Histórias velhas para um ano novinho em folha
Antes mesmo de começar o
falatório, caberia uma pergunta: - porque começar 2014 com uma história que me
ocorreu num tempo pré-diluviano?
A primeira resposta seria a da
falta de assunto ou de criatividade do cronista, que se encontra ressacado
ainda das festas de fim de ano. Plausível. Outra, no entanto, sugere que botar
os pés no novo ano com uma historieta desse naipe é um vaticínio, um alerta.
Juntemos o útil e o agradável e fiquemos com as duas.
Há uns catorze anos (ou mais)
atrás, no dia do aniversário da minha mãe, calhou de eu estar junto dela no
momento em que ela atinou que, por mais que o dia fosse de festa, o pão e ovo
da mesa não podiam faltar - qual seria o desjejum da ressaca no dia seguinte?
Nessa época eu já era famoso por
algumas proezas – que minha chamava de demências
– na (aparentemente) simples tarefa de comprar algo no mercadinho mais próximo e
voltar. Assim, sem percalços.
Esquecer o que deveria ser comprado e voltar no meio do caminho para casa para refrescar a memória, ocorria demais, ocorria sempre. Comprar errado, esquecer um ou dois itens da lista, também tinha uma considerável recorrência. Mais raramente eu perdia o dinheiro, raro, mas já tinha acontecido.
Esquecer o que deveria ser comprado e voltar no meio do caminho para casa para refrescar a memória, ocorria demais, ocorria sempre. Comprar errado, esquecer um ou dois itens da lista, também tinha uma considerável recorrência. Mais raramente eu perdia o dinheiro, raro, mas já tinha acontecido.
Sabendo desse meu vasto
currículo, minha mãe, junto com uma nota de 50 reais – bicho, 50 reais naquela
época! -, me deu um sermão desgraçado, me botou o maior medo, e exigiu que eu chegasse em casa com a compra
devidamente feita e com o troco completo.
Não fosse essa pressão
psicológica, eu não teria colocado o dinheiro no cós da bermuda, por achar que
sentindo ele seria mais difícil perdê-lo. Na ida, tudo blue, na América do Sul.
Na volta, já na altura da rua de casa, quando eu pensava que o time estava
ganhando de goleada, dei por falta dos quarenta e tantos reais e das moedinhas.
Puta que pariu! - exclamei. Me fudi – lamentei, logo na sequência.
Não podia chegar em casa sem
aquela pequena fortuna. Comecei a refazer o caminho diversas vezes, todas elas
olhando um determinado ponto que eu não tinha examinado ainda, em busca
daquelas cédulas. Não teve jeito, não achei. Desastre. Tragédia.
Já tinha andado muito. Na certa,
em casa, todos já estariam dando pela minha falta, e preocupados até. Eu estava
cansado, os ovos já estavam quebrados de tanto resvalar nas minhas pernas, o
pão estava amassado, a noite caía. Não tinha saída. Teria que voltar para casa,
explicar tudo e, caramba, enfrentar a fera.
Foi o que eu fiz, e não sem uma
tonelada de medo e outra de vergonha sobre os ombros. Como previsto, minha mãe se
enfureceu. Ira, cólera, raiva, ódio – todas essas são palavras bonitinhas para
descrever o que ela sentiu. Ela ficou foi puta da vida mesmo! Se eu não fosse
seu filho, era capaz de me jogar no rio mais próximo.
Mas depois do vendaval de
palavrões – que minha vó define certeiramente como pisa de língua -, era chegada a grande hora, a do cacete, a do pau,
a da porrada propriamente dita. Eu já chorava de véspera, quando, do céu, minha
tia, que passara o dia todo lá em casa ajudando minha mãe, interviu – e não é
que ela conseguiu conter a fera?-, me salvando do cinturão de couro e do cipó de
goiaba.
Senão fosse ela (ah, se todos no
mundo fossem iguais a você, tia), eu teria levado um pito daqueles
inesquecíveis. Grato!
E a moral da história para o ano recém-chegado?
Moral, não arriscaria. Mas sugestões, tenho algumas: siga à risca as
orientações da sua mãe, evite andar no mundo da lua, tente ao máximo manter sua
atenção e sua concentração, jamais guarde dinheiro no cós das calças – e, se
nada disso der certo, reze para ter uma tia brodági
ao seu lado.
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