À guisa de síntese, de conclusão ou de coisa nenhuma
Em diálogo com o Cabotino
Sócrates, ídolo da Seleção Brasileira e do Corinthians, liderou, neste clube, a Democracia Corintiana, movimento que simbolizou, no futebol, a luta contra a ditadura militar. |
Tão falsa quanto uma cédula,
límpida e cintilante, de três reais, e tão inverossímil quanto a cerimônia
fúnebre daquele ser que tem uma estatura absurdamente baixa é a tese que
sustenta que o futebol carrega uma falta de sentido inata, que ele não teria
nada a oferecer além daquilo que está dentro da sua própria redoma.
Falsa. E acrescento: — estapafúrdia. Ora, futebol é
mais do que, simplesmente, futebol. Digo: é mais do que um mero esporte. É isso
também, mas é mais. E só não enxerga quem não quer.
Como dizer, portanto, que a
partida entre a República Democrática Alemã e a República Federal da Alemanha,
em 1974, não estava revestida de uma rivalidade, mais que futebolística,
ideológica? Como escapa aos olhos de alguns que comemorar um gol com uma
saudação nazista é um (abominável) posicionamento político, como fez o grego Giorgos Katidis, não há décadas,
mas apenas há um ano atrás?
Os exemplos pululam, tanto para um lado quanto para outro, e antes que
alguém se levante e esbraveje aos céus que futebol é matéria alienante, lembro
que no começo do século XX a Asosiación Atlética Argentino Juniors nasceu se
chamando Clube Mártires de Chicago justamente em homenagem a trabalhadores
anarquistas enforcados num primeiro de maio.
Vê-se, pois, como o futebol é uma expressão cultural que guarda íntima
relação com as nossas mais profundas raízes.
No caso específico do Brasil, e do evento esportivo que está sendo
sediado neste momento, ouvem-se muitas vozes “esclarecidas” afirmando que as
manifestações esmoreceram exatamente por causa do potencial alienador do
futebol.
Ora, nada mais incorreto. Quero, acima de tudo, inverter essa relação aqui: o futebol não dificultou, mas facilitou todo o processo de reivindicações e protestos que ocorreram no ano passado e neste também.
E a tese é simples: todas as questões envolvendo superfaturamento, corrupção e desapropriações que cercaram a preparação e organização da Copa do Mundo não são novidades na vida política brasileira. No entanto, só tomaram tamanha proporção quando mexeram nessa que é a grande paixão nacional. O futebol foi como uma lente que serviu para desembaçar nossa vista para esse fato.
Ora, nada mais incorreto. Quero, acima de tudo, inverter essa relação aqui: o futebol não dificultou, mas facilitou todo o processo de reivindicações e protestos que ocorreram no ano passado e neste também.
E a tese é simples: todas as questões envolvendo superfaturamento, corrupção e desapropriações que cercaram a preparação e organização da Copa do Mundo não são novidades na vida política brasileira. No entanto, só tomaram tamanha proporção quando mexeram nessa que é a grande paixão nacional. O futebol foi como uma lente que serviu para desembaçar nossa vista para esse fato.
Talvez a grande lição que o
evento Copa do Mundo/das Confederações nos deixa é: não esqueçamos de olhar
para o futebol. Jamais.
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