Sobre falta de critividade, ficção, realidade, etc
"Informações entram pelas narinas e a cultura sai mau hálito." (ZERO QUATRO, Fred)
Na esteira das preocupações mais comezinhas do dia-a-dia,
desde o que irá saciar minha fome na próxima refeição até as preocupações sobre
o futuro e perpetuação da espécie, da minha espécie, rapaz latino-americano sem
dinheiro no banco, etc, fica difícil pensar numa história exemplar, tanto no
sentido negativo quanto no positivo, para jogar neste endereço e entreter o
leitor.
Culpa disso, em parte, é deste mundo frenético em que
vivemos. Fica difícil competir com essa tecnologia robusta voltada à
informação. Existem canais de televisão e internet que se dedicam a dar novas notícias todos os dias, vinte e
quatro horas por dia.
E, para esta tarefa, haja poder inventivo.
E, para esta tarefa, haja poder inventivo.
Neste ponto faço referência a uma já clássica comunidade
virtual que tinha como nome o título de uma matéria jornalística divulgada
amplamente mundo afora: “Anão vestido de palhaço mata 8”. Dentro da qual se
seguiam outras como “Padre morre após levantar voo com mil balões de festa”. É
complicada ou não a disputa? Minha ficção não é páreo para essa realidade.
Se eu vivesse no tempo de Rubem Braga, em que até os telefones locais eram raridade, talvez fosse mais fácil me inspirar nos seus gestos: ir para uma praça ou praia, se distrair com um cajueiro ou passarinho, matutar, ruminar, e, por fim, exausto de tanta divagação, escrever.
Mas vivo hoje, em pleno século vinte e um, e a avidez por informação é a cocaína destes tempos. Agora entendo a mãe de uma amiga que sempre me aconselhava a tirar dez minutos do meu dia para perder com pensamentos pueris, frívolos e fugazes. É para descansar os sentidos, ela dizia. Quanta sapiência! Mas no auge dos meus catorze anos eu confundia as coisas: pensava que descansar os sentidos era deitar ridiculamente com uma rodela de batata sobre cada olho, assim como ela fazia.
Talvez ela estivesse percebendo o
que hoje tenho como certeza: sim, fomos vencidos pela máquina. Não a da ficção
científico-cinematográfica, mas esta que hoje é a maior extensão do corpo: o celular - ressalva feita para os fumantes.
É incrível como a maioria das tentativas de se resguardar dez minutos do dia
sucumbe ao desejo de cutucar o smartphone.
E enquanto essa febre não passa,
basta me conformar e esperar pacientemente as crônicas de Castanha, que uma vez
ou outra puxa um coelho da cartola.
0 comentários: