Breves momentos

24.12.12 Joarez 1 Comentarios


Os amendoins, pequeninos, pesam pouco. Se o considerarmos apenas em grãos, já fora da crosta enrugada que os protege, pesam menos ainda. Mas dentro da casca envoltória, e esta, por sua vez, em muitas, dentro de um saco, e este, também por seu turno, em grandes quantidades, amarrados estrategicamente nas extremidades de uma haste, de modo a que o peso seja precisamente dividido, pesam bastante. Pesam mais do que a olho nu possamos imaginar e mais do que racionalidade precisa de uma balança possa acusar: - pesam uma vida. Pesar uma vida é o rápido instante que uma pedra leva até descer ao fundo do rio, é o choro de um bebê, é uma lágrima que despenca da cara, é um orgasmo silencioso, é um grito sufocado, é um baixar de olhos envergonhados, é a contração burlesca da face na hora do trago da cachaça, é tudo aquilo que, sem atenção e acuidade, se perdem anônimos no tempo passado. O olhar grave, profundo e desfocado, de alguém que carrega nos ombros o peso da própria existência, também é um desses breves momentos. Mas graças a raros talento e habilidade, eternizado.


Créditos da imagem: Marília de Orange ©

Um comentário:

  1. Parece mesmo que não reparamos na convivência harmoniosa entre o peso, a vida e os amendoins: A elegância, o peso e a leveza do vendedor de amendoins, a beleza da foto, e a sensibilidade do texto, dispensam legendas.

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