Pequenas coisas de que nunca me esqueci
De estar chegando na casa de minha avó, nos ombros de minha
mãe, e de ela ter dito “Tem um sapo aqui no caminho”; estava chovendo, eu tinha
mais ou menos dois anos e nós tínhamos saído de Recife e estávamos indo morar
em Gravatá. De como me sentia feliz quando minha mãe chegava do trabalho e de
como me sentia triste quando ela saia; eu tinha quatro ou cinco aninhos e ela
passava a semana inteira fora. De minha avó trabalhando em sua máquina de
costura, na sala da pequena casa onde cresci, e dando risadas por causa dos
desenhos animados que eu assistia na TV ao seu lado. De quando cheguei em casa
chorando por ter sido humilhado pela professora por não saber amarrar os
cadaços; neste dia me mãe me ensinou. De uma aula de guerra do Paraguai que
assisti na sétima série; até hoje gosto de História... Histórias... Escuto
histórias... Conto histórias... E memórias. De como fiquei eufórico quando fui
ao primeiro show de rock na minha adolescência. De como odiei meu primeiro
emprego; até hoje não gosto de trabalhar. De ter perdido a memória quando estava
ressacado e não lembrava do que tinha acontecido na noite anterior quando me
embriaguei pela primeira vez aos quinze anos; ironicamente lembro-me de quando
esqueci. De como fiquei feliz quando fui aprovado para entrar na universidade. De
como gostei de redescobrir “Dom Casmurro” de Machado de Assis; tinha vinte e
poucos anos e poucos anos depois descobri Garcia Marquez e “Cem anos de
solidão”. De como muitas vezes recebi abraços apertados de pessoas que
gosto. De como era bom dormir abraçado
com uma mulher de quem muito gostei; hoje me pergunto se valeu a pena gostar
tanto dela.
Castanha 02 / 12 / 2013
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