá a junho. Pondo em xeque o trabalho do treinador após a segunda rodada.

E as críticas iniciais em tom de pilhéria começaram a surgir justamente do assunto mais alardeado por eles nas últimas semanas. Disseram que "Falcão está mais preocupado com o visual do que com o time", que "chapéu Panamá não entra em campo", que "os treinos fechados", que a desculpa da buzina de Tarcísio, folclórico torcedor do Salgueiro, era esfarrapada e que não redimia o fraco desempenho do Sport frente ao Carcará. Mas em nenhum momento Falcão pôs a culpa da derrota do seu time na conta da buzina do citado torcedor. Falou apenas que seu trabalho, à beira do campo, foi comprometido. Agora eu gostaria de ver você narrar um jogo, ou transmitir as informações à beira de campo, com alguém buzinando em seu ouvido. 

Nossa impressa é provinciana, sobretudo a esportiva, e é responsável por alimentar cada vez mais essa nossa postura paroquial frente ao diferente, ao incomum, ao cosmopolitismo. O rádio e a tevê ao invés de incentivarem a diferença e o pluralismo, ficam retroalimentado um bairrismo tacanho. 

Parece que a vinheta: “Pernambuco falando para o mundo” deveria ser alterada para: “Pernambuco falando para si mesmo”. E se é para falar de si mesmo, na resenha futebolística, que o assunto seja ao menos futebol, porque a roupa do "Rei de Roma" já está toda manjada do tanto que falam sobre ela.

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Crédito das fotos: Google Imagens

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O futebol em sua metafísica diz: vai com calma favoritismo

2.2.16 Foi Hoje! 0 Comentarios


por ROSANO FREIRE

À moda antiga, à moda de Nelson Rodrigues, mestre da crônica esportiva, inicio este pequeno texto indicando, de antemão, quem ou quê eu considero ser o personagem principal dos últimos eventos futebolísticos.

E na semana de estreia do "Trio de Ferro" pernambucano no torneio local de futebol, outro não poderia ser senão o tão debatido "favoritismo". Ele é o nosso Hamlet - nossa indecisão e nossa tragédia.

Começo pelo Santa Cruz Futebol Clube. Este, por ser o atual campeão e por ter mantido a base que consagrou uma campanha vitoriosa no campeonato brasileiro da série B, era apontado como o favorito para as primeiras rodadas do estadual. Mas o Terror do Nordeste tem uma dificuldade tremenda em lidar com esse elemento distintivo. Não sabe pô-lo a seu próprio serviço. Embaralham-se junto ao favoritismo, os discursos da "humildade" e do "respeito ao adversário". Uma peculiar confusão que resulta na perda do mais necessário e primordial espírito competitivo. Nesse cenário, a decepção é uma iminência. Foi o que aconteceu no jogo contra o Náutico, que soube vencer o Santa Cruz explorando sua maior vulnerabilidade: a exposição aos contra-ataques. Como faca, a vitória alvirrubra fez cair por terra qualquer favoritismo, qualquer antecipação. De agora em diante - espera-se - mais atenção e mais foco.


O outro caso é o do Sport Clube do Recife. O Leão, nesse quesito, é o avesso da Cobra Coral. Não sabe jogar, pelo menos as competições regionais, sem a "grife" do favorito. Faz parte da dinâmica rubro-negra: usa o discurso da superioridade para mexer com o brio dos adversários. As vezes dá certo; às vezes, ao contrário, dá aos rivais material para provocações inversas. Falível e traiçoeira, como qualquer lógica referente às artes do ludopédio. No caso específico dos acontecimentos anteriores à estreia no campeonato estadual: existiu uma preocupação latente de parte do elenco do Sport em afirmar-se como favorito - refiro-me às declarações de Renê e Maicon. Tudo isso porque, diferentemente do ano passado, a imprensa e a crítica dita especializada não apontavam a equipe rubro-negra como favorita. Como se isso fosse o mesmo que dizer "não é uma equipe forte", "não vai brigar pelo título", e coisas de mesmo gênero. O resultado é que, patinando no seu discurso e à procura de sua identidade, o Leão acabou batido pelos sertanejos no Cornélio de Barros. Pragmático, o Salgueiro jogou o necessário para ganhar.

Como se fosse parte de um script, nos dois casos - Salgueiro e Náutico -, o discurso imediatamente posterior à vitória era quase idêntico: "futebol é onze contra onze" e "se ganha dentro de campo". Um retorno à velha máxima, impávida e incansável: favoritismo não ganha jogo. Ou conforme Victor Almeida, que sentenciou de maneira mais elegante no Facebook: subjetividade não enche barriga.

Larga na frente quem aprender a lição.


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Crédito das fotografias: Google Imagens

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