O Inconsciente do Olhar I

19.10.12 Cabotino 1 Comentarios



“A Tempestade que chega é da cor dos seus olhos, castanhos...”

Era uma menina lépida, de sorriso fácil e bonachão, com seu rosto rosado que chegou as raias do absurdo quando começou a usar ruge, excessivo para a sua tez já rósea, tinha um olhar de peixe vivo morando em água fria. Gostava de andar de minissaia e chupar pirulitos de morango e falar longamente no celular, como se fosse um verso daquela canção: “despudorada, dada, a danada agrada andar seminua.” Isso fazia os testosterona de plantão suar um sol em cada quebrada de suas ancas.
Hoje à noite no ponto de ônibus esperando o da minha linha para retornar pra casa, me deparei com aquele rosto novamente, agora através da janela de um coletivo que parou rente a mim, aquele olhar de outrora já não existia mais, estava embotado com alguma coisa desse gênero: “próximo!” ou “qual o seu pedido senhor!?”. Aquela cútis antes rosada continuava; só que agora com a ruge polida da rotina. A boca antes vermelha pelos batons e pelo efeito do corante dos pirulitos de morango, agora se encontrava selada por um silêncio digno do cansaço das 8:00 às 18:00. Seu corpo antes lépido agora estava afundado em uma poltrona de engarrafamentos e: “sim senhor!”. E aquele olhar digno de peixe vivo que morava em água fria hoje era de um dentro do aquário.

Por: Cabotino

Um comentário:

  1. Meu querido Cabotino, que texto bonito. Lembrei dos infinitos exemplos que encontramos, em nosso cotidiano,das tantas e tantas pessoas maltratadas pela rotina desse mundo cruel; mundo malvado...

    ResponderExcluir