Encontro casual

29.12.12 Joarez 0 Comentarios


                                       "Um Belmiro oceânico, irremediavelmente oceânico, eis o que Carmélia pressentiu em mim, denunciando-me a existência de Belmiros ainda inexplorados." (DOS ANJOS, Cyro)
Arte de Brassai

Por que você demorou tanto, tinha necessidade, demorar tanto? Se você não lembra, eu nem queria vir aqui. Mas aceitou vir. Custava chegar só um pouquinho mais cedo? Não enche, esquece isso, e fala. Falar o quê? O que você disse que queria me dizer. Ah, sim... Aquelas coisas, sabe, quero você de volta. Eu não sou mercadoria: uma hora você toma pra si; noutra, devolve; mais pra frente, já quer de volta... Coisa de gente imatura. Pra quem não queria vir conversar, você até que tem muita coisa pra dizer. Tenho, sim, e não sei como ainda tenho coragem de dizê-las. Você está sufocada. Pois é: você é meu oceano. Você sempre arruma um jeito de pisar em mim. Apenas estou desabafando... E desabafo porque acho que você tem que aprender muita coisa nessa sua vida verde. Eu já aprendi bastante coisa. Ah, sério? Sim, seríssimo. Por exemplo: aprendi a escrever. Por exemplo, esta técnica que estou usando agora é a 'diálogo interno'. Que achas? Antes tivesse aprendido a ser gente. Ser gente é muito difícil, vou deixar esse projeto para o futuro. Por enquanto eu me contento em ser oceano.

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Malditos amigos que amamos.

28.12.12 Pássaro Bege 0 Comentarios


 
Eu até posso ter um bexiga selvagem,
Ou quem sabe, ser um réptil albino.
Até posso ter a cabeça num formato de uma castanha,
ou ser comparada a Mafalda do Quino.
  Se levo sol em demasia, posso até não ficar bronzeado, e sim, bem rosinha tal qual uma manga rosa. Posso ser bem tímida, tipo uma matutinha de carpina...

 

   Mas o que não consigo de jeito nenhum, é viver sem ter amigos "safados" e arriadores... Esses que nos ensinam a rirmos de nós mesmo. Os que suspendem a seriedade e soltam aquela gargalhada de uma gafe nossa, de nossos porres, de nossos amores e dos nossos desejos estranhos.

Malditos sejam todos!

Malditos que adoramos.

Malditos amigos que amamos.

 

Pássaro bege.  


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O Desespero que Sangra Todo o Mês

27.12.12 Mademoiselle Fifi 0 Comentarios





Nós mulheres temos uma forma peculiar de desespero que difere das dos homens, sofremos ele de uma maneira descabelada, barulhenta e circular, eu acho. Ele é regado a conversas intermináveis ao celular e a comida, reparam? Nossas bocas não param. Já os filhos de Adão são mais silenciosos, o desespero de gene XY se realiza em porres de álcool em uma atmosfera de quaresma, que lembra a de uma barbearia com jogos de dama, mais triste do que uma dose de uísque em uma varanda qualquer, assim creio. Já o nosso desespero de par XX é um carnaval de rua, é frevo vassourinhas, mais ruidosos do que boca de manicure.

O movimento circular de nosso desespero pode ser visto em um reles lavar de prato, ou de roupa, não que essas atividades sejam mais exclusividades nossas, uma pena, gostaria que ainda a fossem, haja vista o feminismo ter nos presenteado com as jornadas duplas e triplas, e além do mais não vejo demérito nenhum em ser dona de casa, eu acho. Enfim, porque temos que ouvir música quando lavamos a porra de um prato, ou quando torcemos de forma contrária as roupas recém lavadas, cantando a plenos pulmões músicas que mais lembram uma ladainha de uma carpideira chorando por um alguém qualquer, assim eu vejo. 

Somos o par de costelas a mais que carrega o choro expulso após nove meses, somos a pedra que rola diariamente para os Sísifos subir com ela logo após, movimento peristáltico em busca do transe, somos a novela das sete, a cama bagunçada, as pernas que tremem, a boca aberta e os olhos revirados, eu acho.  

O movimento de nosso desespero é romântico, é a Cavalgada das Valquírias de Wagner, subindo aos céus em busca de um Odin qualquer, o desespero masculino é música barroca, é Bach tocado em câmara para meia dúzia de expectadores, já nós queremos os holofotes que cegam mais que iluminam, queremos a plateia, a multidão, a massa, a burguesia, assim penso. Nosso desespero é estrógeno, é Vivian Langue em e o vento levou... É Audrey Hepburn batendo pernas na Tiffany. Já os testosteronas são Alfred Bogart sorumbático ouvido as time goes by, é Bill Murray com suas broking flowers, eu acho. Desespero hipostático, Emma Bovary alucinando, Lady Macbeth ao pé do ouvido, é Eva persuasiva sentindo dor no trabalho de parto, conversas na pia e na cozinha, é jogo de queimado, é Suzy querendo ser Barbie, é sangue todo mês e ele não morre, se revigora em cada movimento uterino, assim penso.

