O Desespero que Sangra Todo o Mês

27.12.12 Mademoiselle Fifi 0 Comentarios





Nós mulheres temos uma forma peculiar de desespero que difere das dos homens, sofremos ele de uma maneira descabelada, barulhenta e circular, eu acho. Ele é regado a conversas intermináveis ao celular e a comida, reparam? Nossas bocas não param. Já os filhos de Adão são mais silenciosos, o desespero de gene XY se realiza em porres de álcool em uma atmosfera de quaresma, que lembra a de uma barbearia com jogos de dama, mais triste do que uma dose de uísque em uma varanda qualquer, assim creio. Já o nosso desespero de par XX é um carnaval de rua, é frevo vassourinhas, mais ruidosos do que boca de manicure.

O movimento circular de nosso desespero pode ser visto em um reles lavar de prato, ou de roupa, não que essas atividades sejam mais exclusividades nossas, uma pena, gostaria que ainda a fossem, haja vista o feminismo ter nos presenteado com as jornadas duplas e triplas, e além do mais não vejo demérito nenhum em ser dona de casa, eu acho. Enfim, porque temos que ouvir música quando lavamos a porra de um prato, ou quando torcemos de forma contrária as roupas recém lavadas, cantando a plenos pulmões músicas que mais lembram uma ladainha de uma carpideira chorando por um alguém qualquer, assim eu vejo. 

Somos o par de costelas a mais que carrega o choro expulso após nove meses, somos a pedra que rola diariamente para os Sísifos subir com ela logo após, movimento peristáltico em busca do transe, somos a novela das sete, a cama bagunçada, as pernas que tremem, a boca aberta e os olhos revirados, eu acho.  

O movimento de nosso desespero é romântico, é a Cavalgada das Valquírias de Wagner, subindo aos céus em busca de um Odin qualquer, o desespero masculino é música barroca, é Bach tocado em câmara para meia dúzia de expectadores, já nós queremos os holofotes que cegam mais que iluminam, queremos a plateia, a multidão, a massa, a burguesia, assim penso. Nosso desespero é estrógeno, é Vivian Langue em e o vento levou... É Audrey Hepburn batendo pernas na Tiffany. Já os testosteronas são Alfred Bogart sorumbático ouvido as time goes by, é Bill Murray com suas broking flowers, eu acho. Desespero hipostático, Emma Bovary alucinando, Lady Macbeth ao pé do ouvido, é Eva persuasiva sentindo dor no trabalho de parto, conversas na pia e na cozinha, é jogo de queimado, é Suzy querendo ser Barbie, é sangue todo mês e ele não morre, se revigora em cada movimento uterino, assim penso.

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