Bernadette

22.8.14 Pássaro Bege 0 Comentarios


Porque só agora fui me lembrar de Bernadette...

Bernadette tinha um quê em seus olhos que me lembrava brasa. “Toda vermelha”, me vem logo a imagem dela bem fresquinha na cuca. Mas, cada vez que eu tento pensar o todo de Bernadette, algo se confunde em minha cognição. Bernadette pra mim é mais um fragmento que alguma coisa homogênea ou quadrada. A memória de Bernadette é minha, por força de minha busca. Bernadette me ressurgiu hoje como um vento que sopra numa quinta à noite. 

Era carmim, tenho certeza! Seus lábios tinham cor de carmim!


Não era sempre que ela ia lá em casa. Pelo menos, a presença dela que guardo em mim era sempre de sextas-feiras. Algo deixava no ar a impressão de que minha mãe gostava bastante de Bernadette, e que também gostava bastante dela meu pai. Seria uma suruba o que rolava quando Bernadette ia lá em casa? Será que o cheiro de que me lembro agora, era cheiro de sarro? Eita! E tinha toda aquela energia fogosa no ar também, eu lembro... Será que de fato Bernadete era sexo? O que é essa imagem que ressurge em mim como um arquétipo da beleza? 


Só soube recentemente que Bernadette estava na cidade. Hoje ela já passa dos 50 anos, aparenta menos. Fui na casa dela e perguntei quando ela me recebeu:

- Dona Bernadette, a senhora se lembra de mim?

- Dona! porque me tomas!? Só sou dona daquilo que quero. Quem é você e o que quer aqui?

- Posso chamá-la de Bernadette, então?

- Agora consegui ouvir tua voz, conheço você de algum lugar! Voz menina de criança doce que conheci ainda quando bem novinho, acertei, moço?!

- Acertou! Mas me diga quem é você?

- Eu vestia vermelho, lábios cor de carmim?

- Isso! Do mesmo jeito que está agora!

- Tenho vários nomes, moço! Entre eles, Bernadette. Você quer brindar comigo? 

0 comentários: