Os saques são só uma pequena amostra
Tem tanta violência em Recife, por quê? O que há de errado?
Ora, ora, nada está errado: nós simplesmente somos violentos. Construir uma
cidade em cima da desigualdade e da exploração só pode gerar insatisfação. Imagine
então construir várias cidades em torno de uma principal, apelidada por alguns
amigos meus de “Hellcife”, e este neologismo não é à toa, e chamar este
complexo de “Região metropolitana” ou “Grande Recife”, que é para quem conhece
esse lugar, um inferninho que destrata a maior parte de seus cidadãos. O
polícia militar entrou em greve. A greve durou um dia e umas tantas horas, no
máximo dois dias, mas foi o suficiente para entrarmos em pânico: escolas fechadas,
transporte coletivo parado, comércio paralisado, assaltos, roubos, saques a
lojas, homicídios a mais, enfim, caos. Bem, não há o que estranhar, isso
acontece no nosso dia a dia, mas a polícia, que é o braço forte, que dá porrada
nos excluídos e insatisfeitos cada vez que eles tentam sair da linha, mantém o
controle da situação, criando uma sensação de segurança, que não sei até onde
falsa ou verdadeira. Se a polícia parar, as insatisfações vêm à tona e a casa
cai. Os saques chamaram a atenção da população após serem mostrados nas mídias
locais e nacionais. Por que houve saques? Muito simples: o sistema diz que
devemos ter “coisas”, todo tipo de “coisas” – roupas, calçados,
eletrodomésticos – mas, não é fácil ter “coisas”, então as pessoas que não
conseguem ter “coisas” pegam à força. Desta vez foram os saques – pelo menos
foram os que mais chamaram atenção – mas no cotidiano da cidade os indivíduos
“buscam coisas” com roubos e assaltos. Há outras expressões da violência em
nosso cotidiano, assim como houve outras violências, também, durante a greve da
polícia militar, mas por hora basta falar dos saques para termos uma boa
amostra de que muita coisa está errada em nossa querida Recife, a Veneza
brasileira cortada por rios de água suja que despejam merda no mar. Não há
felicidade no capitalismo, há consumo; igualmente não há tristeza no
capitalismo, há exclusão. Do mesmo jeito que o “triste” quer ficar “feliz”, o “excluído”
quer “consumir”. Recife é um lugar capitalista - tão capitalista que dá medo -
cheio de “tristes / excluídos” que durante a greve viram uma oportunidade de
serem “felizes”.
Castanha 16 de maio
de 2014
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