Te mostro quando souber ler

31.10.12 Joarez 1 Comentarios


                                   Série iniciada, outrora, por Renan Cabral, e que agora é quase infindável - a vida não cansa de vir ao mundo.



Eis que, antes do devido, mas já previamente sabido, nasceu o menino. Floresceu a vida, desabrochou a rosa da existência (vixe, que brega!). O garoto, com uma pressa indescritível, nasceu com apenas oito meses de gestação. Interrompeu antes do comum o período crepuscular que é a gravidez. Mas, como diria Raul, a arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal. Sendo assim, o varão já nasce com um pé fora da caretice, amém.

E ele correu, correu rapidamente, da barriga para o berço, que não é de ouro, mas é aconchegante. E quem diz isso não sou, é ele - a seu modo, claro. O menino passa o dia todo dormindo. A avó acha uma maravilha: diz que é uma bênção de Deus toda essa tranquilidade. Mas o fato é que o moleque chega às raias do absurdo: se não for acordado, não come. Nem a fome, que tem uma saúde de ferro, como diria Jorge Du Peixe, consegue abalar aquele sono colossal. Dia desses, tomando banho, sendo ensaboado pela mãe, aquela coisa freudiana e sensual, desabou candidamente nos braços de Morfeu. Todos que assistiam, abobalhados, assim que perceberam, caíram na gargalhada. Que capacidade, que virtude!... E que inveja!

Mas o fato é que um nascimento toca a sensibilidade humana. Sim, eis o que eu queria dizer, agora alcancei: um nascimento é um abraço apertado na sensibilidade do homem. O nascimento e a morte, a seu modo, mexem muito com a gente. E no meio daquele alvoroço que é um recém-nascido numa família gigante, vai comprar o leite do menino!, pega a fralda do menino na segunda gaveta!, sopra a moleira do menino, vai, sopra a moleira!, qualquer gesto dele torna-se um acontecimento, mesmo sabendo que é irrefletido.

Sob os carinhos da mãe, e no colo dela, em algum momento, ele esboçou um sorriso. Pronto, estava armado o tumulto. Tal e qual uma São Silvestre, correram cem, correram mil, para ver o menino estampar algum regozijo na cara. Mexeram pra cá, mexeram pra cá, cuti-cuti, coisa linda, tiraram foto, e, se nem saberem se ele permitia, jogaram na internet. Foi compartilhamento pra cá, retuíte pra lá, e a foto dele perambulando World Wide Web afora.

A vida do garoto está mansa, mas também está espetacularizada. De qualquer forma, isso é pano pra outras mangas. Fiquemos, por ora, apenas com o sorriso.

Um comentário:

  1. E diante de todo o aparato binário, toda a dopamina e endofina produzidos pelos corpos circuscritos a ele, o sorriso brotou como aquela flro drummoniana; e toda sisudez humana saiu de cena...

    PS: Dizer que a prosa de Juarez é bonita seria mais uma tautologia professada por este Cabotino.

    ResponderExcluir