Quarto Monólogo: (é tudo invenção, nada é real!)
Vera:
Trinta e dois anos. Morde-se de
curiosidade querendo saber quem é a amante de Luco. Não gosta tanto de Luco
quanto gostou de Rui. Detesta lembra que Rui não tem dinheiro, e gosta de
lembrar de que Luco tem um bar.
Vera não entendeu
porque não gostou daquela moça que estava ao seu lado no ônibus; não falou com
a moça, mal olhou pra ela, simplesmente não gostou. Algum tempo depois que a
moça foi embora, Vera se tocou de que tinha sentado justamente do lado dela,
enquanto tantos lugares dentro do coletivo estavam vazios. Lembrou “Quando
botei o pé no coletivo vi o rosto dela... Detestei... Por quê? Não sei! Sentei
justamente do lado dela... Nem pensei em nada, só sentei; tinha um jeito de
puta. Luco ta ficando com uma puta. Está me traindo. Será que é mesmo? Será que
tia Joana tava mentindo? Tia Joana nunca gostou dele, mas mentirosa ela não
é... Luco sempre foi mulherengo! Traste! Detesto aquele jeito dele falando ‘Venha cá meu bem, venha pro seu Luquinho’
cachorro!”. Houve uma pausa neste monólogo que havia começado com uma
lembrança, pois Vera apreciava um casal de adolescentes que entraram no ônibus:
jovens, bonitos, estudantes, provavelmente. “Saudade desse tempo” disse para si
mesma, “tempo bom, sem obrigações, tempo de ser bonita... eu era bonita, muito
bonita. O tempo passa, escorre por nós sem a gente conseguir segura; nos marca
com suas ações. Não ta ruim, ainda; trinta e dois anos não são ruins; mas não é
bom como era aos dezesseis, quando eu era parecida com essa menina; eu era mais
bonita! Um dia vou ter sessenta e quatro, terei o dobro do que tenho agora e
vou ver alguma mulher com trinta e dois e vou pensar o que penso agora em
relação a essa menina. O tempo é uma merda! É Luco? Aquele traste! Luco também
é uma merda!”. Vera lembrou-se Rui e reiniciou “Rui era bom. Ainda deve ser.
Era carinhoso, mas não tinha dinheiro pra nada, e homem sem dinheiro não
presta; não gostava de trabalhar, vagabundo! Sem dinheiro nem pra me levar pra
tomar um sorvete, terrível! Minha mãe esta certa: ‘quando a pobreza entra pela porta da frente, a felicidade sai de casa
pulando a janela’; se não fosse isso eu estaria com Rui, Rui é fiel, é
vagabundo, mas é fiel...”. A lembrança de Rui agitou alguma coisa em Vera e ela
sentiu-se mais viva: “Bem que Luco merece um par de chifres... Bem que eu
mereço dar uma puladinha de cerca pra me reanimar... Quem será a cachorra que
ta ficando com Luco? Será que já cruzei com ela por ai? Merda! Talvez eu ligue
pra Rui”.
Castanha
12 de maio
de 2014
Para
entender melhor esse monólogo leia o anterior
http://foihoje.blogspot.com.br/2014/05/terceiro-monologo-e-tudo-invencao-nada.html
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