Hitchcockeando o sensorial

11.11.12 Joarez 1 Comentarios


Imerso numa cultura que prima, antes de tudo, pela decodificação de signos, foi com regozijante surpresa que ontem eu assisti a "Psicose" (1960), de Alfred Hitchcock, no Cinema São Luiz. O filme conta com elementos que foram tão copiados e satirizados que, mais tarde, virariam clichê: um hotel abandonado à beira da estrade, a arma branca, a casa sombria no alto da colina. Mas Hitchcock é bem mais, ele joga com um pequeno mistério para apreender a atenção do espectador; faz um ótimo trabalho com seus atores e ainda nos brinda com um estudo de personagem em sua obra.

Enquanto todos que estavam na sala de cinema, ou quase todos, já o haviam visto, eu o contemplava pela primeira vez. E o irônico é que eles, por já saberem de cor e salteado as nuances do roteiro, se antecipavam à ação da tela, desprendiam grande esforço para dramatizar, do lado de cá, o que ainda viria a se desenrolar no filme. Com esta atitude, colocavam a imagem antes do visual. Isto é, preferiam um experiência racional, e não sensorial. Enquanto alguns riam, em passagens que até mesmo cabe duvidar se as risadas seriam bem encaixadas, eu estava imóvel, assustado, maravilhado. Saí da sala de cinema e ainda demorei o tempo de uns dois cigarros para verbalizar alguma impressão sobre o filme, enquanto a euforia previamente calculada estourava na Rua da Aurora.

Foi uma ótima noite e voltei para casa, naquele velho bacurau, refletindo: a semiótica é boa e, sem dúvida alguma, indispensável. Mas a experiência artística tem que ser primordialmente sensorial - isso se quisermos mergulhar no que ela tem de mais profundo.

Um comentário:

  1. Nada mais louco do que as sensações que perpassam no corpos , nesses dez minutinhos após um filme que nos toca, e na telona, romantismos a parte, é que mergulhamos que de fato.

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