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Uni/Verso-Unis/Sexy

27.12.12 Mademoiselle Fifi 0 Comentarios




As mulheres com o passar do tempo começaram a ter uma educação unissex, isso ao meu ver, foi um ganho qualitativo em nossa educação sentimental, sexual e política. Saímos de Iracema, a Índia com os grandes lábios de mel, para Dona Flor e seus dois maridos passando pela Casa dos Budas Ditosos. Esta educação unissex se revelou uma arma política sem precedente em nossa história público/privada, com ela ganhamos o mundo, o abraçamos com mãos e pernas, jogando vôlei e futebol, enquanto eles continuaram com os G.I Joe.

Ganhamos ruas, bares, escritórios com nossos pequenos blaisers a la executivos de saias e salto alto, continuamos ganhando menos, enquanto eles mais, mas não mais com a sedução, esta agora é monopólio nosso, pois os biquínis estão cada vez mais cavados na praia ou nos salões de bronzeamento artificial. A marca da maldade é só nossa!

O pudor ainda é um peso muito presente em nós, não seria para menos, tendo em vista ser os nossos corpos os mais vigiados da história do Ocidente, aprendemos a sentar e cruzar as pernas, ser polida e ter postura regrada. Porém, esta educação unissex que temos adquirido, nos revela o outro lado da moeda, somos a cara e queremos a coroa. Esta educação nos tirou o pejo da escolha de nossa relação sexual, ainda de forma discreta, enquanto eles só jogam bola e tem a sua cara na coroa, nós temos o vôlei e o futebol, a Barbie e o Ken. A metade da laranja agora pode ser cravo ou mimo. 

Esse narcisismo de espelho d’água não ajudou em nada a vida deles, mirando unicamente a pélvis e a própria imagem, eles continuam reproduzindo os anacronismos e a rigidez do mundo que pesa sobre seus ombros. Mas, esta fatura não é só deles, temos a responsabilidade de reproduzir esta tal ordem de coisas, haja vista o monopólio da administração deste braço esquerdo do Estado ser nossa, creches, escolas, o lar, hospitais e etc. Se reclamamos em muitas ocasiões da postura machista deles, nós também a reproduzimos por ocasião da criação deles. Quando estes aparecem com uma postura socialmente efeminada, somos as primeiras a sancionar esta postura, e se eles chorarem pedimos para calar – porque esta chorando se eu não bati em você? – e além disso, eles não devem chorar!

Então se quisermos aliviar a nossa solidão e se quisermos também criar uma sociedade mais bi destra ou ambidestra, temos que dar a nossa mão esquerda a mão direita (polícia, tribunais, congresso, prisões e etc.) do Estado, andar de mãos dadas e com todo aquele sentimento do mundo unificado através de uma educação mais unissex para ambos, porque aliás, ser canhoto ou ser torto é direito!

               
               

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Breves momentos

24.12.12 Joarez 1 Comentarios


Os amendoins, pequeninos, pesam pouco. Se o considerarmos apenas em grãos, já fora da crosta enrugada que os protege, pesam menos ainda. Mas dentro da casca envoltória, e esta, por sua vez, em muitas, dentro de um saco, e este, também por seu turno, em grandes quantidades, amarrados estrategicamente nas extremidades de uma haste, de modo a que o peso seja precisamente dividido, pesam bastante. Pesam mais do que a olho nu possamos imaginar e mais do que racionalidade precisa de uma balança possa acusar: - pesam uma vida. Pesar uma vida é o rápido instante que uma pedra leva até descer ao fundo do rio, é o choro de um bebê, é uma lágrima que despenca da cara, é um orgasmo silencioso, é um grito sufocado, é um baixar de olhos envergonhados, é a contração burlesca da face na hora do trago da cachaça, é tudo aquilo que, sem atenção e acuidade, se perdem anônimos no tempo passado. O olhar grave, profundo e desfocado, de alguém que carrega nos ombros o peso da própria existência, também é um desses breves momentos. Mas graças a raros talento e habilidade, eternizado.


