Na tela prateada da ilusão, vale tudo

26.9.14 Unknown 0 Comentarios


Talvez você, que me ora me lê, seja desse tipo de pessoa que aprecia o dito cinema alternativo, fora do eixo (me refiro ao comercial, claro). Adianto que não tenho nada contra essa postura, antes o contrário, pois há de sempre se valorizar as pessoas com o olhar e o senso muito educado. Mas como dizia um amigo meu, para justificar o seu curioso ecletismo musical, há momento para tudo nessa vida, um que cabe tal tipo de som, outro que comporta ainda um outro, e assim por diante. Tomo de assalto o raciocínio para pô-lo a serviço do meu caso, menos para legitimar um gosto estético contraditório (também não estou seguro de que não o tenha) e mais para reivindicar meu direito à alienação na dita cultura de massa, dessas que são acusadas, não sem razão, de nivelar por baixo e pegar leve com o espectador. O caso é que fui convidado por um amigo para ir ver um filme que, dizia ele, estava arrastando tudo quanto era premiação nos festivais afora e que, não só por isso mas pela história magnífica e comovente, valia demais a pena ir ver. Aceitei inocentemente o convite e lá estava eu, numa tarde ensolarada de sábado, enfiado na tal sessão. Acontece que o filme narrava a história de uma adolescente que foi cooptada para a prostituição; passava uns mal bocados nesse mundo terrível e num dado momento a sua mãe descobre toda a situação. Muito desapontada e decepcionada com com a filha, a primeira (e duradoura) reação da mãe é - tcharam - fazer o tabefe comer no centro. Até aí, eu já tinha vertidos dois rios capibaribes em lágrimas, e deixei escorrer ainda um outro até o final da película. Vejam só, saí de casa como menino novo que vai jogar bola na rua, todo serelepe, afim de ver, tal e qual o Chaves da Vila, o filme do Pelé, e acabei sendo abalado por esta história medonha. Culpa do referido amigo, e só não lhe risquei a faca por consideração mesmo, pra não enfraquecer ainda mais a amizade. Por pouco não cancelei a cerveja e voltei para casa, tamanha foi a melancolia que se abateu sobre minha alma. Pelo saldo quase-negativo do sabadão, foi que eu lhe disse, e agora torno pública a reclamação, que, depois de uma semana inteira de trabalho cansativo, um filminho desses acusados de entorpecer o senso crítico não é assim tão nocivo, há de se saber o momento para cada coisa, etc etc, aquela história que eu já explicitei no início da croniqueta. Dito isto, me despeço imensamente mais aliviado, e aviso, desde já, que o Prosador vai passar uns dias afastados para amenizar o tom ranzinza de seus escritos e pôr a cocão no lugar, enquanto se dedica a outros projetos. Até mais ver, amig@s!

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