Domingo: Cachimbo x Peão do Baú

3.5.15 Unknown 0 Comentarios


  "Hoje é domingo, pede cachimbo"... Quem nunca cantarolou esses versos quando criança, versos do imaginário coletivo das saudosas "cantigas de roda". Acredito que como eu, muitos cantarolavam errado "Hoje é domingo, pé de cachimbo", sendo uma árvore - a "cachimbeira" talvez - donde brotassem cachimbos, por licença poética, ou porque talvez cachimbo fosse uma fruta exótica, ainda desconhecida por nós. O fato é que esse talvez tenha sido o primeiro "ouvirundum" da vida da gente. Sim, ouvirundum. Nome esquisito, mas que se refere exatamente ao contexto aqui. Não me perguntem porque chamam assim. Já ouvi por aí, em conversas de calçada, que o termo surgiu da cacofonia "ouvirundum Ipiranga as margens plácidas"... Enfim.
  Domingo já foi letra de música dos Titãs, hoje um tanto datada no trecho "tudo está fechado" - o mercado deu o tom de "dia de branco" enterrando de vez a simbologia de dia de descanso (e não, não me venha com patrulha do politicamente correto aqui sem saber do significado da expressão "dia de branco" (http://zip.net/bsrbt5), faça-me o favor!).
   O domingo também é associado ao senhor Senor Abravanel, mais conhecido como Sílvio Santos, o homem do carnê do Baú. No imaginário coletivo é recorrente que a palavra domingo venha associada à lembrança de interjeições onomatopeicas como "Má, Ôieee!", "Ha-Hay... Hi-hi!" ou "Má vem pra cá! Vem pra cá!" e por aí vai.
Domingo também é o primeiro dia da semana (segundo o calendário gregoriano), apesar de fazermos essa associação às segundas pelo caráter de "dia de branco" que elas carregam. É o dia mais "deprê" para alguns, carrega o simbolismo do recomeço e a ânsia pela chegada da próxima sexta-feira. Arrisco dizer aqui que quase ninguém gosta do coitado do domingo, mas a culpa é da segunda e que seria da terça, se o domingo fosse sábado e a segunda, domingo. Deu um nó na cabeça? Pode ser, mas deu pra entender o que quis dizer.
   A areia da ampulheta da semana foi se concentrando no fundo perto de seu fim: o derradeiro sábado. Mas, o sentimento de fim, para nós, só chega com o domingo, formalidades do calendário que data o sábado como fim da semana à parte.
  E aquela musiquinha tensa do Peão do Baú? (Eu ia jogar uma onomatopeia aqui tentando reproduzi-la, mas limito-me ao comentário, apenas). Putz! Eu acho chata pra caralho! E aquele sorriso de Sílvio Santos que como disse Raul é "branco e puro para um filme de terror", na letra de "Super-heróis"... Vôte!
Tem também o famigerado Faustão, pra citar apenas esses dois, pois, os genéricos também estão ali, disputando pau a pau a audiência da massa bestificada que passa os domingos prostrada nos sofás de suas casas.


"Bolo domingueiro", como convencionou-se chamar.
Esse cenário domingueiro construído no imaginário pelas tvs é talvez uma das principais razões para a sensação de vazio que o dia carrega, principalmente com um "Fantástico - O Show da Vida" pra fechar com chave de ouro. Um programa muito, mas muito ruim, que ora se pretende jornalístico, ora é entretenimento, mas que nem dá conta de um, tão pouco do outro. Não que não haja na tv, programas com essa proposta que conseguiram entornar o caldo. Sim, há, talvez não na tv aberta, mas sei que há (ou estaria eu só torcendo por isso?). O fato é que o programa é horrível, so-frí-vel e há tempos caducou. Minha gente, a culpa não é do domingo em si.


Parque 13 de maio num domingo qualquer.
   
Domingo é dia de respirar ar puro fora de casa, longe das quatro paredes e dos ácaros, inquilinos dos nossos lares. Domingo, pede sim cachimbo, no sentido de ser um dia para desacelerar, que seja! Relaxe numa espreguiçadeira, na calçada, pelo menos, ou numa rede na varanda. Bota a mesa no quintal, nem que seja por meia-hora, pra "almoçar fora" como diz a canção. 

Domingo não é televisão, apenas! Que tal um bolo domingueiro com suco de cajú? Vou ali bater o meu e colocar no forno, enquanto o domingo ainda é domingo e depois vou ali fora ver a rua.

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