Créditos da imagem: Marília de Orange ©

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Virtudes de fim de ano

23.12.12 Joarez 0 Comentarios


                                                        "só o caminho do desmedido conduz ao palácio da sabedoria" (BLAKE, William)

Daí que essa época de fim de ano é a mais propícia ao excesso. Esbaldar-se, digo, fartar-se. Sob a bênção do mito cristão, é claro. E acima de tudo. Sou ateu, graças a Deus, mas adoro nosso calendário católico. Bebe-se abundantemente, e às vezes de graça, que maravilha. Come-se vorazmente, em festas e confraternizações. Baco sorri, e nos espera. E compram-se coisas por todos os lados. Roupas, sapatos, perfumes, televisões, e tantas outras coisas. Cartões de crédito, carnê, descontos, não sei quantas vezes sem juros, a primeira só em janeiro, facilidades de endividamento, aleluia. A cidade está linda, iluminada. As casas estão caiadas. É fim de ciclo, e tudo pode. Troca de namorado, a moça: ano novo, vida nova. Engata um romance, a outra: os astros já avisaram: é ano para os pombinhos, 2013. Dorme-se até mais tarde, até perder-se o horário do trabalho, e isso sem muitas retaliações: até o chefe está mais tolerante. Época boa para desapegar-se da disciplina, e se aproximar de outra dama muito mais carinhosa, a preguiça. Cultuar o ócio, se empazinar de comida, beber rios de uísque, curtir a ressaca. E mais: de roupa nova. É época boa para tudo isso. Só não me venha com aquele papo de reflexão.

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Presente de Natal

22.12.12 Joarez 0 Comentarios


Saíram as três filhas para comprar um presente de Natal para o pai, um senhor com mais de setenta anos de idade. Combinaram que deveria ser um sapato, um pisante, e nada mais:

- Vamos levar esse aqui, ele precisa de um tênis confortável para poder caminhar.
- Como é que você quer colocar um tênis vermelho nos pés de um senhor que já está casa dos setenta? Vai ficar meio ridículo, sei lá.
- É. E outra: ele mal anda em casa, quanto mais perambular pelo meio da rua. Vamos levar este aqui, melhor.
- Deus seja louvado, o que tu tens na cabeça pra querer comprar um sapato social, apertado, pra um idoso que deseja conforto? Temos que pensar numa coisa mais casual, leve, tipo este aqui, olha!
- Casual pode até ser, mas verde-musgo já é demais, né? Esse não, compremos este aqui.
- Ouxi, sapato de jogar bola?, caramba!, vamos ter limite, daqui a pouco vocês estão sugerindo Crox.


Trechos de conversação como essa se repetiram durante toda a tarde do dia 19 de dezembro de 2012, na Rua da Imperatriz, centro do Recife. Somente lá pelas 19:00h elas chegaram a um consenso quanto ao presente do pai. De bom gosto, diga-se de passagem: a querela sobre a escolha do sapato foi cansativa, mas não em vão.

Chegaram em casa e foram direto ao quarto do pai. Colocaram o sapato junto de seus pés, e esperaram. O senhor olhou de um lado, olhou de outro, e nem um pio. Na realidade, a pouca energia que tinha ele gastava tentando calçar o sapato. Uma das filhas, indignada, pergunta:

- Pelo amor de Deus, papai, o senhor não vai dizer nada?
- Dizer o que menina?
- Se gostou, se não gostou; se tá bonito, se não tá; enfim, se tá bom.
- Tá ótimo: feio é andar descalço.


Foi tudo que ele disse. Virou, se agachou com dificuldade, e continuou tentando calçar o sapato.

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Os sete pecados das capitais [Fetiche] I

19.12.12 Cabotino 0 Comentarios



FETICHE

            Camareira de motel acha tudo gozado, literalmente. Maria das Graças era o nome dela, 37 anos, solteira, não sabe qual foi a última vez em que trepou ou se masturbou, o rosto já leva o cansaço dos carnavais e das quaresmas, as mãos vincadas pelo contato constante com água sanitária, o corpo moído pelos sonhos e pela Mais Valia. Trabalha no Motel – Break Fast – cujo singelo slogan nos diz: parada rápida, e escrito mais em baixo com letras menores – em caso de pernoite, café da manhã de graça. Creio que esta promoção é para não perder o duplo significado da tradução do nome, a publicidade sempre nos atrai pelo Kitsch.

            Talvez tudo tenha se iniciado quando em mais um dia de trabalho Maria encontrou no lixeiro do banheiro de um dos quartos, um feto ao lado de uma haste de ferro envolta de um papel higiênico ensanguentado, continuou o seu trabalho, limpou o quarto e levou o lixo para fora. Desse dia em diante nada de novo lhe acometeu, exceto, o início de uma simples curiosidade, mas a curiosidade é o hímen das taras, uma vez rompido... Das Graças começou a contar a quantidade de camisinhas vertidas no lixeiro, no chão, pregadas na parede ou deixadas na cama, ficava triste quando não encontrava nenhuma nos quartos, nem nos banheiros, só aquelas manchas grudentas nos lençóis.

