À guisa de síntese, de conclusão ou de coisa nenhuma

27.6.14 Unknown 0 Comentarios


                                                                                                                                                                                       Em diálogo com o Cabotino

Sócrates, ídolo da Seleção Brasileira e do Corinthians,
liderou, neste clube, a Democracia Corintiana, movimento
que simbolizou, no futebol, a luta contra a ditadura militar.
Tão falsa quanto uma cédula, límpida e cintilante, de três reais, e tão inverossímil quanto a cerimônia fúnebre daquele ser que tem uma estatura absurdamente baixa é a tese que sustenta que o futebol carrega uma falta de sentido inata, que ele não teria nada a oferecer além daquilo que está dentro da sua própria redoma.

Falsa. E acrescento: estapafúrdia. Ora, futebol é mais do que, simplesmente, futebol. Digo: é mais do que um mero esporte. É isso também, mas é mais. E só não enxerga quem não quer.

Como dizer, portanto, que a partida entre a República Democrática Alemã e a República Federal da Alemanha, em 1974, não estava revestida de uma rivalidade, mais que futebolística, ideológica? Como escapa aos olhos de alguns que comemorar um gol com uma saudação nazista é um (abominável) posicionamento político, como fez o grego Giorgos Katidis, não há décadas, mas apenas há um ano atrás?

Os exemplos pululam, tanto para um lado quanto para outro, e antes que alguém se levante e esbraveje aos céus que futebol é matéria alienante, lembro que no começo do século XX a Asosiación Atlética Argentino Juniors nasceu se chamando Clube Mártires de Chicago justamente em homenagem a trabalhadores anarquistas enforcados num primeiro de maio.

Vê-se, pois, como o futebol é uma expressão cultural que guarda íntima relação com as nossas mais profundas raízes.

No caso específico do Brasil, e do evento esportivo que está sendo sediado neste momento, ouvem-se muitas vozes “esclarecidas” afirmando que as manifestações esmoreceram exatamente por causa do potencial alienador do futebol.

Ora, nada mais incorreto. Quero, acima de tudo, inverter essa relação aqui: o futebol não dificultou, mas facilitou todo o processo de reivindicações e protestos que ocorreram no ano passado e neste também.  

E a tese é simples: todas as questões envolvendo superfaturamento, corrupção e desapropriações que cercaram a preparação e organização da Copa do Mundo não são novidades na vida política brasileira. No entanto, só tomaram tamanha proporção quando mexeram nessa que é a grande paixão nacional. O futebol foi como uma lente que serviu para desembaçar nossa vista para esse fato.

Talvez a grande lição que o evento Copa do Mundo/das Confederações nos deixa é: não esqueçamos de olhar para o futebol.  Jamais.

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