Castanha Limpezinha

26.6.11 Joarez 1 Comentarios


Existem pessoas que têm um traço especial, uma caracterpistica singular, que as tornam marcantes em relação a um dado assunto. Por exemplo: quando falamos em Holocausto, lembramos, quase que institivamente, da imagem de Adolf Hitler. Tá bom, eu admito, o exemplo foi escabroso. Outros exemplos: é impensável falarmos em Física Quântica sem tocarmos no nome de Alberto Einsten; discutirmos o cinema moderno sem falarmos em Chaplin, e de sua influência sobre ele; debatermos a literatura brasileira e não salientarmos o peso do realismo de Machado de Assis. Captou a mensagem?
Pois bem, seguindo a mesma lógica associaríamos, diretamente, Pelé ao Futebol, Aristóteles à Filosofia, Shakespeare ao Teatro, Elvis ao Rock'n Roll, João Gilberto à bossa nova. É bem por aí; espero ter me feito claro.
No bairro da Vàrzea, local que frequento apenas para encontrar um velho amigo vendedor de livros, garbo e elegância têm um nome certo. Seus moradores, quando questionados sobre o assunto, sem demora e sem titubeio, respondem, no duro: - Elegância é com o Prof. Helton Silva. Os mais ousados (íntimos?) chegam, até mesmo, ora vejam, a chamá-lo Castanha Limpezinha.

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A preguiça de Juarez Prosador

14.6.11 Castanha 3 Comentarios


Se fosse só uma vez perdida, vá lá, a gente aceita ou finge que não percebeu, e a vida passa. Mas vamos e venhamos: - não há quem suporte o exagero. Outro dia, vejam bem, eu fiquei quatro horas deitado debaixo de uma sombra de árvore. Quatro horas! A sombra era aprazível, e o local ventilado, mas perder toda a tarde ali foi demais. Com a minha mão em cima da barriga, a cabeça recostada numa moita de grama, eu não respondia nem aos "Boa Tarde!" que me eram direcionados.O pior, é que isso é igual a porre de cachaça: no momento, você acha uma maravilha, depois, e só bem depois, você se arrepende, uma espécie de ressaca moral. Minha situação, no momento, é caótica: - Eu não tenho um vintém no bolso. Eu que já fui soldado do exército, marinheiro, servidor público, comerciante, ourives, técnico de futebol, ajudante de pedreiro. Sempre tive um ganha-pão, nunca me faltou nada nessa vida. E hoje não posso comprar um caramelo na esquina, na barraca de Seu Ariosto. Como não bastasse isso, ainda tenho que aguentar alguns vizinhos infâmes a me soltar piadinhas. Outro dia Dona Genalva me soprou esta:"Vida de rei, né Seu Juarez, mas a casa é de plebeu." Eu já tentei de tudo: tomei remédio alopático, bebi chá de orquídea rosa, fiz massagem na palma da mão com fezes de hipopótamo, fiz promessa a Santo, fui em igreja neopentecostal, mas nada, absolutamente nada, me ajudou. Um pouco antes de começar a escrever essas mal traçadas linhas, eu comi uma gosma amarela chamada Miojo, que o pessoal tem a petulância de chamar de macarrão, tudo porque ela não deixa nem que eu me alimente direito. Ela, sim, é ela que não me deixa viver: - a desalmada da preguiça!
Juarez Prosador 14/06/2011

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O peixe não tem olhos (PARTE 4)

3.6.11 Castanha 1 Comentarios


(Advertência ao leitor: Esse conto está invadindo um blog de crônicas)

Iugo não conseguiu dormir naquela noite e isto em tal época do ano não era boa coisa. Como foi dito as noites duravam pouco, não mais que quatro horas, e se não se conseguia dormir neste curto tempo não se dormia mais em tempo nenhum porque nas vinte horas por dia em que o sol pairava sobre a cabeça dos cidadãos, o calor era tão sufocante que tirar o menor cochilo era impossível. Em linhas anteriores expus, também, minha opinião sobre Iugo: O acho um idiota. Por quê? Pode se perguntar o amigo leitor. Vamos lá: Iugo sentia-se muito superior aos outros ao seu redor. Tudo bem, justiça seja feita, ele era uma pessoa curioso, bem informada, acompanhava noticiários, era honesto e bom funcionário, mas no mais não era diferente de tantos e tantos incontáveis outros. Mas, ele não via isso, odiava os demais e isso o cegava e quando algumas coisas aconteciam como a situação da venda da ‘idéia da certeza’ para o cliente idoso e intolerante, ele exasperava. Iugo nunca teve muitas chances na vida, mas nunca teve menos chances que a maioria dos demais. Ele não enxergava isso e muitas vezes se lamentava. Como não tinha amigos com quem conversar, dividia suas mágoas com o travesseiro sempre antes de dormir (Está aqui à causa da falta de sono que rasgava sua noite) e de uns tempos pra cá tinha o peixe, o peixe que não tem olhos. Quando estava em casa limando-a ou cozinhando ele conversava com o peixe “Lembra daquele conhecido meu que trabalha na loja de ideias inovadoras, aquele que ganhou uma promoção no mês passado? Eu encontrei com ele hoje e ele me disse que o chefe está gostando muito do trabalho dele, mas tenho certeza que ele só subiu de cargo porque puxa o saco do gerente local se não fosse por isso ele não teria mais chances que eu; às vezes eu penso que todo mundo tem mais chances que eu”. O que Iugo se esquecia de contar pro peixe (E acredite amigo leitor, não era de propósito, era por cegueira) é que o dito colega empenhara-se ao máximo na função que ocupara. Depois de um tempo continuava “Lembra que eu falei do meu gerente lá do emprego? É um otário! Pensa que sabe de tudo, chega pra dizer o que tem que ser feito assim e assado... Às vezes eu acho que todos têm mais espaço pra falar que eu.”. O que Iugo se esquecia de dizer para o peixe é que esse é o papel do gerente: Dar ordens (Mas, isso eu acho que o peixe já sabia). E mesmo assim havia espaço de sobra pra os diálogos, espaços que Iugo não ocupava por achar aquilo pequeno pra ele: “Eu é que não compartilho minhas opiniões com esses ‘menores’”, dizia de si para si durante as reuniões da equipe. Depois voltava a seguir o diálogo com o peixe. No final do dia, tendo concluído tudo, parava em frente ao aquário e falava baixinho, pois tinha medo que o peixe escutasse “São tão cegos quanto você e a única diferença é que em vez de órbitas vazias eles têm cabeças vazias”. Às vezes me pergunto se o peixe não ouvia aquilo e pensava: você não é tão diferente dos outros.

Diário pessoal – Reflexão do dia:
A visão: pode ser biologia (Usando literalmente os olhos) ou simbólica (A ideia que construímos de tudo que vemos enquanto estamos vendo). A maioria das pessoas não tem visão. Sou assim? Provavelmente não, se fosse eu saberia. Será? Não sou. Tenho certeza.
Iugo Um dia assim /do mês de sempre / do ano que já conhecemos.
(Continua...)

Castanha 03 / 05 / 2011

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