            Quando contar e depois pegar com as mãos, sem as luvas, já não lhe satisfaziam mais, começou a cheirar o esperma, sente mais prazer com o cheiro das manchas de porra nos lençóis do que nas camisinhas, pois o látex ofusca o cheiro de água sanitária do sêmen, tão familiar, tão gostoso. O passo seguinte foi o de entrar nos quartos munida de um copo americano, torcia para encontrar uma camisinha amarrada com um nó, porque esta técnica, mantem a temperatura do esperma. Porém, qualquer uma servia, desde que preservado o conteúdo, depois destes achados ela despejava toda aquela porra no copo americano, dava uma cuspida dentro do copo, três mexidinhas com o dedo indicador, bebia tudo e lambia o dedo depois.

Por: Cabotino

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Panela de pressão

19.12.12 Cabotino 2 Comentarios



e é de noite que tudo faz sentido no
silêncio não ouço os meus gritos

porra já passa das três da manhã e até agora nada do sono é foda quando começamos a ouvir o piar dos passarinhos e os primeiros sons dos galos como é mesmo aquele verso do poeta um galo só não terce uma manhã mas é galo que terce ou aranha deixa pra lá foda foda foda agente faz um esforço da porra pra tentar construir um mínimo de coerência neste mundo e somos enrabados pela insônia puta que pariu uma amiga já me aconselhou a usar vaselina sob os bolsões dos olhos para esconder as olheiras mas de que adianta este ardil carai olha a barra do dia apontando como é mesmo aquela música eu vejo a barra do dia e estes lençóis úmidos de suor e eu fritando aqui na cama a olhar os desenhos do telhado a televisão é um arco íris vertical

xixixixixixixxixiixiixixixixixixixixiiixxiixixix
xixixiixixixixiixixixiixixixixiixixixixiixixixixi

Aê porra! Conseguir dormir um pouco, já estou ouvindo o som da panela de pressão com o feijão ou a carne no fogo. O sol está alto, deve ser umas nove ou dez horas. Calor, muito calor. Será que o personagem de Camus, Meursault, sofria também de insônia? Talvez. Olho-me no espelho, está lá os dois bolsões, estou parecendo um panda e assim como este estou também em extinção. Vou tomar um banho para arriar esta mazela, canícula ou modorra? Enfim, como é mesmo a frase daquele sofista de nome proparoxítono, esdrúxulo, ah sim, lembrei – Protágoras – O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são. Antropocentrismo! Condições normais de temperatura e pressão. Vou tomar o meu banho!

xiixixixixixiixixixixixixixiixiixixixiixixixixiix
xixixixiixiixixixixixixixiixixixixiixixiixixixixx

Por: Cabotino

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100 por 10 e 1 por 100.

14.12.12 Pássaro Bege 0 Comentarios


           O título da crônica poderia coadunar-se bem com o de uma história de mistério ou suspense, uma narrativa do tipo: “Nas últimas linhas desse escrito, haverá uma revelação”.





Não, não, não, Joana e João. O conteúdo desse relato seguirá uma linha "García Márquez", o da “Crônica de uma morte anunciada”. Ou seja, tratará essa crônica de um atendimento que recebi de uma empresa de Internet, junto à qual, queria contratar serviços de banda larga e, pasmem, fui bem atendido, no entanto, tive uma infeliz surpresa 30 dias depois.
Só um pequeno parêntese antes de prosseguir (eu disse: “Banda Larga” e não, “Manga Larga”). Essa ressalva vai para os pudicos de plantão, já para os carentes de imaginação, vos digo outra ressalva: Essa crônica não é uma propaganda, por favor, leiam até o fim. Voltando...
Veio-me a cabeça que estava de fronte da morte da sisudez e da impessoalidade. Talvez, o anúncio de uma nova era em que não tivéssemos mais que nos submeter à mecanicidade com a qual somos tratados nos atendimentos dos chamados call center’s ( espécie de canal de atendimento entre o consumidor e produto oferecido, onde os atendentes da empresa recebem as ligações dos clientes da empresa. São os famosos, trabalhadores das "baias". "Baias", assim mesmo, como os cavalos em um estábulo).
Atendeu-me com uma voz alegre, o Felipe, talvez porque estivesse de fato feliz naquele momento. Como um ser humano, ele perguntou o que eu desejava de informação e sorrindo disse assim: "E aí, Bege!? Temos alguns planos que batem com seu perfil, cara!" Já fui respondendo em seguida: Então velho, é o seguinte...
A ligação deve ter durado uns 15 minutos. Foram 15 minutos de um papo repleto de gírias e expressões da oralidade, não nego que além da questão da linguagem e da simpatia do atendente fui devidamente contemplado em relação as informação que solicitei, de maneira rápida e eficaz.
Contudo, o que me impressionou mais mesmo, mais do que tudo que falei até agora, mais que a crônica de Gabo, mais do que a linguagem do atendente no atendimento, foi a fatura que recebi 30 dias depois do contato com Felipe em meu modesto e colorido ninho de Pássaro avoador. Quase morro do coração com o preço daquele troço, mais de 100 dinheiros, por volta de 110.
Fui logo pesquisar as ofertas da concorrência, para quem sabe, trocar de prestadora, mas foi aí que lembrei mais uma vez do brother Felipe. Ele, com sua voz macia e linguajar refinado, havia me dito da multa que eu pagaria caso abandonasse os serviços antes do fim do contrato. Com isso em mente, desisti de cancelar os serviços com a operadora, mas fiz uma ligação para a central de atendimento para reclamar da insatisfação que sentia desde a aquisição daquele produto.
Irritava-me a discrepância da velocidade que havia contratado em relação à velocidade real que chegava em meu computador no acesso a internet. Mas, ao fim do papo agradável com o humano Felipe,  foi triste e previsível perceber que nesse país, que esse Pássaro por ora sobrevoa, as pessoas são menos importantes que as coisas.
Felipe com sua malemolência característica no falar, mandou-me consultar as leis e foi então que percebi que nessa terra inóspita, paga-se 100 por 10, e no fim, leva-se 1 por 100.      
      Por: Pássaro bege.


