Crônica do tempo
Um passo à
frente: mais vida sendo gasta; mais vida que fica pra trás. A velha senhora
caminhado na calçada, passos lentos, cautelosos, calculados. Um passo mal dado
pode derrubá-la. As costas curvadas pelo peso dos anos. O rosto triturado pelo
mastigar da velhice. Os cabelos brancos tingidos pelas muitas luas que tiveram
sob si aquela cabeça. Um enorme curativo em torno do tornozelo parece que está
segurando o pé a panturrilha. As mãos enrugadas, quase apodrecidas, pelo tempo
que escorreu impiedosamente por entre os dedos. O que chamamos de tempo é na
verdade a própria existência, o construir e destruir que move o universo. Tempo
áspero. Não é a toa ser tão difícil esconder os efeitos causados pelo tempo nas
mãos, pois é com as mãos que tentamos agarrar a vida movida pelo tempo. Tempo
irreversível.
Cada segundo bom
ou mal não volta. Viver é a relação agoniada entre perder tudo que se passa e
não saber o que está por vir, não estar totalmente à vontade com isso, mas
agarrar-se a isso, pois é tudo que se tem. Tudo isso movido pelos insaciáveis
ponteiros do tempo. Estes nunca param nem voltam atrás. Cruéis!
Com muito
esforço a velha senhora consegue chegar ao portão de sua casa. Os passos dela são
agora muito parecidos com os primeiros passos de sua infância, quando era
pequenina. Frente ao tempo continua pequenina - todos nós. Na infância os
primeiros passos foram como são agora, atentos e sem a certeza de que ira conseguir
concluí-los. Antes lhe restava muita vida - esperava-se isso. Agora deve lhe
restar bem pouca - quem sabe? O tempo sabe, sabe muita coisa, e o que não
responde agora sabe que vai responder no futuro.
Golaço, Castanha.
ResponderExcluirValeu meu querido.
ResponderExcluirBotou pra fuder Castanha!!! Crônica do tempo é a tautologia que todos nós estamos submetidos.
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