Um não fac-símile político-eleitoreiro

28.8.14 Unknown 0 Comentarios


Nem mais nem menos real que qualquer outro discurso de político que se pode ouvir por aí.

Qualquer semelhança estreita com algum personagem factual, é, no entanto, um triste acidente, do qual, desde já, nós não nos desculpamos.



— Olha, já falei com os meninos do rap, lá da comunidade. Esse ano tem jingle novo, veja que maravilha! Eles vão rimar "melhora" com "sem demora" no refrão, ficou uma belezura, só você vendo. Semana que vem o carro já começa a rodar tocando a música - só essa, claro, pra massa gravar bem o número da campanha. Fechei com esse pessoal de novo sabe o porquê? Poxa, é até uma questão de humanidade da minha parte! Campanha só tem a cada quatro anos, é uma oportunidade rara que eles tem de ganhar um dinheiro decente, sem ser aquela miséria do edital de cultura da prefeitura.

— Outra coisa, da próxima vez que marcar um debate avisa que esse assunto da troca de partidos não entra. Dá a desculpa de que eu quero discutir proposta, programa de governo. Só vou com essa condição, não vou ficar recebendo patada daquele pessoal babaca. Desde que eu troquei o PD (Partido Degenerado) pelo PN (Partido do Novo) que eles ficam dizendo que eu sou apaixonado pelo poder. Esses infelizes, energúmenos, só aplaudem quem se estropia, quem fica pelo caminho. Só se pode fazer alguma coisa lá, entende?!, lá! Aqui é perca de tempo, fidelidade ideológica e blá blá blá...

— Também já fechei o com sindicato, a questão do financiamento. Tudo certo, sim, tudo ok. Também, pudera,né? Depois de tudo que eu fiz por eles o mínimo que eu podia receber em troca era esse apoizinho, um banner, um santinho, essas coisas, camiseta... e voto, claro. Até porque, questão de dinheiro, tubarão grande é aquele pessoal da empreiteira. Ali, sim, a parceira é forte. Depois é só dar apoio a umas construções, ceder dois ou três terrenos ociosos, tem mistério não. A gente tem que jogar fácil.

— Agora o que não dá é aquele jornalistazinho de merda ficar o tempo todo batendo na tecla do jatinho. Tá demais! Se futebol é parte da cultura do povo, e eu sou parte do povo, nenhum absurdo em eu pegar um aviãozinho do estado pra ver um jogo. Primeiro que o que foi gasto foi uma merreca, e depois que não fui só eu, minhas filhas e uns amigos também foram beneficiados. Pode até faltar ética nesse raciocínio aí, é verdade, mas não falta lógica, portanto ele é perfeitamente plausível. Mas eu não esquento não, no final das contas o slogan vai pegar, e eu vou continuar firme na luta... na minha primeiro, né? Pelo resto a gente vê o que é faz, devagarinho, com calma.



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