Bernadette
Porque só agora fui me lembrar de
Bernadette...
Bernadette tinha um quê em seus
olhos que me lembrava brasa. “Toda vermelha”, me vem logo a imagem dela bem fresquinha
na cuca. Mas, cada vez que eu tento pensar o todo de Bernadette, algo se
confunde em minha cognição. Bernadette pra mim é mais um fragmento que alguma
coisa homogênea ou quadrada. A memória de Bernadette é minha, por força de
minha busca. Bernadette me ressurgiu hoje como um vento que sopra numa quinta à
noite.
Era carmim, tenho certeza! Seus lábios tinham cor de carmim!
Era carmim, tenho certeza! Seus lábios tinham cor de carmim!
Não era sempre que ela ia lá em
casa. Pelo menos, a presença dela que guardo em mim era sempre de sextas-feiras.
Algo deixava no ar a impressão de que minha mãe gostava bastante de Bernadette, e que também gostava bastante dela meu pai. Seria uma suruba o que rolava
quando Bernadette ia lá em casa? Será que o cheiro de que me lembro agora, era cheiro
de sarro? Eita! E tinha toda aquela energia fogosa no ar também, eu lembro... Será que de fato
Bernadete era sexo? O que é essa imagem que ressurge em mim como um arquétipo da beleza?
Só soube recentemente
que Bernadette estava na cidade. Hoje ela já passa dos 50 anos, aparenta menos. Fui na casa dela e
perguntei quando ela me recebeu:
- Dona Bernadette, a senhora se
lembra de mim?
- Dona! porque me tomas!? Só sou
dona daquilo que quero. Quem é você e o que quer aqui?
- Posso chamá-la de Bernadette,
então?
- Agora consegui ouvir tua voz,
conheço você de algum lugar! Voz menina de criança doce que conheci ainda quando
bem novinho, acertei, moço?!
- Acertou! Mas me diga quem é
você?
- Eu vestia vermelho, lábios cor de carmim?
- Isso! Do mesmo jeito que está
agora!
- Tenho vários nomes, moço! Entre
eles, Bernadette. Você quer brindar comigo?
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