Choro

29.4.14 Castanha 0 Comentarios


Vivendo nós construímos; construímos um mundo dentro de nós a partir de tudo que nos é externo. O filósofo inglês John Locke acreditava que tudo que conhecemos deriva do contato que temos com o mundo externo por via de nossos cinco sentidos. As informações passam por esses sentidos e chegam ao nosso cérebro construindo em nossa mente tudo que conhecemos; somos o que conhecemos. Sendo assim, diríamos que algo, perto ou distante, é fruto de nossa experiência com o mundo concreto que nos faz dizer que um dado ponto esteja “perto” se é facilmente alcançável ou “distante” se for difícil de alcançar. O mesmo vale para os conhecimentos dos sentimentos, o abstrato do abstrato: é possível saber o que é dor não só levando uma pancada de algo concreto, mas também se decepcionando com as pessoas por causa de ações em situações que são tão soltas e disformes quanto o vento. Concordo com Locke: vivendo se conhece e conhecendo se transforma. É preciso ter uma boa noite de sexo para ter uma noção de quanto tempo você perdeu transando com pessoas que não sabem transar. É preciso ter um bom amigo pra saber quanto desprezíveis são alguns seres humanos que não merecem ser chamados de amigos. É preciso ficar ofegante para saber o que intensidade. É preciso se entorpecer para saber que o que chamamos de real pode ser visto de outras formas. É preciso esperar o tempo passar para entender os efeitos do tempo. É preciso sentir medo, simplesmente porque às vezes é preciso sentir medo; e o medo nós força a tomar decisões que nos torna corajosos. É preciso viver para valer a pena estar vivo e saber que a vida não tem precisões. É preciso sorrir. Quando João Bernardo nasceu também foi assim; seu pai, Júnior, encontrou-se com seu próprio pai, o avó de João, para comemorarem. Embriagaram-se e ao final Júnior falou ao seu genitor “agora eu sei o quanto o senhor me ama, agora que sou pai, sei o que é amar um filho” abraçaram-se e choraram. João Bernardo não sabe disso, tem apenas um ano, mas saberá.


Castanha 07 de março de 2014            

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