Os saques são só uma pequena amostra

16.5.14 Castanha 0 Comentarios


Tem tanta violência em Recife, por quê? O que há de errado? Ora, ora, nada está errado: nós simplesmente somos violentos. Construir uma cidade em cima da desigualdade e da exploração só pode gerar insatisfação. Imagine então construir várias cidades em torno de uma principal, apelidada por alguns amigos meus de “Hellcife”, e este neologismo não é à toa, e chamar este complexo de “Região metropolitana” ou “Grande Recife”, que é para quem conhece esse lugar, um inferninho que destrata a maior parte de seus cidadãos. O polícia militar entrou em greve. A greve durou um dia e umas tantas horas, no máximo dois dias, mas foi o suficiente para entrarmos em pânico: escolas fechadas, transporte coletivo parado, comércio paralisado, assaltos, roubos, saques a lojas, homicídios a mais, enfim, caos. Bem, não há o que estranhar, isso acontece no nosso dia a dia, mas a polícia, que é o braço forte, que dá porrada nos excluídos e insatisfeitos cada vez que eles tentam sair da linha, mantém o controle da situação, criando uma sensação de segurança, que não sei até onde falsa ou verdadeira. Se a polícia parar, as insatisfações vêm à tona e a casa cai. Os saques chamaram a atenção da população após serem mostrados nas mídias locais e nacionais. Por que houve saques? Muito simples: o sistema diz que devemos ter “coisas”, todo tipo de “coisas” – roupas, calçados, eletrodomésticos – mas, não é fácil ter “coisas”, então as pessoas que não conseguem ter “coisas” pegam à força. Desta vez foram os saques – pelo menos foram os que mais chamaram atenção – mas no cotidiano da cidade os indivíduos “buscam coisas” com roubos e assaltos. Há outras expressões da violência em nosso cotidiano, assim como houve outras violências, também, durante a greve da polícia militar, mas por hora basta falar dos saques para termos uma boa amostra de que muita coisa está errada em nossa querida Recife, a Veneza brasileira cortada por rios de água suja que despejam merda no mar. Não há felicidade no capitalismo, há consumo; igualmente não há tristeza no capitalismo, há exclusão. Do mesmo jeito que o “triste” quer ficar “feliz”, o “excluído” quer “consumir”. Recife é um lugar capitalista - tão capitalista que dá medo - cheio de “tristes / excluídos” que durante a greve viram uma oportunidade de serem “felizes”.          


Castanha 16 de maio de 2014

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