O Inconsciente do Olhar I
“A
Tempestade que chega é da cor dos seus olhos, castanhos...”
Era
uma menina lépida, de sorriso fácil e bonachão, com seu rosto rosado que chegou
as raias do absurdo quando começou a usar ruge, excessivo para a sua tez já
rósea, tinha um olhar de peixe vivo morando em água fria. Gostava de andar de
minissaia e chupar pirulitos de morango e falar longamente no celular, como se
fosse um verso daquela canção: “despudorada, dada, a danada agrada andar
seminua.” Isso fazia os testosterona de plantão suar um sol em cada quebrada de
suas ancas.
Hoje
à noite no ponto de ônibus esperando o da minha linha para retornar pra casa,
me deparei com aquele rosto novamente, agora através da janela de um coletivo
que parou rente a mim, aquele olhar de outrora já não existia mais, estava
embotado com alguma coisa desse gênero: “próximo!” ou “qual o seu pedido
senhor!?”. Aquela cútis antes rosada continuava; só que agora com a ruge polida
da rotina. A boca antes vermelha pelos batons e pelo efeito do corante dos
pirulitos de morango, agora se encontrava selada por um silêncio digno do
cansaço das 8:00 às 18:00. Seu corpo antes lépido agora estava afundado em uma
poltrona de engarrafamentos e: “sim senhor!”. E aquele olhar digno de peixe
vivo que morava em água fria hoje era de um dentro do aquário.
Por: Cabotino
Meu querido Cabotino, que texto bonito. Lembrei dos infinitos exemplos que encontramos, em nosso cotidiano,das tantas e tantas pessoas maltratadas pela rotina desse mundo cruel; mundo malvado...
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