Terceiro Monólogo: (é tudo invenção, nada é real!)

12.5.14 Castanha 0 Comentarios


Cassiana:
Trinta e sete anos. Solteira. Entediada com a vida. Não quer ser mãe. Tem temperamento forte. Não gosta de ter gostado de Luco.
Cassiana estava no ônibus, sentada, pensado que aquilo era coisa rara, estar no coletivo que não estava lotado apesar de ser quase horário de pico. Viu um cachorro morto no canto da avenida, provavelmente atropelado; lembrou de ter visto uma matéria na TV onde um cientista propunha usar sangue de animais na produção de cola e pensou “A gente faz com os animais o que não suportamos que façam com a gente... E tem muita gente que faz com as pessoas o que não se devia fazer nem com os bichos”. Por uns instantes pensou em nada e foi interrompida por ver entrando no ônibus uma moça alta, morena, nem bonita nem feia, com o rosto desenhado por uns traços grossos que eram sim esquisitos, mas também interessantes. Cassiana gelou “Puta que pariu! É a mulher de Luco, aquele cachorro” disse para si. A ironia foi maior quando a moça caminhou e sentou, com tantas cadeiras disponíveis, ao lado de Cassiana. “Caralho! Será que ela sabe?”, mas em seguida relaxou percebendo que a moça se comportava com uma frieza que só o desconhecimento total dos fatos pode gerar. “Nunca mais quero conversa com ele! Homem casado é uma merda! Deixa ele lá! No bar dele, vendendo cerveja choca pra os papudinhos da Várzea”. Olhou pelo canto do olho para a moça e recuou. “É muito esquisito estar do lado dela... Se ela soubesse... Marido cachorro... Coitada”. Lembrou das ultimas vezes que beijou e se deitou com Luco e um calafrio que era uma mistura de asco com arrependimento correu seu interior. “Quando a gente não quer ficar só a gente se joga nas situações... A solidão é uma bosta... A gente anda meio mundo, vê coisas, vive coisas, mas no final, bom mesmo é ter alguém pra fazer cafuné na gente. A gente precisa de alguém pra amar pra ver se assim a pessoa ama a gente também... No final, nessa lógica, amar o outro é um jeito de amar a gente mesmo”. Olhou para a rua, avistou um grupo de estudantes saindo de uma escola de ensino médio; reiniciou o monólogo “Não serei mãe, quem quiser que fique com essa história de que a mulher precisa ser mãe pra ser completa... Eu já nasci completa. Criança pra me dar trabalho?! Pra chupar meus peitos até ficarem murchos?! Pra me deixar gorda e flácida depois que nasce?! Pra me prender pro resto da vida com todo tipo de responsabilidade?! Pra eu descobrir na prática o que é estar presa a um ser que quanto mais se afasta da gente, pela distância e pelo tempo, mais a gente se sente presa a ele?! Eu não! Nunca!”. A simples ideia de assumir essa responsabilidade irritou Cassiana e em seguida lembrou-se de Luco e também da esposa de Luco, ali ao lado, e ficou ainda mais irritada e então percebeu que sua parada era a próxima, então levantou e pediu licença para passar e foi com um olhar esnobe que a esposa de Luco lhe concedeu passagem e então ela disse pra si mesma “Cachorra esnobe, merece aquele traste!”.

Castanha

10/05/2014 

Para entender melhor esse Monólogo, leia o anterior  http://foihoje.blogspot.com.br/2014/05/segundo-monologo-e-tudo-invencao-nada-e.html      

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