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Preta

4.12.12 Joarez 0 Comentarios



Devo admitir: minha identificação com Preta não foi dessas cinematográficas, efusivas e instantâneas. Quando ela veio morar aqui em casa, por intermédio da minha irmã, passamos um longo tempo numa precaução recíproca. Ela de lá, eu de cá - apenas algumas observações e muitos silêncios. Mas aos poucos fomos nos tornando próximos - tão próximos que eu não sei se esse meu hábito de olhar de soslaio eu não aprendi com ela. E ela foi embora há duas semanas! Antes disso, a casa jorrava alegria. Você precisava ver a folia que ela armava quando eu chegava em casa tarde da noite. E também era mais ou menos por esse horário que começava nossa cumplicidade: comíamos juntos, descansávamos juntos, líamos juntos. Eu na rede ou na cama, ela no chão. A minha mão direita segurava um livro, a esquerda acariciava suavemente seu cocuruto, seu pelo liso, até que o sono a levasse. Se eu interrompesse o carinho antes do devido, ela enterrava o focinho embaixo da minha mão esquerda, e lambia-a até que eu voltasse a niná-la com um cafuné. Foi nesta toada que nós vivemos grandes aventuras: Graciliano, Guimarães Rosa, Shakespeare, Ítalo Calvino, Adélia Prado, Drummond. Lógico, com alguns altos e baixos: lembro-me de uma semana em que ela dormiu distante de mim porque eu lia Clarice Lispector. Até hoje me pergunto o porquê de uma lacuna tão profunda num gosto tão refinado; mas aprendi a lhe respeitar, afinal há de se deixar um espaço para que se movam as idiossincrasias. Agora, a mão direita segura Lygia Fagundes Telles; a esquerda, de tão ociosa, chega a se insinuar: busca no ar algo que a preencha. Mas vai passar um bom tempo assim, digo, mimando o nada: Preta foi embora há duas semanas, e não há previsão para que volte.

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Fui-me

3.12.12 Calil Madrazzo 1 Comentarios


Queria dizer antes de mais nada: Morri!

Isso mesmo que vocês acabaram de ler, morri! Escafedi-me! Fui para outro mundo, outro planeta, outra dimensão! Não estou mais por aqui. Em verdade não tenho outra coisa mais interessante para falar a não ser essa de que morri.

Mas como sucedeu isso? Não sei, talvez já estivesse morto há muito tempo e nem me havia percebido. Mas como percebi agora? Também não sei, pode-se até dizer que ainda esteja vivo e não tenha me apercebido ainda, contudo para mim, para este momento, eu morri, estou convicto.

De antemão vou logo lhes informando que escrevo porque meu corpo ainda vive, minha capacidade criativa ainda funciona, mas isso não é suficiente para chamarmos de vida. Não, isso não é nada. Meu corpo é carne vazia, de vida, e cheia de carne, não sou nada além de um corpo de carne, igual a todos os outros corpos: também de carne. Não sou de titânio, de aço, de vidro ou de espírito, sou de carne.

Pensando bem com meus botões, até porque ainda penso, começo a recordar de como que morri, e isso precisa ser contado: Há uns dois meses atrás estava eu em minha casa, almoçando macarrão e farofa com azeitona sem caroço, quando que de repente, não mais que de repente em uma mordida tão violenta quanto saborosa encontro um caroço. Mordi com tanto gosto que por pouco não quebrei meu dente ou mesmo desloquei meu maxilar.
- Desgraçados! Não tiraram todos os caroços! - rugi com televisão que estava ligada para meu gato (Pata-Branca, seu nome) assistir.


