Escaleno

26.12.13 Pássaro Bege 0 Comentarios


No passo em que daquela de longa data eu me afastava, desta que agora surgia eu me entregava sem pestanejar. Porquanto eu tivesse a sabedoria daqueles que caminham reflexivos, pouco me valeu as ressalvas e as travas que chegam com a maturidade, e quando dei fé, já estava subsumido ao seu enlace. Foi dali, com os olhos vidrados, que pude perceber no seu cansaço o seu viço numa canídea voracidade.  
Era tarde, quase três, sendo assim, tive de ir, sem dizer que havia pouco espaço pra fazer um ninho na casa onde havíamos nos encontrado. Só depois do caso passado bateu aquela saudade do dormir, da voz mal acordada, das histórias; um tipo de saudade meio mal arranjada, saudade daquilo que não viria; saudade daquilo que jamais chegara.
Fui ao beijo de despedida sóbrio, visto que das redondezas tudo me espreitava: os móveis, os hóspedes, o relógio da parede e uma pia cheia de louça suja. Foi então que, na quebrada entre os lábios e o vinco de uma de minhas bochechas, rosaram-se buço e barba; fogo e calma, e num instante, dessa métrica não parnasiana emergiu  
                                                          
                                                             a escada,
                                                               o táxi,
                                                 a velocidade, e por fim,

       minha solitária casa, um papel, uma caneta e dois cigarros amassados na carteira. 

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