Fui-me

3.12.12 Calil Madrazzo 1 Comentarios


Queria dizer antes de mais nada: Morri!

Isso mesmo que vocês acabaram de ler, morri! Escafedi-me! Fui para outro mundo, outro planeta, outra dimensão! Não estou mais por aqui. Em verdade não tenho outra coisa mais interessante para falar a não ser essa de que morri.

Mas como sucedeu isso? Não sei, talvez já estivesse morto há muito tempo e nem me havia percebido. Mas como percebi agora? Também não sei, pode-se até dizer que ainda esteja vivo e não tenha me apercebido ainda, contudo para mim, para este momento, eu morri, estou convicto.

De antemão vou logo lhes informando que escrevo porque meu corpo ainda vive, minha capacidade criativa ainda funciona, mas isso não é suficiente para chamarmos de vida. Não, isso não é nada. Meu corpo é carne vazia, de vida, e cheia de carne, não sou nada além de um corpo de carne, igual a todos os outros corpos: também de carne. Não sou de titânio, de aço, de vidro ou de espírito, sou de carne.

Pensando bem com meus botões, até porque ainda penso, começo a recordar de como que morri, e isso precisa ser contado: Há uns dois meses atrás estava eu em minha casa, almoçando macarrão e farofa com azeitona sem caroço, quando que de repente, não mais que de repente em uma mordida tão violenta quanto saborosa encontro um caroço. Mordi com tanto gosto que por pouco não quebrei meu dente ou mesmo desloquei meu maxilar.
- Desgraçados! Não tiraram todos os caroços! - rugi com televisão que estava ligada para meu gato (Pata-Branca, seu nome) assistir.


Daí cuspi o caroço e engoli o almoço com tudo, contudo, como eu estava tão atento ao caroço, à dor e ao dente, não prestei atenção à farofa que misturada estava ao ar dentro de minha boca, engoli o almoço com bastante ar e farofa e me engasguei. Tossi, tossi, tossi dez mil vezes até que tive um ataque epilético, em seguida um ataque apoplético, e posteriormente uma parada cardíaca, e daí sim, morri...



Meu gato continuou lambendo a pata, branca, com sua língua vermelha, até que eu acordasse, já morto. 


Bem, agora percebo que pouco importa como, quando ou onde morri, meu amigos, se pudesse reescrever esse texto, com toda certeza só escreveria a primeira frase. Mas o aviso está dado: Estou morto.

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