Daí cuspi o caroço e engoli o almoço com tudo, contudo, como eu estava tão atento ao caroço, à dor e ao dente, não prestei atenção à farofa que misturada estava ao ar dentro de minha boca, engoli o almoço com bastante ar e farofa e me engasguei. Tossi, tossi, tossi dez mil vezes até que tive um ataque epilético, em seguida um ataque apoplético, e posteriormente uma parada cardíaca, e daí sim, morri...



Meu gato continuou lambendo a pata, branca, com sua língua vermelha, até que eu acordasse, já morto. 


Bem, agora percebo que pouco importa como, quando ou onde morri, meu amigos, se pudesse reescrever esse texto, com toda certeza só escreveria a primeira frase. Mas o aviso está dado: Estou morto.

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Nelson em outdoors

1.12.12 Joarez 1 Comentarios


De mais a mais, veja bem, peso o todo. Voltando: eu gostei do "oba-oba" feito em homenagem a Nelson Rodrigues nesse ano de 2012, ano de seu centenário. Eu gostei, grande coisa, ora bolas, como se meu juízo de valor fosse lá grande coisa. O que Nelson, por exemplo, pensaria disso? Sim, Nelson, ele próprio, o que diria disso? Nelson, acredite, era um chato completo. Existem os chatos banais, que são aqueles que, por sua própria chatice fosca, passam despercebidos. Nelson era chato e sabia expressar sua chatice. Por isso cutucava todo mundo. Por isso desagradava a todos. Daí que, num momento como esse, onde ele é venerado, ovacionado, colocado por alguns até no mesmo patamar que o dramaturgo-mór do Ocidente, William Shakespeare, ele, com sua lentidão bovina, diria: "A unanimidade é burra." Vixe! Que cabra cabuloso. Como diria vovó: - um tapa sem mão. Mas aí é que reside a maravilha desse 2012. Eu acordava e tropeçava numa frase de Nelson Rodrigues: era uma atualização no facebook aqui, uma matéria de jornal impresso ali, uma ocupação alhures, uma homenagem de um cronista acolá. Pra quem, como eu, cresceu ser  ter um Nelson batendo à porta todos os dias num jornal, isso sim é grande coisa. Quando vejo mais uma denúncia de corrupção em Brasília, sou tomado de assalto por uma frase de Nelson: "Lá todos são inocentes e todos são cúmplices".Quando, por outra, vejo um piadista na esquina dizendo que, por ocasião da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas em 2016, a presidente Dilma vai "imprensar" 2015, lembro dele de novo:"O brasileiro é um feriado". Se na televisão se perdem discutindo, com direito a tira-teima digital, se foi ou não impedimento, é ainda a ele que recorro: "Qualquer clássico ou qualquer pelada tem uma aura." Será que eles não percebem? A vontade que tenho é de levantar e gritar para a televisão:" Ei, porra, futebol é mais do que insignificâncias que vocês estão discutindo" É ótimo esbarrar sempre com Nelson por que ele é profeta, e o é justamente porque enxerga o óbvio: aquilo que por ser latente, ninguém percebe, ninguém nota, ninguém dá a mínima. Sabes a quem, caro leitor, se credita essa constatação? Danou-se, Nelson de novo. Desculpe, amigo, como eu sou previsível! Juro que não faço isso deliberadamente. Não sou eu que sou obcecado por Nelson, antes o inverso: é ele que me persegue. Não posso fugir. E sendo assim, fiquemos por aqui, leitor, por que eu já tomei demais seu tempo, e a vida não permite espaço para redundâncias. Até mais.

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Os tempos são outros, os hábitos...

29.11.12 Joarez 0 Comentarios



                                                      “O homem moderno pode cansar-se da vida, mas jamais saciar-se dela” (WEBER, Max)

     Dia desses, em casa alheia, acordo aos solavancos e gritos dos amigos, que despertos desde cedo, se incomodavam com o meu sono profundo. Levanto e pego um cigarro. Para não dizer que não fiz o que de costume se faz quando se acorda de um sono pesado, fui ao banheiro e lavei a boca com pasta embranquecedora de dentes, utilizando os dedos para fazer às vezes de escova dental. Mesmo sabendo que esse ato higienicamente é quase inútil, eu o fiz, porque pensei antes em expiar da consciência a culpa do que qualquer outra coisa.
    Andei pela casa estranha com a mesma cara feia de quem não se sente completamente à vontade em território estrangeiro. Depois do almoço, uma lasanha como sempre tem sido, recebi a ligação de alguns amigos, que ora me cutucavam com piadas sobre o Santa Cruz, ora falavam de banalidades, como o trânsito horrível da cidade. À tarde fui à praia, conversar e beber cerveja para curar ressaca, e foi um momento bom e igual a todos os outros: as situações mudam muito pouco, ao passo que a significação que damos a elas muda enormemente, dependendo do estado de espírito em que se está e da quantidade de contas que se tem a pagar.
    Os dias seguintes correram não sem certa euforia, mas dentro das expectativas, assim como se desenrolaram os dias anteriores e como, decerto, vão se desdobrar os subsequentes. Daqui da janela, enquanto fumo, vejo o metrô que vai e volta sempre nos mesmos horários. Pouco depois das 23h passará o último do dia de hoje. Daí até às 5h um período de calmaria intensa transcorrerá, mas eu não estarei acordado para vê-la.

