Eros e Atma

6.7.16 Cabotino 0 Comentarios


Recentemente um casal de irmãos gêmeos, Eros e Atma, ex-alunos meus de Biologia, no ensino médio, resolveram enviar simultaneamente convites para que eu os adicionassem no Facebook. Adicionei-os sem mais delongas. Não sou daqueles professores chatos que não adicionam alunos por acharem, arrogantemente, que os alunos irão aporrinhar mais ainda a vida do mestre quando, na verdade, quem aporrinha os alunos são e sempre foram: os docentes, responsáveis históricos por deixarem os discentes cada vez mais dóceis.    

O tempo passou e com ele pude perceber que apenas Atma postava fotos, selfies, compartilhava notícias, vídeos de cães e gatos, memes etc. Isto é, era e é a exibicionista dentre os dois. Já Eros, bem mais reservado, nunca o vi postando absolutamente nada, ou seja, podemos chamá-lo de o voyeur da relação.

A partir das características destes dois irmãos em suas relações com o uso das redes sociais comecei a refletir sobre a dinâmica binária que envolve certos comportamentos tanto no espaço público quanto no privado, seja ele real ou virtual. Por exemplo: para cada exibicionista há um voyeur; para cada masoquista há um sadista etc.

Em resumo: tudo indica que reproduzimos, socialmente, certos comportamentos animais no que tange à interdependência das espécies/gênero, ou, para delirarmos mais ainda: há uma espécie de cálculo abstrato que a natureza faz conosco com o intuito de equilibrar a balança da economia libidinal entre nossos semelhantes. Mais ou menos na proporção que falei no parágrafo anterior: para cada um...

No início deste mês, tomei a liberdade de perguntar a Atma qual o significado do seu nome. Ela respondeu-me que o nome vem do hindu e significa alma. Ora, a associação foi inevitável: Eros e Psiquê. Seja quem for que tenha tido a ideia de batizar o casal de irmãos com esses nomes queria, isto sim, nos remeter à relação mitológica entre o Eros/Amor e seu casamento com a mais arrebatadora das belezas humanas: Psiquê/Alma.

Por fim, permitam-me delirar uma vez mais. E não é que a relação entre o casal de gêmeos com as redes sociais fez-me tecer algumas ponderações sobre o jogo relacional entre o amor e a alma.

Pois bem, assim é a alma: expansiva, exibicionista porque lhe é inerente à expansão, à fuga em direção ao desconhecido, ao perigoso e ao mistério. A alma busca revelar selos desconhecidos e, por conseguinte, muitas vezes, entra em sarilhos e põe o corpo em xeque pois seus fins não reconhece os meios. Já o amor observa, perscruta, é voyeur e silencioso. Não é à toa que precisa de uma seta para atravessar-lhe a apatia e a indiferença. A flecha é o momento em que o amor torna-se encarnado. É o momento em que a alma volta para o corpo. É o momento em que a curiosidade da alma aquieta-se num corpo duo-uno e senta praça na militância do amor. Este, uma labareda que se um dia extinguir, não era amor e por isso não tinha alma para alimentá-la.   

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