Hot Philadelphia

25.6.14 Cabotino 0 Comentarios


Por amor você cruza a Agamenon Magalhães na hora do rush, cortando a zona norte a sul.
Por amor você come uma iguaria fria e fica na boca o gosto de salmão e creme cheese misturado ao cheiro de buceta impregnado no bigode – O homem atrás do bigode é sério, simples e forte como assevera Drummond.

No ônibus você vai em pé e ninguém segura a sua mochila. As mulheres lhe olham à sorrelfa, sabem que há algo estranho em você, o cheiro de sexo é quente e atraente mesmo sob o cabelo molhado. Você tem um olhar distante, alheio como quem acabou de sair de uma sessão de cinema e sua retina ainda está se adaptando às luzes da cidade. A cara de monge tibetano que suscita o post-coitum é afrodisíaca e você irradia aquela paz e autoestima de quem saí de um banquete. 

Você está fornido de sexo e temaki.

Por amor você flana à toa pela cidade na hora mais caótica. O movimento na rampa do Hospital da Restauração; o mau cheiro do canal da Agamenon; as pessoas no bairro do Derby e toda a cidade que caminha atrás de dinheiro e de descanso são inofensivos a você e seu olor que desfilam vertical e soberanamente sobre o vale da sombra e da morte entre Boa Viagem e Olinda.

Você desce a Conde da Boa Vista, a pé, sentido Marco Zero, e neste instante nenhuma faixa de pedestre ou semáforo são capazes de turvar teu pensamento. És a um só tempo amor e certeza.

Teus olhos acompanham o movimento da cidade que pulsa, com certeza, mais rápida do que as batidas do teu coração, porém o teu ritmo é invejado pela cidade que já vai com várias pontes de safena e um marca passo que a qualquer hora pode parar. Mas teu coração é da cor de um salmão e ele bombeia flores e borboleta na sístole e diástole de uma trepada seguida de sushi. 

És engolfado por uma capsula odorífica que te protege da hostilidade exterior, sorves aos poucos a marca da mulher amada em teu bigode. Arrotas felicidade e peidas satisfação na cara de todos. Pouco importas para onde irás – o amor é alheio às ruas e não usa relógio. O amor segue contigo borrifando seu aroma e ruminando o seu sabor. Enquanto ambos durarem, a morte não passa de uma faixa de pedestre com o sinal verde para atravessares no teu ritmo, só no teu ritmo. 

Eu não deveria te dizer, mas essa lua e esse cheiro te põem comovido como o Diabo.

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