Não sou herói
“O preço
da água mineral está pela hora da morte e faz 32ºC em Recife!”
Jovem moça, porque quem me tomas? Eu não sou herói.
Desculpe-me despir tão cedo a tua fantasia, herói latino americano só o
Chapolin Colorado. Desculpe-me, eu não quero morrer numa cruz. Nem praça com
meu nome eu quero, nem obeliscos, obeliscos nunca! Pensar na possibilidade de
viver mesmo após a minha morte me puxa o tapete, fico sem chão, dá pra
entender? Você é safa o suficiente pra compreender o que eu digo. Não é nada da
ordem do “não posso”, é da ordem do “não quero”. Ficou mais claro agora? Lembra
quando você era criança e sua mãe lhe ofereceu fígado de boi pela segunda vez e
você disse “não quero” !? Pronto, é por aí. Você provou do fígado, não gostou e
cuspiu, daí em diante não o quis mais. Esse meu “não desejo” não é inerente ou
geneticamente programado. Não quero porque o conheci - provei do gosto. Dos que
morrem na cruz aos que ganham medalhas, nenhum desses tiveram em minha boca o
gosto que esse sorvete de manga, que agora chupo tem. Jovem moça, é na
comparação entre o sorvete e o fígado de boi que está toda a chave para
compreender o porquê do meu não querer.
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