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Louca varrida

25.11.12 Pássaro Bege 0 Comentarios



Os que me interessam são os metafóricos, os donos da razão elaborada, dos outros, interesso-me muito pouco, cada vez menos até.

Importo-me mesmo com os narcóticos, esses sim; não dá pra ficar sem.

Que canseira da muléstia, histriônico cansaço, cansaço de quase uma musa do brasileirão.

Tô gostosa pacas, bicha!

Vê se me erra, tá!? Louca varrida.

Sai pra lá solidão.    
Por : Pássaro bege

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Crônicas de um Baixo Ventre

22.11.12 Pássaro Bege 1 Comentarios




Segunda-feira.

Cheguei à janela e acendi a tocha. Senti logo os apertos dos olhos dos vizinhos, pelas janelas do Baixo Ventre.

Tentei despistar os gases que chegavam a fazer estranhos barulho, barulhos para fora do corpo, audíveis a quem de longe dois metros estivesse; fiquei todo errado mas não acendi o careta ali, guardei a vontade para o segundo round.

É assim que os homens de bem defecam, fumando um cigarro.

E é assim que começa o ciclo das crônicas do Baixo Ventre.

Terça-feira

Alguém já viu a cara da Luzia? Não!? É assustadora.

Quando beija o sapo, cheia de ritmo, chego a vomitar de alegria... Eca!

Que coisa linda, que coisa oca, a pedra é dura e a madeira é fofa.

É como diz o poeta da voz firme e da mão atoa: “No Brasil em altos 2012, qualquer droga é da boa”.  

Quarta-feira

Baixo Ventre é cidade louca. Nem mais, nem menos violentas que as outras.

Sente-se nela cheiro de sangue a cada gota de orgulho, inveja, desejo e cerimônia.

Ninguém presta atenção nas ruas que a circundam.


Quinta-feira.

Eu tenho amigos poetas, mas muitos deles não fazem ofício de sua arte, digamos assim, não gostam de escrever na folha.

Gostam mesmo é de viver em poesia de arrumar as coisas; gostam da palavra viva.

Outros são poetas do escuro, pegam cinzas pelo chão e rabiscam traços tortos em paredes imaginárias.

A poesia dia desses, zum, zum,zum... zum, zum, zum, ela ainda mata um.

Sexta-feira

A semana na cidade de Baixo Ventre só é feita de dia útil, ou seja, hoje é sexta-feira.

Agora eu vou dizer como se diz na televisão: “Faça da jaca sua pantufa”

(...)

Fecho a série das crônicas do Baixo Ventre assim, cagando e andando, gerando no gerúndio.          

 Por: Coruja Felixberto Carvalho

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Elegia para Novo Acordo Ortográfico

14.11.12 Joarez 3 Comentarios




palmas para
  a plateia

fluida como geleia
  porque ela agora
está de pé
  e sem acento
como a nossa
  ideia

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Hitchcockeando o sensorial

11.11.12 Joarez 1 Comentarios


Imerso numa cultura que prima, antes de tudo, pela decodificação de signos, foi com regozijante surpresa que ontem eu assisti a "Psicose" (1960), de Alfred Hitchcock, no Cinema São Luiz. O filme conta com elementos que foram tão copiados e satirizados que, mais tarde, virariam clichê: um hotel abandonado à beira da estrade, a arma branca, a casa sombria no alto da colina. Mas Hitchcock é bem mais, ele joga com um pequeno mistério para apreender a atenção do espectador; faz um ótimo trabalho com seus atores e ainda nos brinda com um estudo de personagem em sua obra.

Enquanto todos que estavam na sala de cinema, ou quase todos, já o haviam visto, eu o contemplava pela primeira vez. E o irônico é que eles, por já saberem de cor e salteado as nuances do roteiro, se antecipavam à ação da tela, desprendiam grande esforço para dramatizar, do lado de cá, o que ainda viria a se desenrolar no filme. Com esta atitude, colocavam a imagem antes do visual. Isto é, preferiam um experiência racional, e não sensorial. Enquanto alguns riam, em passagens que até mesmo cabe duvidar se as risadas seriam bem encaixadas, eu estava imóvel, assustado, maravilhado. Saí da sala de cinema e ainda demorei o tempo de uns dois cigarros para verbalizar alguma impressão sobre o filme, enquanto a euforia previamente calculada estourava na Rua da Aurora.

