Nota pitoresca

19.5.15 Cabotino 0 Comentarios



Quando tinha por volta dos 12/13 anos, lá na segunda metade dos anos 90 do século passado, um escândalo sexual causou um frisson na opinião pública de canto a canto do planeta, talvez pelo fato de ter sido protagonizado pelo homem mais poderoso do mundo, o presidente dos EUA, Bill Clinton e sua secretária na época, Monica Lewinsky. O buruçú midiático envolvendo Clinton e Lewinsky consistia em: na acusação da prática de sexo oral que a secretária “pagou” no seu chefe. Vejam bem, quando o assunto é sexo e política, o rebu se alastra como rastilho de pólvora.

Nesta época o meu dia a dia consistia em: ir à escola pela manhã; jogar bola nos fins de tarde; jogar um playtime – de preferência Cadilac dos Dinossauros – no início da noite quando ia comprar pão lá pra casa; e bater punheta, descabelar o palhaço, usar Baygon no banheiro, matá-la na mão, se acabar na munheca como colher de pedreiro e outras alcunhas que atribuíamos a arte inaugurada pelo mestre Onã, segundo a Bíblia Sagrada, daí a expressão onanismo. Mas eu já sabia o que era um boquete, inclusive já havia recebido um, e não entendia o porque daquele burburinho todo. Meu Deus! Ficava imaginando... Se ele tivesse comido a Secretária acredito que teria até a sua primeira comunhão revogada pelo Papa! Pensava... com meu inglês de meteco à época: logo no país do fish, ball, cat um azáfama daqueles por conta de um “gagau”?

Eu não fazia muita ideia do que era o Salão Oval, as políticas do Pentágono e a posição central do presidente dos EUA no maior país protestante do mundo, a história dos EUA e sua inclinação moralizadora de ethos calvinista etc, etc. A única leitura que me valia na época eram as revistinhas de sacanagem de Miguelito e suas taras homéricas por vizinhas, primas etc. Por falar nisso, sinto muita falta das revistinhas do Miguelito, quem as tiver por aí (de preferência não grudadas) podem entrar em contato comigo que eu tenho interesse em comprá-las ou fotocopiá-las. Eu era de uma ignorância enciclopédica em relação a tudo – exceto futebol, vídeo-games e sacanagem – e meus conhecimentos em geopolítica eram equivalentes à quantidade de dinheiro no meu bolso, nenhum. Ainda não havia entrado na roda viva da Literatura e nos arcanos das ciências humanas, ainda não era uma cobra tentando morder a própria cauda.

Hoje, quase duas décadas após o escândalo-sexual-político (pleonasmo?) entre Clinton e Lewinsky, além de nesse ínterim ter fodido minhas retinas debruçadas em milhares de páginas sobre tanta coisa que valha-me Santo Expedito! E atarraxado a próstata por conta disso, eu me lembrei que na ocasião do polêmico “boquete”, houve a denúncia por parte dos jornalistas – arautos do caos – de um charuto cubano (provavelmente um Cohiba) que estava sendo utilizado pelos dois protagonistas de uma maneira, digamos assim, pouco ortodoxa. Daí hoje eu juntei as peças e fiz a pergunta derradeira, após quase meio século de relações diplomáticas azedadas entre os cubanos e os norte-americanos: o que porra um charuto cubano fazia na Casa Branca em pleno embargo econômico imposto por Washington à Ilha? 

Hoje como há duas décadas eu penso que o “bola gato” era perfumaria (sem ironizar com a esporrada de Clinton no vestido de Lewinsky), lá atrás eu apenas desconfiava, mas hoje tenho certeza que o escândalo fora uma cortina de fumaça (desculpem-me a redundância) para encobrir o charuto ou charutos que “furaram” o bloqueio do embargo (calvinista? Vou parar que já está demais, rs).

Antes, vale aqui algumas palavras sobre o futuro de Clinton na Casa Branca e, como a história provou, o “Severino” (Bill) lá de Little Rock fora reeleito em 1996 em meio ao rolo sexual (o presidente Clinton é casado com a hoje Secretária de Estado do governo Obama II, Hillary Clinton, e antes de ser reeleito pediu desculpas em cadeia nacional alegando que sexo oral não era sexo etc), o que prova que os estadunidenses, assim como todo o povo do mundo, vota com os bolsos. Se o norte-americano médio, unidimensional para usar uma expressão démodé criada por Herbert Marcuse nos jurássicos anos 1960, estava conseguindo pagar sua hipoteca, trocar o seu segundo carro no final do ano etc, então: mudar o status quo por causa de uma chupadinha? Nem fudendo. Quem dirá por uns charutos contrabandeados de Cuba? 

Ah, a História e suas notas pitorescas...

0 comentários: