Segundo Monólogo: (é tudo invenção, nada é real!)

10.5.14 Castanha 0 Comentarios


Magno:
Caminha pelas ruas de Recife. Acha fedorenta essa cidade. Adora caldo de cana e cerveja gelada. Faz pouco tempo que aprendeu que o sentido da vida é o outro, que ele ainda não sabe qual é.


“Recife está mais quente hoje... Esse calor está terrível. Parece que não vai chover nunca mais. No ônibus, o cobrador falou – Não vai chover nunca mais. Que figura!”. Moveu-se um pouco para a esquerda, em sua caminhada pela AV. Alfonso Olindense, para desviar de uma poça de urina. “Recife é uma cidade porca...” pensou “uma cidade fedorenta, catinga de fezes e urina. Urina e fezes na calçada em todo canto. Urina e fezes assim, na calçada, fedem mais quando está quente. Os dias mais quentes de Recife são também seus dias mais fedorentos. O observatório meteorológico internacional afirma que os últimos treze anos foram os mais quentes da história. Então foram os mais fedorentos de Recife.”. Parou numa barraca ambulante pra tomar um caldo de cana. Sorriu pensando “Será confiável beber um negócio que é feito numa rua de uma cidade que fedeu tanto nos últimos treze anos? Tem merda no caldo, também?”. Cumprira obrigações desde que saiu de casa às oito horas da manhã. Enfrentou o transporte público; bateu pernas pelos becos e ruas do centro da cidade; almoçou uma coxinha vagabunda com carne meio azeda e um suco de goiaba doce demais e gelado de menos. “Tudo no mundo é dependente do que a gente não vê...” pensou ele, olhando o mover da máquina triturando a cana “... as fezes e a urina incomodam por causa de um cheiro que não vemos, o calor aquece mais ele não é visto, o gosto ruim do almoço de hoje não foi captado por meus olhos, mas estava ali, tremendo em minha língua, e a força que move essa máquina para a cana ser moída não é vista, nunca será.”. Deu uma pausa. Voltou “O que nos faz viver, também, é um conjunto de elementos que não podem ser vistos... Está tudo ai sem ninguém ver. Muita coisa não parece ser, muita coisa já é sem parecer ser.”. Caminhou até o bar de Luco e pediu uma cerveja; o primeiro gole foi logo cuspido para que Magno pudesse protestar “Luco, essa cerveja ta choca!”.        

Castanha

 30 de abril de 2014

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