Segundo Monólogo: (é tudo invenção, nada é real!)
Magno:
Caminha pelas ruas de Recife. Acha
fedorenta essa cidade. Adora caldo de cana e cerveja gelada. Faz pouco tempo
que aprendeu que o sentido da vida é o outro, que ele ainda não sabe qual é.
“Recife está mais quente hoje... Esse calor está terrível.
Parece que não vai chover nunca mais. No ônibus, o cobrador falou – Não vai chover nunca mais. Que
figura!”. Moveu-se um pouco para a esquerda, em sua caminhada pela AV. Alfonso
Olindense, para desviar de uma poça de urina. “Recife é uma cidade porca...”
pensou “uma cidade fedorenta, catinga de fezes e urina. Urina e fezes na
calçada em todo canto. Urina e fezes assim, na calçada, fedem mais quando está
quente. Os dias mais quentes de Recife são também seus dias mais fedorentos. O
observatório meteorológico internacional afirma que os últimos treze anos foram
os mais quentes da história. Então foram os mais fedorentos de Recife.”. Parou
numa barraca ambulante pra tomar um caldo de cana. Sorriu pensando “Será
confiável beber um negócio que é feito numa rua de uma cidade que fedeu tanto
nos últimos treze anos? Tem merda no caldo, também?”. Cumprira obrigações desde
que saiu de casa às oito horas da manhã. Enfrentou o transporte público; bateu
pernas pelos becos e ruas do centro da cidade; almoçou uma coxinha vagabunda
com carne meio azeda e um suco de goiaba doce demais e gelado de menos. “Tudo
no mundo é dependente do que a gente não vê...” pensou ele, olhando o mover da
máquina triturando a cana “... as fezes e a urina incomodam por causa de um
cheiro que não vemos, o calor aquece mais ele não é visto, o gosto ruim do
almoço de hoje não foi captado por meus olhos, mas estava ali, tremendo em
minha língua, e a força que move essa máquina para a cana ser moída não é
vista, nunca será.”. Deu uma pausa. Voltou “O que nos faz viver, também, é um
conjunto de elementos que não podem ser vistos... Está tudo ai sem ninguém ver.
Muita coisa não parece ser, muita coisa já é sem parecer ser.”. Caminhou até o
bar de Luco e pediu uma cerveja; o primeiro gole foi logo cuspido para que
Magno pudesse protestar “Luco, essa cerveja ta choca!”.
Castanha
30
de abril de 2014
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