Eros e Atma
Recentemente
um casal de irmãos gêmeos, Eros e Atma, ex-alunos meus de Biologia, no ensino
médio, resolveram enviar simultaneamente convites para que eu os adicionassem
no Facebook. Adicionei-os sem mais delongas. Não sou daqueles professores
chatos que não adicionam alunos por acharem, arrogantemente, que os alunos irão
aporrinhar mais ainda a vida do mestre quando, na verdade, quem aporrinha os
alunos são e sempre foram: os docentes, responsáveis históricos por deixarem os
discentes cada vez mais dóceis.
O tempo
passou e com ele pude perceber que apenas Atma postava fotos, selfies, compartilhava notícias, vídeos
de cães e gatos, memes etc. Isto é, era e é a exibicionista dentre os dois. Já Eros, bem mais reservado, nunca o
vi postando absolutamente nada, ou seja, podemos chamá-lo de o voyeur da relação.
A
partir das características destes dois irmãos em suas relações com o uso das
redes sociais comecei a refletir sobre a dinâmica binária que envolve certos
comportamentos tanto no espaço público quanto no privado, seja ele real ou
virtual. Por exemplo: para cada exibicionista há um voyeur; para cada masoquista há um sadista etc.
Em
resumo: tudo indica que reproduzimos, socialmente, certos comportamentos
animais no que tange à interdependência das espécies/gênero, ou, para
delirarmos mais ainda: há uma espécie de cálculo abstrato que a natureza faz
conosco com o intuito de equilibrar a balança da economia libidinal entre nossos
semelhantes. Mais ou menos na proporção que falei no parágrafo anterior: para
cada um...
No
início deste mês, tomei a liberdade de perguntar a Atma qual o significado do
seu nome. Ela respondeu-me que o nome vem do hindu e significa alma. Ora, a associação foi inevitável:
Eros e Psiquê. Seja quem for que tenha tido a ideia de batizar o casal de
irmãos com esses nomes queria, isto sim, nos remeter à relação mitológica entre
o Eros/Amor e seu casamento com a mais arrebatadora das belezas humanas:
Psiquê/Alma.
Por
fim, permitam-me delirar uma vez mais. E não é que a relação entre o casal de
gêmeos com as redes sociais fez-me tecer algumas ponderações sobre o jogo
relacional entre o amor e a alma.
Pois
bem, assim é a alma: expansiva, exibicionista
porque lhe é inerente à expansão, à fuga em direção ao desconhecido, ao
perigoso e ao mistério. A alma busca revelar selos desconhecidos e, por
conseguinte, muitas vezes, entra em sarilhos e põe o corpo em xeque pois seus
fins não reconhece os meios. Já o
amor observa, perscruta, é voyeur e
silencioso. Não é à toa que precisa de uma seta para atravessar-lhe a apatia e
a indiferença. A flecha é o momento em que o amor torna-se encarnado. É o
momento em que a alma volta para o corpo. É o momento em que a curiosidade da
alma aquieta-se num corpo duo-uno e senta praça na militância do amor. Este,
uma labareda que se um dia extinguir, não era amor e por isso não tinha alma
para alimentá-la.
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