Desabafo

28.8.14 Calil Madrazzo 0 Comentarios


 Desde que perderam a minha crônica não tive mais vontade de escrever. Bem, não sei ao certo quando que isso me acometeu. Sei apenas que aconteceu e ainda está ocorrendo. Perdi. Todo o tesão de publicar neste querido blog se esvaiu. Tudo culpa de um meliante, de um indivíduo aí, ao qual depositei minhas melhores intenções. Minhas maiores esperanças.
 Estava aceso dentro de mim, antes do ocorrido, o furor de publicar muitas crônicas, que sucederiam, quase que automaticamente, as antigas, dando-as a vida curta merecida de uma crônica. Mas, infelizmente, nada disso tem ocorrido, minhas crônicas são as mesmas crônicas velhas de sempre, sem mudança, sem serem esquecidas. Hoje sonhei com minhas crônicas me perseguindo e rasgando partes da minha carne pouca. Estavam revoltadas porque não foram esquecidas por mim, por não terem se tornado mais uma crônica. E tudo isso - preciso dizer e não pouparei palavras - "Graças a você, meu grande amigo que perdeu aquilo que eu tinha de melhor".
Não é brincadeira alguma. Não é dramaturgia. Isso não é uma crônica. São meus sentimentos verdadeiros e íntimos. Naquela bendita crônica, escrevi num limiar indistinguível entre um texto jornalístico de pompa e uma discussão literária extremamente fina, traçando em paralelo a vida de um mendigo (João era seu nome). Nunca havia sentido-me tão bem com qualquer texto como me senti com aquele. Senti-me o próprio poeta do dia-a-dia. E João era minha melhor criação. Era e não é mais por estar perdido sabe Deus onde. Pobre de mim. Pobre de João que foi tratado como seu estigma, um verdadeiro mendigo.
 Como de praxe, narrei minha prosa-poética em primeira pessoa e depositei minha visão totalmente pessoal acerca do assunto decorrido (ao qual não irei decorrer mais por aqui, seria dor demais para mim). João, o mendigo da minha crônica, transmitia minha visão de mundo, meu conhecimento literário e minha alma. Perder João foi o mesmo que perder a mim, perder minha capacidade de dialogar cronicamente com os leitores. Por vezes até acho que não sei mais compreender os acontecimentos que me cercam. Foi um trauma enorme e a vida tem passado por mim despercebida. 

 Já são oito meses indo ao psicólogo e esta é a primeira vez que consigo discorrer sobre o assunto. 

Talvez seja a última.

Madrazzo

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