O ABRAÇO DAS CAVALGADAS

15.7.16 Unknown 0 Comentarios


Uma parede longa e limpa, branca, mas no entanto porosa, como se tivesse sido pintada à cal. A imagem da parede, à distância ou próxima, com sua brancura homogênea, agradava aos olhos. Ao subir numa cadeira, alcançava-se uma janela igualmente branca que, quando aberta, dava vez a uma sala quase vazia, com poucos móveis, e que abria o campo de visão para uma vasta e extensa calçada tomada por mesas e cadeiras desocupadas. Cadeiras e mesas uniformemente separadas, de madeira negra polida, as mesas forradas com uma toalha grossa de um verde escuro. O chão estava sempre molhado, como se chovera há pouco, e o sol nunca era forte, estava sempre deitado e espraiava seus raios de maneira horizontal e lenta. A delicadeza da imagem só era interrompida às vezes por uma tropa de cavalos castanhos, rompiam entre as mesas, atravessavam a sala semi vazia, e sem emanar o barulho das cavalgadas, pareciam ir em direção à janela. Era uma cena linda e assustadora. Sob o medo de ser engolido pela manada, quase sempre fechava-se a janela. Mas os cavalos nunca a trespassavam e irrompiam para fora. Com a janela fechada, sentado na cadeira com a cabeça entre as pernas, aí sim ouviam-se as cavalgadas, cujo sonido, ao invés de trazer inquietação, acalmava. Elas lentamente encontravam ritmo e traziam conforto. À medida em que se distanciavam e se esvaíam deixavam uma impressão de ausência no ar, no ambiente, mas também dentro de si. Era inevitável tornar a abrir a janela. Não se podia ignorar aquele espetáculo. Dizia-se que depois de um tempo, após diversas tentativas, era possível enxergar na testa de algum dos cavalos o rosto de um homem negro. E que este seria o prenúncio do fortuito, do destino, da vida, da morte talvez. Mas o evento também poderia nunca acontecer e houve quem passasse uma vida à espera, na janela. Espera nunca tediosa, pois sempre compensa o inebriante abraço das cavalgadas.

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