Olhos nos olhos quero ver o que você faz...

28.7.13 Mademoiselle Fifi 0 Comentarios



Com seus olhinhos infantis / Como os olhos de um bandido
(C. Veloso_ Esse cara).


Há uma Capitu dentro de nós e Machado também a tinha dentro de si. Ele é o autor que pisca para nós, nos chama e fala: cara leitora.

Pensei no bruxo do Cosme Velho hoje por ocasião deste texto em que, irei narrar o que ocorreu comigo há pouco. 

Pois bem, indo ao Centro do Recife com destino ao ao médico, cometi um deslize que toda mulher herdeira da esposa de Bentinho jamais poderia cometer.

Estava sentada de pernas cruzadas olhando a minha nova sapatilha e perguntando-me, quando irei encontrar uma sapatilha que cubra todos os meus longos dedos, nunca encontro uma em que esconda totalmente os vincos dos meus dedos. Daí comecei a perceber também que a minha depilação das pernas estão vencidas... “Qual parada devo descer no Derby?... Acho que vou comprar alguns destes amendoins etc...”.

Acho que foi em Werneck que ele subiu. Um cara com uma camisa xadrez, calça blue jeans, fones nos ouvidos, tênis casual, rosto lívido envolto em uma barba espessa, olhos grandes, porém apagados, sobrancelhas naturalmente perfeitas, nariz levemente proeminente, cabelo parecido com os de, Jean-Pierre Léaud em Les quatre cents coups (Truffaut, 1959). Não fazia muito meu estilo – prefiro homens com olhares de lince e que tenham sangue em suas presas –, mas era hediondamente bonito.

Sentou, cruzou as pernas e pouso um vago olhar na paisagem da janela como se tivesse recitando uma michá.

Incrivelmente aquele olhar me envolveu. Fiquei tentando imaginar o que estava passando pela cabeça dele e no que ele estava ouvindo, evidentemente, o observava com todo cuidado para não ser indiscreta. Acho que ele é daqueles homens em que, quando marcamos algum compromisso, ele nos pergunta, que dia é hoje? É de acabar com qualquer uma.

Suas mãos deitadas delicadamente em seu regaço, provavelmente pensando em alguém que valia à pena pensar, ao som, acho, de E. Satie, T. Vaselines ou N. Cavaquinho.

Nossa, como aquele olhar lembrava um filme de K. Mizoguchi, todo envolto de névoa e noite. Tão diferente do meu olhar de cigana oblíqua e dissimulada.

Acredito que toda mulher goste de homens resolutos, mas se eles vierem com cara de loser, seria perfeito.

Estava com um semblante tão plácido que, se uma mosca pousasse em seu nariz ele nem sentiria. Uma calma de água parada que desarma qualquer vigilância.

Ele desceu em uma estação antes da minha, acho que em Afogados, e, neste instante, em que caminhava sucintamente como um tigre em direção à rampa de entrada e saída da plataforma, ele olhou de soslaio para mim e captou o meu olhar em sua direção. Ele venceu a luta contra a cara leitora, flagrou o meu olhar no seu.

0 comentários: