Nota pitoresca
Quando
tinha por volta dos 12/13 anos, lá na segunda metade dos anos
90 do século passado, um escândalo sexual causou um frisson na opinião pública de canto a canto do planeta, talvez pelo fato de ter sido protagonizado pelo
homem mais poderoso do mundo, o presidente dos EUA, Bill Clinton e
sua secretária na época, Monica Lewinsky. O buruçú midiático
envolvendo Clinton e Lewinsky consistia em: na acusação da prática de
sexo oral que a secretária “pagou” no seu chefe. Vejam bem,
quando o assunto é sexo e política, o rebu se alastra como rastilho
de pólvora.
Nesta
época o meu dia a dia consistia em: ir à escola pela manhã; jogar
bola nos fins de tarde; jogar um playtime – de preferência Cadilac
dos Dinossauros – no início da noite quando ia comprar pão lá
pra casa; e bater punheta, descabelar o palhaço, usar Baygon no
banheiro, matá-la na mão, se acabar na munheca como colher de
pedreiro e outras alcunhas que atribuíamos a arte inaugurada pelo
mestre Onã, segundo a Bíblia Sagrada, daí a expressão onanismo.
Mas eu já sabia o que era um boquete, inclusive já havia recebido
um, e não entendia o porque daquele burburinho todo. Meu Deus!
Ficava imaginando... Se ele tivesse comido a Secretária acredito que
teria até a sua primeira comunhão revogada pelo Papa! Pensava...
com meu inglês de meteco à época: logo no país do fish,
ball, cat um
azáfama daqueles por conta de um “gagau”?
Eu
não fazia muita ideia do que era o Salão Oval, as políticas do
Pentágono e a posição central do presidente dos EUA no maior país
protestante do mundo, a história dos EUA e sua inclinação
moralizadora de ethos
calvinista
etc, etc. A única leitura que me valia na época eram as revistinhas de
sacanagem de Miguelito e suas taras homéricas por vizinhas, primas
etc. Por falar nisso, sinto muita falta das revistinhas do Miguelito,
quem as tiver por aí (de preferência não grudadas) podem entrar em
contato comigo que eu tenho interesse em comprá-las ou
fotocopiá-las. Eu era de
uma ignorância enciclopédica em relação a tudo – exceto
futebol, vídeo-games e sacanagem – e meus conhecimentos em geopolítica
eram equivalentes à quantidade de dinheiro no meu bolso, nenhum.
Ainda não havia entrado na roda viva da Literatura e nos arcanos das
ciências humanas, ainda não era uma cobra tentando morder a própria
cauda.
Hoje,
quase duas décadas após o escândalo-sexual-político (pleonasmo?)
entre Clinton e Lewinsky, além de nesse ínterim ter fodido minhas
retinas debruçadas em milhares de páginas sobre tanta coisa que valha-me Santo Expedito! E
atarraxado a próstata por conta disso, eu me lembrei que na ocasião
do polêmico “boquete”, houve a denúncia por parte dos
jornalistas – arautos do caos – de um charuto cubano
(provavelmente um Cohiba)
que estava sendo utilizado pelos dois protagonistas de uma maneira,
digamos assim, pouco ortodoxa. Daí hoje eu juntei as peças e fiz a
pergunta derradeira, após quase meio século de relações
diplomáticas azedadas entre os cubanos e os norte-americanos: o que
porra um charuto cubano fazia na Casa Branca em pleno embargo
econômico imposto por Washington à Ilha?
Hoje como há duas décadas
eu penso que o “bola gato” era perfumaria (sem ironizar com a
esporrada de Clinton no vestido de Lewinsky), lá atrás eu apenas
desconfiava, mas hoje tenho certeza que o escândalo fora uma cortina
de fumaça (desculpem-me a redundância) para encobrir o charuto ou
charutos que “furaram” o bloqueio do embargo (calvinista?
Vou
parar que já está demais, rs).
Antes,
vale
aqui algumas palavras sobre o futuro de Clinton na Casa Branca e,
como a história provou, o “Severino” (Bill) lá de Little Rock
fora reeleito em 1996 em meio ao rolo sexual (o presidente Clinton é casado com a hoje Secretária de Estado do governo Obama II, Hillary Clinton, e antes de ser reeleito pediu desculpas em cadeia nacional alegando que sexo oral não era sexo etc), o que prova que os
estadunidenses, assim como todo o povo do mundo, vota com os bolsos.
Se o norte-americano médio, unidimensional para usar uma expressão
démodé
criada por Herbert Marcuse nos jurássicos anos 1960, estava
conseguindo pagar sua hipoteca, trocar o seu segundo carro no final
do ano etc, então: mudar o status
quo por causa de uma chupadinha? Nem fudendo. Quem dirá por uns charutos
contrabandeados de Cuba?
Ah, a História e suas notas pitorescas...
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