Passeio matinal

1.10.12 Castanha 4 Comentarios



Trovão (o cão do vizinho – digo, que pertence ao vizinho – aqui da frente) da uma fungada no portão percebe que o mesmo não está trancado com cadeado e com um movimento leve abre-o e dá uma escapadinha. Funga aqui e ali, pára pra fazer xixi numa pilha de arbustos com folhas secas que estão empilhados em cima da calçada (marcar o território é preciso). Caminha pela rua,  dá uma olhadinha para o entregador de botijão de gás, que passa dirigindo uma moto, observa-o distanciar-se. Olha pra trás e vê o gato saindo do jardim vizinho (nada de agressões ou latidos, manter a política da boa vizinhança é fundamental); em um idioma animal qualquer devem ter se cumprimentado (um bom dia meio frio, ou algo do tipo, afinal eles tem suas diferenças). Nova caminhada ao longo da rua e mais alguns xixis: um no muro do vizinho, outro no muro aqui do condomínio e mais um no pneu do carro estacionado na frente da outra casa vizinha (num mundo tão grande e agitado garantir soberania é um tanto trabalhoso). Uma olhada aqui, outra ali, mais uns bocejos e lá vem o entregador de gás (não é o mesmo de antes, agora é outro, também guiando uma moto, mas com um uniforme de outra cor). Funga um balde de lixo, não acha nada interessante; funga outro, dessa vez o do vizinho, nova decepção; funga um terceiro, esse sim, parece ideal pra estraçalhar e arremessar o lixo pra todos os lados (ora, o que é que há?! Diverti-se é preciso, pois nem só de obrigações é feito o mundo); vai atacar o saco de lixo com seus caninos quando é interrompido pela movimentação no terraço da casa de sua humana família: é alguém percebendo que o fiel amigo escapou para seu passeio matinal e com pequenos assobios tenta convocá-lo de volta ao lar. Trovão, que é tão esperto quanto o bom marido que consegue escapar da esposa para ir ao bar com os amigos, faz de conta que não é com ele e caminha rapidamente em direção a esquina para desaparecer na curva desta. Quando achar que é hora pra isso, ele irá voltar para dedicar-se à família e a proteção da propriedade privada. Por enquanto precisa de um tempinho só pra ele. Pra mim, Trovão tem uma rotina parecida com a de muita gente por aí, concorda amigo leitor?         

Castanha 29/05/12

4 comentários:

  1. O banal nas mãos de um grande observador é um prato cheio de poesia. Parabéns, Castanha!

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  2. Cara, a pergunta no final é um feixe de raio-x nas nossas neuroses carcomidas. Outra coisa: os "Trovões" são mais desinibidos que os bípedes.

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  3. Falar ou ler sobre animais sempre me traz uma certa nostalgia. Um sorriso ingênuo no canto dos lábios.

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  4. Temos que ser a favor dos direitos humanos/animais, pois, nunca se sabe em que Guantánamo poderemos dar com os costados.

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