Uma dor estonteante

6.10.12 Calil Madrazzo 3 Comentarios



Lá vem ela, aquela carranca magricela, um esqueleto animado, imagem viva da austeridade. A boca carrancuda abrindo e fechando resmungando sons aos quais não consigo decifrar, o maxilar inferior batendo no superior, a saliva que de raiva jorra abruptamente da boca; o suor no corpo escorrendo de um nervosismo frenético, os punhos fechados, os olhos apertados mirando o alvo. Rugas? Não tinha mais, eram veias e sinais de expressões salientando o ódio: protuberância da alma. A atmosfera ao redor estava densa, escura e pesada (Alguém vai apanhar hoje!).

Um chute no testículo. Uma dor estonteante (lembrou-me dum baque que levei num corrimão entre as pernas abertas). Tentei me segurar em algum lugar, não deu, não tem porra nenhuma que lhe segure numa hora dessas. Um grito ensurdecedor no ouvido, ao qual não entendi uma só palavra, contudo foi como uma lança que transpassou meu coração, uma bigorna esmagando o corpo; nervos a mil. Os músculos amolecem, a mente perde a noção, quase uma labirintite, não, uma labirintite completa. A visão gira e você do mesmo modo balança entorno do seu eixo, sem eixo: “cabou negão”, “é xau pro lôro”. Ôpa, essa eu entendi perfeitamente. Um murro seco no meio da boca, meus dentes estavam cerrados (que bosta!), engoli três incisos centrais e um canino de brinde. Sangue jorrando por tudo quanto é lado. Mas isso não dói, não dói tanto quanto a dor que amofina o peito. Agora cotovelada no diafragma. “Ah vadia! eu te pego, eu te pego!”, pensei alto, é claro, não tinha condições de falar.

O divertido é estudar as leis naturais que regem o universo. Ela me pega e me arremessa contra a parede. Bom mesmo é que tivesse uma parede, caí da janela a baixo, empuxo, gravidade, aceleração, ação e reação, a cabeça batendo, o crânio partindo, a gosma cerebral querendo sair e se espalhar pelo obstáculo mais próximo estancando num atrito qualquer. Blam! Meus sentidos doem. Minha sensação de impotência me corrói. “Desgraçada, eu te pego, eu te pego, eu te pego, eu te pego cachorra...” Mas agora não, agora não porque tô em coma.

3 comentários:

  1. Grande Madrazzo, chegou com o fôlego todo. Muito boa meu querido.

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  2. Texto forte, mais direto do que um dente canino em nosso antebraço, parabéns Madrazzo e que sejas bem vindo!

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  3. Vlw galera, obrigado pela força, afinal de contas nada melhor q um dedo na goela para incentivar o vômito a sair.

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