Foi uma ótima noite e voltei para casa, naquele velho bacurau, refletindo: a semiótica é boa e, sem dúvida alguma, indispensável. Mas a experiência artística tem que ser primordialmente sensorial - isso se quisermos mergulhar no que ela tem de mais profundo.

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Te mostro quando souber ler

31.10.12 Joarez 1 Comentarios


                                   Série iniciada, outrora, por Renan Cabral, e que agora é quase infindável - a vida não cansa de vir ao mundo.



Eis que, antes do devido, mas já previamente sabido, nasceu o menino. Floresceu a vida, desabrochou a rosa da existência (vixe, que brega!). O garoto, com uma pressa indescritível, nasceu com apenas oito meses de gestação. Interrompeu antes do comum o período crepuscular que é a gravidez. Mas, como diria Raul, a arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal. Sendo assim, o varão já nasce com um pé fora da caretice, amém.

E ele correu, correu rapidamente, da barriga para o berço, que não é de ouro, mas é aconchegante. E quem diz isso não sou, é ele - a seu modo, claro. O menino passa o dia todo dormindo. A avó acha uma maravilha: diz que é uma bênção de Deus toda essa tranquilidade. Mas o fato é que o moleque chega às raias do absurdo: se não for acordado, não come. Nem a fome, que tem uma saúde de ferro, como diria Jorge Du Peixe, consegue abalar aquele sono colossal. Dia desses, tomando banho, sendo ensaboado pela mãe, aquela coisa freudiana e sensual, desabou candidamente nos braços de Morfeu. Todos que assistiam, abobalhados, assim que perceberam, caíram na gargalhada. Que capacidade, que virtude!... E que inveja!

Mas o fato é que um nascimento toca a sensibilidade humana. Sim, eis o que eu queria dizer, agora alcancei: um nascimento é um abraço apertado na sensibilidade do homem. O nascimento e a morte, a seu modo, mexem muito com a gente. E no meio daquele alvoroço que é um recém-nascido numa família gigante, vai comprar o leite do menino!, pega a fralda do menino na segunda gaveta!, sopra a moleira do menino, vai, sopra a moleira!, qualquer gesto dele torna-se um acontecimento, mesmo sabendo que é irrefletido.

Sob os carinhos da mãe, e no colo dela, em algum momento, ele esboçou um sorriso. Pronto, estava armado o tumulto. Tal e qual uma São Silvestre, correram cem, correram mil, para ver o menino estampar algum regozijo na cara. Mexeram pra cá, mexeram pra cá, cuti-cuti, coisa linda, tiraram foto, e, se nem saberem se ele permitia, jogaram na internet. Foi compartilhamento pra cá, retuíte pra lá, e a foto dele perambulando World Wide Web afora.

A vida do garoto está mansa, mas também está espetacularizada. De qualquer forma, isso é pano pra outras mangas. Fiquemos, por ora, apenas com o sorriso.

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Dias cristalinos, Parte 1/3: A velha.

28.10.12 Pássaro Bege 1 Comentarios


 

Pianinho, quebrei em uma biboca deserta e cheguei às 3h da manhã na pensão da irmã Zuleica, uma jovem senhora com o olhar de capital, cabelo grisalho desbotado, que empregava, pelo que vi no tempo em que passei por lá, cerca de cinco pessoas em seu negócio, alguns deles simpáticos, outros nem tanto.

A velha recebia tudo o quanto era tipo de gente naquele lugar; olhava bem fundo nos olhos do sujeito ou da sujeita e logo determinava o preço da estadia, no meu caso, mais intrauterinamente, passeou os seus olhos de meus pés aos dreads de minha cuca e sentenciou: - Quarto duplo fica por R$ 80,00 com ar condicionado, o duplo com ventilador podemos fechar por R$50,00. Eu nem pensei duas vezes, e sem miséria falei: - O com ar condicionado, por favor, porque quem gosta de calor é o demo e em áridas terras, em tempos de "br-o-bro", chapéu de otário é pedir empréstimo no banco e abrir uma revenda de aquecedor! Ela sorriu e me disse: - Quarto número 01, seu moço, eis aqui suas chaves!

Dormi feito uma pedra no primeiro dia dos três que fiquei por lá, acordei com batidas de porta simpáticas de um funcionário da pensão avisando que já era a hora do almoço; só assim fui descobrir o bônus da hospedagem, além do café da manhã, o almoço e o jantar eram por conta da casa.

No quarto número 01, eu sonhei por três dias.

(Continua)


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