Etnografia de uma nota só

3.12.13 Foi Hoje! 0 Comentarios



Ouçam o som de uma acorde perfeito maior. Ouviram?

Ótimo, pois será nesse tom – pobre, apenas com uma nota – que vou lhes escrever (contar) essas letras apagadas de ciências ocultas predispostas numa linha imaginária do meu redator de texto.

Era uma tarde de sol quando resolvi finalmente passar pelo rito de passagem do trabalho de campo. Que pretensão, um jovem estudante querendo ser pesquisador. Fui ao campo. Finalmente né, depois de ter ouvido que nas minhas letras apagadas faltavam sangue e suor (sacanagem quem sabe). Coloquei minha agenda na bolsa, comprei pilhas alcalinas (no fiado de plástico) preparei o gravador, coloquei R$200 no bolso (para pagar pelas informações, pois sempre achei que nada é de graça), tomei um banho na cacimba – próximo ao rio, aquele rio dos parceiros bonitos – e fui embora para o campo.

Cheguei ao campo, mas em outro campo, pois travei e não consegui ir lá falar com quem deveria. Parei num bar, pedi uma cerveja e logo ouvi da puta triste que me atendia “Beba rapaz amanhã haverá mais aguardente” logo uma puta feliz retrucou “Buceta raspada arranha homem mal acostumado”...  Tudo isso para me servirem uma cerveja quente.

Do outro lado, um homem velho, com seus 70 anos, com voz grave, baixa estatura, caminhando lento se aproxima e diz “dê-me um cigarro seu, pois é do filtro vermelho, é mais forte que esse cigarro de algodão que eu tenho”. Dei o cigarro e comecei a conversar com o homem e ouvir suas historietas incompletas, fantasiosas, verídicas e até mesmo imaturas. Para minha surpresa, esse homem era um de meus informantes, era uma pessoa que eu estava querendo conversar, mas que infelizmente não fui ir ao local que deveria por medo, insegurança ou sei lá o que! Ele era um velho filho de santo, que conversava com um jovem filho de Comte em busca de coletar fatos/histórias/contos/mitos e afins para fazer uma pesquisa.

A partir desse dia aprendi que às vezes acertamos quando pensamos que estamos errando, que nossas letras apagadas podem se tornar fortes, que nossa ciência oculta, só é oculta, pois existem mil ocultadores e que o acorde perfeito maior era da música de Noite Ilustrada (jurei não amar ninguém, mas você veio chegando e eu fui chegando também). Aprendi também com as putas que Brahma continua sendo a melhor pedida.


Por: João Berimbau

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