Sindicato dos Remadores

11.12.13 Unknown 0 Comentarios




Atônita, a velhinha colocava os óculos no rosto para ver a multidão que se aproximava. Estava impressionada: apesar de morar ao lado do rio não imaginava que nessa cidade existissem tantos remadores, menos ainda que a classe fosse organizada em forma de sindicato. De longe, lá vinham eles, empunhando bandeiras e cartazes, entoando algumas rimas, bradavam forte e  determinados. Com algum esforço conseguia-se perceber: o que eles reivindicavam era um rio limpo. Não aceitavam ter que trabalhar se acotovelando com garrafas pet, sofás e TV’s, e cheirando a bosta e o mijo dos moradores dos prédios mais luxuosos da cidade. Estavam decididos, queriam fazer um projeto de lei, não aceitavam só palavra e tapinha nas costas. Auxiliados por um jurista que apoiava a causa, pensaram até num nome para a nova regra que queriam promulgada, com o latinzinho adornativo de costume e tudo, algo como jogae detrictus no lixum. Daí a pouco, a polícia militar, a mando do prefeito, chega para conter a manifestação que as rádios locais até então noticiavam que era pacífica e ordeira. Foi uma contenção regada a cassetetes, balas de borracha, bom de gás e de efeito moral, socos e pontapés, respeitem a autoridade! – e salve-se quem puder. Quando poeira baixou, e o gás das bombas se dispersou, a velhinha, que ainda tentava digerir a pauta dos remadores, se levantou, foi até a beirada da ponte, arremessou o embrulho da jujuba e resmungou: - Mas é cada uma que me aparece!

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