Panela de pressão

19.12.12 Cabotino 2 Comentarios



e é de noite que tudo faz sentido no
silêncio não ouço os meus gritos

porra já passa das três da manhã e até agora nada do sono é foda quando começamos a ouvir o piar dos passarinhos e os primeiros sons dos galos como é mesmo aquele verso do poeta um galo só não terce uma manhã mas é galo que terce ou aranha deixa pra lá foda foda foda agente faz um esforço da porra pra tentar construir um mínimo de coerência neste mundo e somos enrabados pela insônia puta que pariu uma amiga já me aconselhou a usar vaselina sob os bolsões dos olhos para esconder as olheiras mas de que adianta este ardil carai olha a barra do dia apontando como é mesmo aquela música eu vejo a barra do dia e estes lençóis úmidos de suor e eu fritando aqui na cama a olhar os desenhos do telhado a televisão é um arco íris vertical

xixixixixixixxixiixiixixixixixixixixiiixxiixixix
xixixiixixixixiixixixiixixixixiixixixixiixixixixi

Aê porra! Conseguir dormir um pouco, já estou ouvindo o som da panela de pressão com o feijão ou a carne no fogo. O sol está alto, deve ser umas nove ou dez horas. Calor, muito calor. Será que o personagem de Camus, Meursault, sofria também de insônia? Talvez. Olho-me no espelho, está lá os dois bolsões, estou parecendo um panda e assim como este estou também em extinção. Vou tomar um banho para arriar esta mazela, canícula ou modorra? Enfim, como é mesmo a frase daquele sofista de nome proparoxítono, esdrúxulo, ah sim, lembrei – Protágoras – O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são. Antropocentrismo! Condições normais de temperatura e pressão. Vou tomar o meu banho!

xiixixixixixiixixixixixixixiixiixixixiixixixixiix
xixixixiixiixixixixixixixiixixixixiixixiixixixixx

Por: Cabotino

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