Crônica do tempo

15.10.12 Castanha 3 Comentarios



Um passo à frente: mais vida sendo gasta; mais vida que fica pra trás. A velha senhora caminhado na calçada, passos lentos, cautelosos, calculados. Um passo mal dado pode derrubá-la. As costas curvadas pelo peso dos anos. O rosto triturado pelo mastigar da velhice. Os cabelos brancos tingidos pelas muitas luas que tiveram sob si aquela cabeça. Um enorme curativo em torno do tornozelo parece que está segurando o pé a panturrilha. As mãos enrugadas, quase apodrecidas, pelo tempo que escorreu impiedosamente por entre os dedos. O que chamamos de tempo é na verdade a própria existência, o construir e destruir que move o universo. Tempo áspero. Não é a toa ser tão difícil esconder os efeitos causados pelo tempo nas mãos, pois é com as mãos que tentamos agarrar a vida movida pelo tempo. Tempo irreversível.
Cada segundo bom ou mal não volta. Viver é a relação agoniada entre perder tudo que se passa e não saber o que está por vir, não estar totalmente à vontade com isso, mas agarrar-se a isso, pois é tudo que se tem. Tudo isso movido pelos insaciáveis ponteiros do tempo. Estes nunca param nem voltam atrás. Cruéis!
Com muito esforço a velha senhora consegue chegar ao portão de sua casa. Os passos dela são agora muito parecidos com os primeiros passos de sua infância, quando era pequenina. Frente ao tempo continua pequenina - todos nós. Na infância os primeiros passos foram como são agora, atentos e sem a certeza de que ira conseguir concluí-los. Antes lhe restava muita vida - esperava-se isso. Agora deve lhe restar bem pouca - quem sabe? O tempo sabe, sabe muita coisa, e o que não responde agora sabe que vai responder no futuro.

Castanha 03/10/2012

3 comentários:

  1. Golaço, Castanha.

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  2. Botou pra fuder Castanha!!! Crônica do tempo é a tautologia que todos nós estamos submetidos.

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